📝RESUMO DA MATÉRIA

  • O ginkgo tem sido muito utilizado há séculos como nutracêutico cardiovascular e cerebrovascular
  • O Ginkgo tem se mostrado promissor na recuperação cognitiva se utilizado durante os primeiros dias após a ocorrência de um acidente vascular cerebral
  • Pessoas tratadas com injeções diárias de ginkgo diterpeno lactona meglumina (GDLM) após a ocorrência de um acidente vascular cerebral isquêmico, apresentaram sinais de melhora após 14 dias
  • Se forem confirmados os resultados, as injeções de GDLM poderão se tornar parte do tratamento a função cognitiva após a ocorrência de um acidente vascular cerebral isquêmico
  • O GDLM também é benéfico para prognóstico geral após a ocorrência de um acidente vascular cerebral isquêmico; pessoas tratadas com GDLM e aspirina tiveram um melhor desempenho do que aqueles que receberam apenas aspirina

🩺Por Dr. Mercola

Derivado de uma das árvores mais antigas no mundo, o Ginkgo biloba pode ter características ainda não conhecidas que aumentam a função cognitiva, mesmo após a ocorrência de um acidente vascular cerebral. Nos EUA, a ocorrência de um derrame ocorre em 40 segundos por pessoa. Em 87% desses casos, o acidente vascular cerebral é isquêmico, ou seja, o fluxo de sangue para o cérebro está bloqueado.

Até 60% das pessoas que sobrevivem de AVC sofrem de comprometimento cognitivo pós-AVC (PSCI) dentro de 1 ano, que é considerado algo comum. Embora cerca de 20% dos casos leves tenham solução, até 1/3 pode desenvolver demência nos próximos 5 anos. O Ginkgo tem se mostrado promissor na recuperação cognitiva se utilizado durante os primeiros dias após a ocorrência de um acidente vascular cerebral.

Ginkgo pode ser eficaz na melhora da cognição após a ocorrência de um acidente vascular cerebral

O Ginkgo tem sido há anos muito utilizado como nutracêutico cardiovascular e cerebrovascular em alguns países asiáticos, além de fazer parte da medicina tradicional chinesa. Alguns estudos estão investigando o efeito do composto ginkgo ginkgolide B para a prevenção de doenças cerebrovasculares, como acidente vascular cerebral isquêmico e, além disso, também parece ser útil na recuperação pós-AVC.

Em 2023, pesquisadores do Hospital Tiantan de Pequim da Capital Medical University, revelaram que o tratamento realizado com injeções diárias de ginkgo diterpeno lactona meglumina (GDLM) após acidente vascular cerebral isquêmico mostrou uma melhor recuperação. Os cientistas realizaram um estudo preliminar para analisar a recuperação cognitiva.

O estudo envolvendo 3.163 pessoas que passaram por um AVC que foram tratadas para AVC isquêmico leve a moderado. Cerca de metade deles iniciou o tratamento com injeções diárias de GDLM (25 miligramas (mg)) durante 14 dias, enquanto o restante recebeu injeções de placebo. No início do estudo, a maioria das pessoas que sobreviveram a ocorrência de um AVC mostrava um comprometimento cognitivo moderado, com uma pontuação média entre 17 e 30.

Mas no dia 14, os que receberam GDLM, uma combinação de compostos biologicamente ativos no ginkgo, apresentaram sinais de melhoria, com pontuações cognitivas uma média de 3,93 pontos mais elevadas, comparados com 3,62 pontos no grupo do placebo. Após 90 dias, ainda apresentavam melhorias, com os grupos de ginkgo apresentando uma média de 5,51 pontos, comparados com 5,04 pontos no grupo de controle.

“A proporção de pacientes que atingiram um nível significativo de melhora foi 20% maior no grupo GDLM, indicando que o tratamento com injeções de GDLM podem ser benéfico para a função cognitiva em pacientes com acidente vascular cerebral isquêmico agudo,” disse o autor do estudo, Anxin Wang, em um comunicado à imprensa. “Pelo tempo de acompanhamento do estudo ser de apenas 90 dias, o efeito das injeções de GDLM necessita de uma investigação a longo prazo.”

Caso a pesquisa da International Stroke Conference 2024 da American Stroke Association, seja confirmada em ensaios futuros, as injeções de GDLM poderão se tornar parte do tratamento para a função cognitiva após a ocorrência de um acidente vascular cerebral isquêmico. Quanto a forma que funciona, Wang disse:

“O GDLM apresentou um efeito neuroprotetor por diversos mecanismos, como a expansão dos vasos sanguíneos cerebrais, melhoria da tolerância das células cerebrais à hipóxia (oxigênio inadequado) e o aumento do fluxo sanguíneo cerebral. Além disso, o GDLM também possui propriedades neuroprotetoras de antioxidante, anti-inflamatória e antiapoptose (morte celular).
Segundo alguns estudos laboratoriais, o GDLM pode promover a secreção de substâncias químicas associadas à prevenção de doenças neurodegenerativas, como o mal de Parkinson e o Alzheimer.”

O GDLM também é benéfico para prognóstico geral após a ocorrência de um acidente vascular cerebral isquêmico. Em um estudo com 70 pacientes apresentando AVC isquêmico agudo (EIA), os que foram tratados com GDLM e aspirina tiveram um melhor desempenho do que aqueles que receberam apenas aspirina. Segundo os pesquisadores, “O GDLI [injeção de ginkgo diterpeno lactona meglumina] apresenta efeito antiplaquetário, podendo melhorar o prognóstico de pacientes com AVC.”

O ginkgo apresenta efeitos neuroprotetores impressionantes

O ginkgo perde todas as suas folhas em apenas um dia. A ginkgetina é o primeiro bioflavonoide isolado, derivado das folhas amarelas do ginkgo. Os bioflavonoides são conhecidos por suas propriedades terapêuticas contra doenças neurodegenerativas, assim como a ginkgetina. Segundo uma revisão do potencial neuroprotetor da ginkgetina, publicada na Life (Basel):

“A ginkgetina é um composto do ginkgo, que o extrato padronizado (EGb 761) tem sido utilizado há muitos anos como forma de tratamento e prevenção do comprometimento cognitivo. O extrato de Ginkgo pode ser eficaz contra a perda de memória de pessoas com Alzheimer, em geral, uma dose de 240 mg ou mais por dia é o suficiente e, além disso, também pode ter efeitos benéficos no tratamento contra Parkinson.”

Em estudos realizados com animais, a ginkgetina também se mostrou eficaz contra lesões neuronais causadas pela ocorrência de acidente vascular cerebral isquêmico, além de ser benéfica contra algumas doenças neurodegenerativas. Também protege o cérebro contra a toxicidade do alumínio, que tem um papel na progressão de doenças neurodegenerativas.

Em um estudo realizado com animais da revista Nutrition, foi demonstrado que o ginkgo biloba pode ajudar contra o estresse oxidativo e algumas das alterações dos neurotransmissores induzidas pelo cloreto de alumínio. Foi observado um aumento significativo na substância reativa ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) em ratos que receberam cloreto de alumínio, sinalizando danos causados pelo estresse oxidativo.

Em contraste, os ratos que receberam ginkgo biloba e cloreto de alumínio apresentaram TBARS mais baixos e mais antioxidantes catalase, glutationa e superóxido dismutase no tecido cerebral e testicular. A investigação demonstra que o ginkgo biloba pode ser eficaz na proteção dos neurônios cerebrais dos ratos contra o estresse oxidativo provocado pela ingestão de cloreto de alumínio, devido às suas propriedades antioxidantes:

“O extrato feito com folhas de Ginkgo biloba (EGb 761) apresenta propriedades antioxidantes, que podem eliminar radicais livres que aumentam os antioxidantes endógenos e inibem a formação de mais radicais. O extrato de Ginkgo biloba (GbE) também é utilizado para o tratamento de distúrbios cerebrais decorrentes do envelhecimento e da hipóxia [baixo oxigênio].
Além disso, os benefícios do Ginkgo biloba baseiam-se na sua ação primária de regular os neurotransmissores e exercer efeitos neuroprotetores."

Outros benefícios do ginkgo:

  • Inicia a captação sinaptosomal de dopamina — Essas ações podem melhorar a função cognitiva e a 5-hidroxitriptamina (serotonina), um neurotransmissor conhecido por mobilizar o cérebro e o corpo para a ação, o que está relacionado a efeitos positivos na cognição e na atenção.
  • Inibe a ativação de plaquetas — Esse fator impede a coagulação do sangue, além de evitar a formação de placas no interior das paredes arteriais.
  • Aumenta a produção de óxido nítrico (NO) nos vasos sanguíneos — Isso promove a função endotelial saudável e subsequentes efeitos positivos no sangue periférico e cerebral. 

Quercetina — outro composto natural que possui benefícios para o AVC

A natureza está possui diversos compostos benéficos para a saúde, sendo o ginkgo apenas um deles. Outro composto importante é a quercetina, um dos mais de 4.000 flavonoides conhecidos que contribuem para o amargor, a adstringência, sabor, aroma e a estabilidade oxidativa de diversas frutas e vegetais.

Recomendo a quercetina em momentos que sinta que está para pegar algo como um resfriado ou gripe, por exemplo. Outro benefício da quercetina, é o seu potencial de reduzir os níveis de ácido úrico, cujos níveis elevados estão ligados a um maior risco de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais, além de resistência à insulina, gota e a diabetes tipo 2. Dr. David Perlmutter disse ao Yahoo:

“Uma vez que há muito que podemos fazer para controlar os nossos níveis de ácido úrico, esta nova compreensão sobre o papel que ele desempenha no acidente vascular cerebral é realmente encorajadora, embora saibamos há décadas como o ácido úrico aumenta o risco de gota. O nutriente quercetina pode reduzir os níveis de ácido úrico e, o que também já foi demonstrado por algumas pesquisas.”

A quercetina também traz melhoras para a síndrome metabólica, diversas condições (como pressão alta, açúcar elevado no sangue, níveis elevados de triglicerídeos e acúmulo de gordura na cintura) que aumentam o risco de diabetes tipo 2, doenças cardíacas e derrame. Estudos epidemiológicos também associam a quercetina a um menor risco de doença coronariana e acidente vascular cerebral.

Quais fatores podem aumentar o risco de AVC?

A prevenção é a principal chave, por isso é importante observar alguns dos gatilhos do AVC. A hipertensão arterial é a maior causa, que aumenta o risco de acidente vascular cerebral de 2 a 4 vezes. Além disso, a quercetina também é útil, pois ajudar na redução da pressão arterial.

O estresse também aumenta o risco de ataque cardíaco e derrame, provocando hiperatividade na amígdala. Essa região do cérebro, que possui um formato de amêndoa, é localizada no lobo temporal e é ativada em resposta a ameaças reais e percebidas.

A conclusão dos investigadores foi de que as pessoas com maior atividade na amígdala apresentavam um maior risco de apresentar um evento cardíaco, como um ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou angina (dor no peito). Parece haver uma correlação significativa entre a atividade da amígdala e a inflamação arterial (que é um fator de risco para ataque cardíaco e acidente vascular cerebral).

Outro culpado pode ser os fatores ambientais, como a exposição ao radônio, por exemplo. Em um estudo com 158.910 mulheres, aquelas que tiveram uma maior exposição ao radônio apresentaram um risco 14% maior de acidente vascular cerebral, comparadas com as do grupo de menor exposição. Até aquelas do grupo de exposição média tiveram um maior risco de 6%.

Outro fator que pode contribuir é o sono. A maioria dos derrames ocorre nas primeiras horas do dia, sendo o período durante o sono em que os padrões de pressão arterial caem e aumentam durante a manhã. Segundo pesquisadores na revista Frontiers in Neurology, “foi sugerido que esse aumento matinal da pressão arterial pode aumentar eventos cardiovasculares e cerebrovasculares durante a manhã, rompendo placas vulneráveis, levando à ruptura e trombose.”

A duração do sono também está associada ao aumento do risco de pressão alta, um fator de risco importante para o AVC. Segundo um estudo, dormir menos de 7 horas ou mais de 8 horas por noite está ligado a um aumento do risco de pressão alta.

O sono interrompido, como interrupções devido à apneia do sono ou por movimentos dos braços e pernas durante o sono, também pode elevar o risco de AVC, conforme observado no Journal of Stroke, talvez por causar um estresse adicional ao sistema cardiovascular:

“Qualquer causa de redução ou fragmentação do sono, como restrição do sono, apneia do sono, insônia, movimentos periódicos durante o sono e trabalho por turnos, são prejudiciais tanto para a restauração cardiovascular, quanto paro o estresse ao sistema cardiovascular. Foi relatado que os distúrbios do sono possuem uma função no desenvolvimento de acidente vascular cerebral e outros distúrbios cardiovasculares.”

O ginkgo pode ser uma erva benéfica para a função cognitiva e para a recuperação do AVC, mas certifique-se de seguir um estilo de vida anti-AVC para que possa reduzir os riscos, que inclui exercícios regulares, movimentos diários, sono adequado com alta qualidade, controle do estresse e prevenção de fatores contribuintes, como adoçantes artificiais, estatinas, terapia de reposição hormonal e pílulas anticoncepcionais.