A tinta de tatuagem pode causar falência de órgãos e alergias

📝RESUMO DA MATÉRIA

• Pesquisadores da Universidade de Binghamton, em Nova York, analisaram 54 tintas de tatuagem de nove marcas diferentes, comuns nos EUA
• Dentre elas, 45 continham aditivos e/ou pigmentos que não estavam listados
• Mais da metade das tintas continha polietilenoglicol (PEG), que pode causar danos aos órgãos
• Quinze das tintas de tatuagem analisadas continham propilenoglicol, um alérgeno potencial que poderia causar problemas de saúde devido à absorção sistêmica
• A maioria dos perigos das tintas de tatuagem vem dos óxidos de ferro, que podem causar altos níveis de ferro; a maneira mais eficaz de reduzir o ferro é doar sangue duas a quatro vezes por ano

🩺Por Dr. Mercola

32% dos adultos têm tatuagem. Dentre eles, 22% possuem mais de uma. Na maioria dos casos (69%), as pessoas fazem tatuagens para lembrar ou homenagear uma pessoa ou evento, enquanto 47% fazem tatuagens para expressar algo em que acreditam. Outros 32% dos americanos entrevistados disseram que fizeram tatuagens para melhorar sua aparência pessoal.

Mas o que muitos não consideram é que as tatuagens podem ter um efeito negativo na saúde física, devido aos adulterantes encontrados na tinta das tatuagens. Em resumo, essa forma de expressão pessoal tem um preço, que pode ser tão alto quanto danos nos órgãos ou reações alérgicas.

Análise revela adulterantes que podem ser tóxicos em 83% das tintas de tatuagem

Pesquisadores da Universidade de Binghamton, em Nova York, analisaram 54 tintas de tatuagem de nove marcas diferentes, comuns nos EUA. Dentre elas, 45 continham aditivos e/ou pigmentos que não estavam listados. Mais da metade das tintas continha polietilenoglicol (PEG), um polímero sintético solúvel em água usado em uma variedade de produtos, incluindo produtos farmacêuticos, cosméticos e itens de higiene pessoal.

Na tinta de tatuagem, o PEG pode atuar como solvente ou transportador do pigmento, ajudando a manter a consistência da tinta. Porém, o PEG “pode causar danos aos órgãos através da exposição repetida”, observou um comunicado de imprensa da Universidade de Binghamton. A reação alérgica ao PEG é outro risco, com sintomas que variam desde irritações leves na pele até respostas mais graves, como anafilaxia.

Outra preocupação com a saúde em relação ao PEG nas tintas de tatuagem é o seu papel potencial na absorção e distribuição sistêmica, gerando dúvidas sobre o impacto dessas substâncias a longo prazo nos sistemas do corpo. A ruptura da barreira cutânea durante a tatuagem poderia aumentar o risco de exposição sistêmica.

“Os pigmentos podem se acumular nos gânglios linfáticos ou em outros órgãos, pois estão em contato direto com o tecido da pele e o sistema linfático”, explicaram os pesquisadores no Chemical Research in Toxicology.

Além disso, 15 das tintas de tatuagem analisadas continham propilenoglicol, outro alérgeno potencial que poderia causar problemas adicionais devido à absorção sistêmica. “Outros contaminantes incluíam um antibiótico usado com frequência para tratar infecções do trato urinário e 2-fenoxietanol, que representa riscos potenciais à saúde de lactentes”, informou o comunicado à imprensa.

Não se sabe se os contaminantes foram adicionados de forma intencional ou se são resultado de materiais contaminados ou rotulagem incorreta.

Vale tudo no mercado de tintas para tatuagem

A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA considera as tintas e pigmentos usados ​​em tatuagens como cosméticos, o que significa que há pouca supervisão, assim como a maior parte do mercado de cosméticos. A FDA até observa que muitos pigmentos usados ​​em tintas de tatuagem são cores de grau industrial adequadas para tinta de impressora ou tinta automotiva, não aprovadas em específico para contato com a pele.

No final de 2022, o Congresso aprovou a Lei de Regulamentação da Modernização de Cosméticos (MoCRA), que permitiu ao FDA regulamentar as tintas para tatuagens. “A FDA ainda está decidindo como será isso e acreditamos que este estudo influenciará as discussões em torno da MoCRA”, disse Swierk, acrescentando:

“Este é também o primeiro estudo a analisar de forma explícita as tintas vendidas nos Estados Unidos e é provável que seja o estudo mais abrangente porque analisa os pigmentos, que em geral permanecem na pele, e a embalagem transportadora, que é onde o pigmento está suspenso".

O estudo apresentado incluiu apenas adulterantes em altas concentrações de 2.000 partes por milhão (ppm) ou mais. Na Europa, onde as tintas de tatuagem são regulamentadas de forma mais rigorosa, as substâncias são consideradas na faixa de 2 ppm. Em estudos futuros, os pesquisadores planejam verificar se pigmentos proibidos na Europa estão presentes nas tintas de tatuagem dos EUA.

“Nosso objetivo em muitas dessas pesquisas é capacitar artistas e seus clientes. Os tatuadores são profissionais sérios que dedicaram suas vidas a este ofício e desejam os melhores resultados possíveis para seus clientes", disse Swierk. “Estamos tentando destacar que existem algumas deficiências na fabricação e rotulagem”.

Mesmo na União Europeia, uma pesquisa separada descobriu que 93% das tintas de tatuagem testadas violavam os requisitos legais europeus de rotulagem. Embora 50% das tintas listassem de forma incorreta pelo menos um ingrediente de pigmento, 61% continham pigmentos preocupantes, sendo as tintas vermelhas as mais problemáticas.

Além disso, resíduos de tinta de tatuagem – inclusive  partículas de acrilonitrila butadieno estireno – são uma fonte de poluição por partículas plásticas detectada no sangue humano.

A maior parte do perigo nas tintas de tatuagem vem do ferro

Os metais também são comuns na tinta de tatuagem, e um estudo descobriu que o ferro, alumínio, titânio e cobre eram os mais abundantes.

Os óxidos de ferro, compostos formados por ferro e oxigênio, são utilizados como pigmentos em tintas de tatuagem devido à sua estabilidade e tonalidades vibrantes. Eles variam de cor dependendo da composição química e estrutura específica. Por exemplo, o óxido de ferro preto é usado para criar tintas pretas, enquanto o óxido de ferro vermelho é usado para tintas vermelhas.

Embora seja sugerido com frequência que os óxidos de ferro na tinta de tatuagem sejam seguros, um relato de caso publicado na revista Virulence mostrou que as tatuagens podem levar a níveis elevados de ferro no sangue. O estudo relatou o caso de uma jovem com anemia profunda cujos níveis séricos de ferro estavam elevados sem nenhuma explicação:

"O elevado nível de ferro sérico da paciente não tinha uma explicação completa até que a examinamos e notamos uma grande tatuagem preta na área do flanco esquerdo. Parece que o óxido de ferro na tinta usada para a tatuagem foi absorvido através da pele, o que levou a altos níveis de ferro sérico apesar dos outros dados, que sugeriram deficiência de ferro... Acreditamos que este relato de caso ... ilustra a toxicidade potencial da tinta de tatuagem".

Níveis elevados de ferro são prejudiciais à saúde

Como seu corpo tem uma capacidade limitada de excretar o ferro, ele pode se acumular de maneira fácil em órgãos como o fígado, coração e pâncreas. Isso é perigoso, pois o ferro é um poderoso oxidante, que pode danificar seus tecidos e contribuir para uma variedade de problemas de saúde, incluindo o câncer. Os pesquisadores de Toxicologia Química, da Universidade Ege na Turquia, explicaram:

"Nas tintas de tatuagem, o Fe [ferro] forma vermelho (Fe₂O₃), preto (Fe₃O₄), amarelo (FeOOH) e marrom (mistura de óxido de ferro) em diferentes fórmulas. O óxido de ferro é um escurecedor conhecido usado em tintas de tatuagem. Esses óxidos de ferro estão presentes em tintas inorgânicas, embora em pequenas quantidades. É observado que ele reage com O₂ [oxigênio] e H₂O [água] e se transforma em diferentes sais.

A formação de óxido de ferro tem sido associada a efeitos deletérios significativos, como inflamação, apoptose, perturbação da função mitocondrial, alterações na membrana, formação de espécies reativas de oxigênio, aumento da indução de micronúcleos e condensação cromossômica, dependendo da concentração, tempo de exposição e tipo de célula”.

Além disso, o acúmulo de ferro desses óxidos pode reduzir os níveis de glutationa nos tecidos cerebrais, levando ao estresse oxidativo – uma condição em que moléculas prejudiciais causam danos às células. Estudos também mostraram que o acúmulo de ferro pode levar a um aumento na oxidação lipídica prejudicial nas células.

Da mesma forma, as nanopartículas de óxido de ferro podem danificar as membranas das células endoteliais do cérebro de ratos, gerando espécies reativas de oxigênio (ROS), moléculas prejudiciais que podem causar danos significativos às estruturas celulares.

A ferritina elevada, uma proteína que é a molécula transportadora do ferro, também está ligada a um risco 2,9 vezes maior de morte por câncer, e os doadores de sangue demonstraram ter uma probabilidade menor de desenvolver certos tipos de câncer do que os não doadores.

Ferritina elevada também tem sido associada ao metabolismo disfuncional da glicose, aumentando o risco de diabetes quase 5 vezes em homens e 4 vezes em mulheres. A ferritina elevada também aumenta o risco de síndrome metabólica, uma condição associada a um risco aumentado de pressão alta, doenças hepáticas e cardíacas e resistência à insulina.

De acordo com uma pesquisa publicada em 2018, o acúmulo de ferro também tem um tipo de “efeito enferrujado” no cérebro e é comum na maioria dos pacientes com Alzheimer.

Suspeito que o alto teor de ferro possa ser um catalisador quando se trata de câncer de pele, junto com a ingestão elevada de ácido linoleico (LA). O LA é oxidado pelo ferro, criando algo chamado lipofuscina, que é basicamente ferro ligado ao LA oxidado. Um termo mais comum para lipofuscina é pigmento da idade. Portanto, o pigmento da idade é uma representação dérmica do dano oxidativo ao LA pelo alto teor de ferro.

A maneira mais eficaz de reduzir seus níveis de ferro

A chave para evitar os riscos à saúde associados às tatuagens é, em primeiro lugar, não fazê-las. Mas se você já tem tatuagens, existem medidas que você pode tomar para ajudar a mitigar os riscos da exposição ao ferro.

A maneira mais eficaz de diminuir o ferro é doar sangue duas a quatro vezes por ano. Se perder 10% do seu sangue de uma só vez for problemático, você pode remover sangue em quantidades menores uma vez por mês, conforme o cronograma listado abaixo. Caso tenha insuficiência cardíaca congestiva ou DPOC grave, você deve discutir isso com seu médico, mas, caso contrário, esta é uma recomendação bastante apropriada para a maioria.

Christy Sutton, D.C., é autora de dois livros, "Testes genéticos: definindo seu caminho para um plano de saúde personalizado: uma abordagem integrativa para otimizar a saúde," e "A maldição do ferro: seu médico está deixando o alto teor de ferro destruir sua saúde? " Em nossa entrevista, ela analisa os perigos do excesso de ferro e também recomenda estratégias adicionais para reduzir os níveis de ferro. Um deles é o suplemento de curcumina.

“Clinicamente, tenho observado a capacidade da curcumina de reduzir o ferro quase ao extremo”, diz ela. "... para pessoas com alto teor de ferro ou inflamadas com alto teor de ferro e ferritina, esse é um ótimo ponto de partida, pois a curcumina se liga ao ferro. Ele também tem outras propriedades maravilhosas benéficas para a saúde. Ela é tão boa para o cérebro – na verdade, ela ajuda a remover o excesso de ferro do cérebro e de outros órgãos, como coração, fígado e baço.”

Sutton também recomenda tomar curcumina com refeições ricas em ferro, como marisco ou carne vermelha, para inibir a absorção de ferro.Outros suplementos que ajudam a ligar o ferro incluem a silimarina, um extrato de cardo-mariano. Ela reduz o ferro e ajuda a proteger e reparar o fígado. Outra substância que se liga e reduz o ferro é o ácido alfalipóico.

Você pode verificar seus níveis de ferro utilizando um simples exame de sangue chamado teste de ferritina sérica.Acredito que seja um dos exames mais importantes e que todo mundo deveria fazer de forma regular, como medida preventiva e proativa para a saúde. No entanto, se você tiver tatuagens, este teste pode ser ainda mais importante. Além do exame de ferritina, o exame gama glutamil transferase (GGT) também pode ser utilizado como um marcador de triagem para excesso de ferro livre.

Sutton recomenda manter a ferritina abaixo de 100 nanogramas por mililitro (ng/ml).A ferritina acima de 100 ng/ml significa que você está inflamado, tem alto teor de ferro ou ambos. Estudos citados no livro de Sutton sugerem que qualquer coisa acima de 200 é patológica. Quanto maior o nível de ferritina, menor será a sua expectativa de vida. Também é mais provável que você morra de ataque cardíaco e câncer. Lembre-se, se o seu nível de ferro estiver alto, doar sangue duas a quatro vezes por ano é uma forma eficaz de reduzi-lo.