RESUMO DA MATÉRIA

  • Seus rins diminuem a carga de ácido corporal. À medida que a insuficiência renal progride, o ácido tende a se acumular em seu sistema, provocando graves danos
  • Uma dieta rica em ácidos pode deteriorar a função renal e acelerar a progressão da doença renal
  • Qualquer dieta rica em frutas e vegetais, com poucas quantidades ou desprovida de alimentos processados e laticínios terá menos ácido
  • Qualquer coisa que ajude a melhorar o diabetes também melhorará a saúde dos rins. Isso inclui jejum ou alimentação com restrição de tempo e exercícios
  • Dietas ricas em proteínas também podem danificar seus rins, devido à amônia gerada. Para proteger sua saúde renal ao realizar uma dieta rica em proteínas, adicione mais frutas e vegetais para amortecer o ácido criado

Por Dr. Mercola

Nesse artigo, a Dra. Lynda Frassetto, nefrologista e professora emérita do departamento de medicina da University of California San Francisco (UCSF), compartilha informações importantes à respeito de como o ácido em sua dieta afeta a saúde renal e a longevidade.

"Quando eu estava no treinamento de medicina interna, tive um super mentor, Dr. Eli Friedman, na State University of New York (SUNY) no Brooklyn," diz Frassetto. "Ele fez a nefrologia parecer de fato interessante.
E então, depois que terminei minha residência, decidi voltar e fazer nefrologia, porque as pessoas que fizeram nefrologia possuem uma compreensão melhor da fisiologia do que a maioria dos internistas.
Achei que isso ajudaria a me tornar um médico melhor. Depois que terminei minha bolsa, comecei a trabalhar com Anthony Sebastian aqui na UCSF. Ele estava interessado na carga ácida da dieta em pessoas de certo modo saudáveis.
Os rins fazem muitas coisas. Uma das coisas que eles fazem é se livrar do ácido. Sabemos que, à medida que a insuficiência renal progride, você tem dificuldade para se livrar do ácido. Ele se acumula em seu sistema e tem muitos efeitos colaterais ruins.
Também sabemos que, à medida que você envelhece, seus rins tendem a não funcionar tão bem. O que Tony estava olhando era, em pessoas mais velhas e saudáveis, cujos rins não estão funcionando tão bem quanto, digamos, 40 ou 50 anos antes, realizar uma dieta rica em ácidos tem algum efeito colateral em potencial?”

Dietas com baixo teor de ácidos como meio de proteger a função renal

Nos estágios iniciais de seu trabalho, Frassetto e Sebastian trabalharam na neutralização do ácido na dieta utilizando bicarbonato. Então, há pouco mais de uma década, eles começaram a procurar dietas com baixo teor de ácido. Enquanto todos os alimentos possuem precursores que podem ser metabolizados em ácidos, frutas e vegetais contêm muitos precursores alcalinos que são metabolizados em bicarbonato, como citrato ou malato.

O interesse de Frassetto em dietas com baixo teor de ácido começou com a dieta paleo, promovida por Loren Cordain, Ph.D. Segundo Cordain, muitos alimentos em nossa dieta moderna não estavam disponíveis para nossos ancestrais, como grãos processados e açúcares.

Ele acreditava que uma dieta mais próxima de nossa dieta ancestral seria mais saudável, e uma das razões para isso é porque qualquer dieta rica em frutas e vegetais (e desprovida de alimentos processados) terá menos ácido. Conforme explica Frassetto:

"Se você olhar para qualquer grande população e apenas observar a função renal média ao longo do tempo, de certo modo, a função renal de todos diminui. Mas se você observar indivíduos específicos, a função renal diminui de maneira muito mais lenta ou pode até se estabilizar.
A questão é: 'Qual a relação disso com uma dieta contendo poucas quantidades de ácidos ou fazer coisas que não incomodariam seus rins?' Na verdade, isso foi analisado pelo Dr. Donald Wesson, um nefrologista da Universidade do Texas (UT) Southwestern.
Ele examinou suplementos alcalinizados e dietas com frutas e vegetais em pessoas com doença renal em estágio 2, com uma taxa de filtração glomerular (GFR) estimada entre 60 e 90, e doença renal crônica (DRC) em estágio 3, que tem uma TFG estimada de 30 a 60.
[GFR é] uma estimativa da função renal. Portanto, se você tem 50 anos, sua TFG é de cerca de 90. Se você tem 80 anos, sua TFG é de cerca de 60. Em média, as pessoas mais velhas terão … Estágio 2 ou Estágio 3 da DRC.
Wesson mostrou que nessas pessoas, se você lhes der suplementos alcalinizados, como bicarbonato de sódio, ou colocá-los em uma dieta com mais frutas e vegetais, poderá diminuir a taxa de declínio...
Se você extrapolar isso de pessoas com insuficiência renal para apenas pessoas mais velhas, a ideia seria que, talvez, você possa diminuir a taxa de declínio de sua função renal, mesmo esteja saudável e envelhecendo. Essa é a ideia.
Tudo o que você faz, está relacionado com a função renal em algum grau. Porque os rins se livram de muitas coisas. Quanto pior os rins funcionarem, pior tudo vai funcionar."

O jejum também protege a função renal

Segundo Frassetto, a maioria das doenças renais nos países ocidentais são doenças renais mais avançadas causadas por pressão alta e diabetes tipo 2. Dos pacientes, 3/4 em diálise estão lá devido a pressão alta e diabetes. Portanto, em última análise, qualquer coisa que ajude a melhorar a diabetes e a pressão alta também melhorará a saúde renal.

Uma estratégia conhecida por reduzir de maneira significativa o risco de diabetes tipo 2 é o jejum, incluindo alimentação com restrição de tempo. Eu já entrevistei o Dr. Jason Fung, um nefrologista no Canadá, que faz uso do Jejum para reverter diabetesem seus pacientes. O exercício é mais uma estratégia que reduzirá o risco de diabetes, protegendo assim, a saúde dos rins.

Ácido X Proteína

O ácido não é a única coisa que pode danificar seus rins. Dietas ricas em proteínas também podem causar danos, devido à amônia gerada. Quanto ao que pode ser pior para você, elevado teor de ácido ou alto teor de proteína, Frassetto explica:

"Todas as proteínas possuem precursores ácidos. Se você está consumindo uma alta carga de proteína e não tem álcali suficiente para ajudar os rins a tamponar ou se livrar do ácido, isso é ruim para os rins. Mas você precisa consumir uma certa quantidade de proteína ou terá problemas para construir coisas também.
Essa é de fato uma questão de equilíbrio. Não é que a proteína seja ruim. É que, se você está consumindo muita proteína, também deve ingerir muito álcali. Isso vai ter ajudar a não utilizar os sistemas do corpo para neutralizar ou tamponar o ácido em seu sistema. A ideia é que você queira manter o pH do sangue dentro da faixa considerada normal.
Para fazer isso, você move o ácido dentro das células, quebra os músculos para fornecer glutamina, em última análise, aos rins, para excretar o ácido como amônio. Você também quebra seu osso, que é a hidroxiapatita de cálcio, que é o álcali.
Ou você deve reduzir a quantidade de ácidos endógenos que produz para poder manter o pH do sangue. O organismo tem diversas maneiras para lidar com os ácidos dos quais o rim precisa se livrar.
Então, se você está fornecendo ao corpo álcali exógeno, o que significa que você ingeri bicarbonato ou consome muitas frutas e vegetais, não precisa quebrar seus ossos e músculos para poder neutralizar o ácido em seu sistema...
Os íons de hidrogênio são equilibrados no nível de 10-9, que é um nível muito baixo de íons de hidrogênio livres no corpo. E as mudanças que você pode fazer sem sair do normal e ficar doente não são muito grandes.
Existe apenas algumas coisas que você pode fazer aqui. Ou você vai quebrar os sistemas do seu corpo ou você [precisa] fornecer um álcali exógeno."

Pacientes com doença renal avançada recebem álcali exógeno, de certo modo, uma combinação de bicarbonato de sódio e citrato de sódio, já que foi demonstrado que retarda o avanço da doença e atrasa a necessidade de diálise. O citrato de sódio também reduzirá o risco de cálculos renais.

O bicarbonato de potássio não deve ser utilizado quando você tem doença renal. A razão para isso é que, quando você tem insuficiência renal, o potássio pode se acumular em níveis letais. O controle da pressão arterial e do diabetes também é importante quando se tem doença renal, assim como o controle da proteinúria (danos à barreira glomerular).

Como o Klotho beneficia a função renal

A proteína klotho é útil para livrar seu corpo de fosfato, e o fosfato é outro ácido que deve ser excretado pelos rins. É curioso o fato de que, os animais transgênicos que foram geneticamente modificados para superexpressar o gene klotho também vivem 10% a 40% mais.

Klotho é um transportador de membrana e uma proteína solúvel. Quando você faz uma dieta rica em fosfato, libera o fator de crescimento de fibroblastos 23 (FGF23), que se liga ao klotho como um cofator e depois vai para os rins, onde remove os transportadores que permitem que os rins reabsorvam o fosfato. Isso ajuda a manter um equilíbrio normal de fosfato.

No entanto, com a idade e o declínio da função renal, você precisa de mais e mais FGF23 para se livrar do fosfato. O FGF23 também impede as ações da 1-alfa hidroxilase, uma enzima necessária para a ativação da vitamina D, e a vitamina D é necessária para a produção de klotho.

Assim, à medida que você envelhece e continua consumindo uma dieta rica em fosfato (o que é fácil, já que o fosfato está na maioria dos alimentos), seu FGF23 aumenta enquanto seus níveis de vitamina D e klotho diminuem. Como resultado, seus rins começam a reabsorver mais fosfato, incorrendo assim em mais e mais danos.

A resposta, então, não é apenas uma dieta com poucas quantidades de ácidos. Você também quer que sua dieta seja de fato baixa em quantidades de fosfato. O que é uma dieta rica em fosfato? Frassetto explica:

"Em primeiro lugar, produtos lácteos. Todos os produtos lácteos possuem 4 fatores: cálcio, fósforo, proteína e gordura … Portanto, para pacientes com insuficiência renal, de certo modo, eliminamos os produtos lácteos.
E então colas. Eles adicionam ácido fosfatídico a muitas coisas, incluindo refrigerantes. Tentamos fazer com que as pessoas não consumam alimentos que contenham ácido fosfatídico. E depois existem alguns outros alimentos específicos, como chocolate e nozes, que dizemos às pessoas com insuficiência renal avançada para evitar... Os feijões são outra fonte elevada de fosfato."

Avaliando sua função renal

Para ter uma ideia de quão bem seus rins estão funcionando, você deve começar com um painel renal. Isso vai fornecer seu nível de nitrogênio ureico no sangue e creatinina sérica. Sua GFR é então calculada com base em seu sexo, idade, raça e nível de creatinina sérica. Com base nos resultados do seu painel renal, outros testes podem ser prudentes.

"Em termos de olhar apenas para a saúde renal, existem duas coisas que devemos observar,"diz Frassetto. "A primeira é o número [estimado] da TFG. A segunda é: 'Você tem alguma proteína na urina?' Esses podem ser 2 problemas separados. A proteína na urina, por si só, é ruim para a função renal…
Isso foi descoberto há muitos anos pelo Dr. Barry Brenner. Ele fez cinco/seis nefrectomias em ratos (de modo que restava apenas uma pequena parte de um rim) e mostrou que o rim restante, o chamado néfron remanescente, teve que hiperfiltrar para poder limpar todo o sangue. Essa hiperfiltração através da membrana glomerular era ruim para a membrana, então a membrana começou a vazar proteínas e os rins falharam mais de maneira mais rápida.
Então, agora sabemos que existe uma série de problemas renais em que a membrana está vazando proteína. Isso faz com que o rim fique mais danificado.
Se você tivesse que fazer apenas 2 coisas para ver como está saudável, a primeira seria um exame de sangue para ver onde está a função renal. A segunda é fazer um exame de urina. Quase sempre que você resolve realizar exames, esses são os dois testes que eles costumam fazer."

Estresse Acidótico

Embora a maioria das pessoas esteja familiarizada com o estresse oxidativo, o estresse acidótico é outro tipo que pode afetar sua saúde de maneira significativa. Frassetto acredita que ambos são importantes, sobretudo se tratando de doenças renais. O estresse acidótico também desempenha um papel no envelhecimento.

"Uma amiga minha chamada Dra. Elissa Epel analisou a relação entre o comprimento dos telômeros, a atividade da telomerase e o estresse oxidativo. [Ela] mostrou que pessoas sob muito estresse psicológico possuem telômeros mais curtos e função anormal da telomerase.
Eles possuem níveis mais elevados de estresse oxidativo. Acontece que fiz mais pesquisas sobre [estresse acidótico], mas, na verdade, acho que é uma combinação de ambos,"diz Frassetto. "Portanto, a ideia seria diminuir a quantidade de estresse oxidativo e reduzir a quantidade de estresse acidótico e, portanto, limitar os danos ao corpo."