📝RESUMO DA MATÉRIA

  • A conexão do nervo vago com o coração pode ser responsável pelo desmaio das pessoas
  • O coração transmite sinais ao cérebro através do nervo vago, e uma interrupção nesses sinais pode ser o causador do desmaio
  • A disfunção autonômica é comum em pacientes com COVID, incluindo sintomas como tonturas e desmaios, e é possível que a COVID-19 possa influenciar os sinais que passam pelo nervo vago
  • Uma interrupção no fluxo sanguíneo de apenas alguns segundos é suficiente para provocar desmaios ou perda de consciência
  • Caso sinta tonturas, vertigens e umidade, e sua visão ficar embaçada ou cheia de manchas, sente-se ou deite-se no mesmo momento; isso reduzirá suas chances de se machucar ao cair, e a posição horizontal ajuda a fazer o sangue fluir para sua cabeça

🩺Por Dr. Mercola

Cerca de 40% das pessoas sofrem desmaio em algum momento da vida. Embora a experiência possa ser uma surpresa e possa ser indicativa de uma doença subjacente grave, na maior parte das vezes a causa é benigna.

A síncope vasovagal, ou desmaio, é o tipo mais comum, que acontece em 1/3 dos casos. Durante um episódio de síncope vasovagal, a frequência cardíaca e a pressão arterial caem de maneira repentina, reduzindo a circulação no cérebro e fazendo com que você perca a consciência.

A principal via de informação entre o intestino e o cérebro é o nervo vago, que conecta os 2 órgãos, está envolvido, mas segundo uma pesquisa publicada na Nature, é a conexão do nervo com o coração que pode causar desmaios nas pessoas.

A via coração-cérebro pode ser responsável por desmaios

Por mais que se acreditasse que o nervo vago era apenas uma forma de o cérebro se comunicar com os órgãos, agora se sabe que as informações são enviadas nos 2 sentidos; por exemplo, do seu intestino ao seu cérebro. O coração transmite sinais ao cérebro através do nervo vago, e uma interrupção nesses sinais pode ser o causador do desmaio.

O fato de o nervo vago estar envolvido no desmaio não é uma novidade. Desde o século 19 é um consentimento geral, segundo o autor do estudo, Vineet Augustine, neurobiólogo da Universidade da Califórnia em San Diego. Falando com a NPR, Augustine explicou:

“O que não era claro era qual a parte do nervo vago [estava envolvida]. O nervo vago é grande. Tem uma imortante função tanto no corpo como no cérebro... O que estávamos tentando argumentar - bem, o coração também envia sinais de volta ao cérebro, o que pode influenciar sua função e comportamento."

Os cientistas encontraram células nervosas que ligam os ventrículos responsáveis por bombear o sangue do coração à uma região do cérebro que controla a respiração e a frequência cardíaca. Quando a via foi estimulada utilizando um laser em ratos, foi observado sintomas semelhantes aos de desmaios. “Quando o pulso os atinge, a frequência cardíaca diminui de maneira imediata. Eles caem em cerca de 7 segundos," disse Augustine.

É possível que a descoberta possa trazer novas opções de tratamento para ajudar a prevenir desmaios devido a distúrbios autonómicos, incluindo o aumento de casos de desmaios que ocorreram desde a pandemia de COVID-19. A disfunção autonômica é comum em pacientes com COVID, incluindo sintomas como tonturas e desmaios, e é possível que a COVID-19 possa influenciar os sinais que passam pelo nervo vago.

O nervo vago influencia diversas funções corporais cruciais, pois é uma parte primária do sistema nervoso parassimpático. Está envolvido no controle do humor, da resposta imunológica, da digestão e da frequência cardíaca, e transmite informações sobre diferentes órgãos internos ao cérebro através de fibras aferentes.

Além de provocar o desmaio, a estimulação do nervo vago está sendo considerada um tratamento potencial para depressão, transtorno de estresse pós-traumático, doença inflamatória intestinal, entre outros. é curioso o fato de como o tônus ​​vagal é influenciado pela respiração, a ioga, que envolve trabalho respiratório, pode oferecer benefícios através do nervo vago. Foi descoberto, que a ioga pode reduzir a frequência de desmaios e os sintomas que antecedem desmaios entre pessoas com desmaios recorrentes.

Principais gatilhos de desmaio

O fluxo sanguíneo cerebral é necessário para fornecer ao cérebro um suprimento constante de glicose para que o mesmo funcione de maneira adequada. Uma interrupção no fluxo sanguíneo de alguns segundos é suficiente para causar desmaios ou perda de consciência. Conforme observado nas Stat Pearls da Biblioteca Nacional de Medicina:

“O fluxo sanguíneo cerebral é mantido por um mecanismo envolvendo débito cardíaco, resistência vascular sistêmica, pressão arterial média e volume intravascular. Pode ocorrer a diminuição do fluxo sanguíneo caso ocorra qualquer defeito em 1 ou mais desses sistemas.”

O desmaio, é responsável por 1% a 3,5% das idas ao pronto-socorro e 6% das visitas ao hospital nos EUA. Diversos fatores aumentam o risco, incluindo ficar em pé por muito tempo, lugares lotados, temperaturas altas, dor intensa, extrema fadiga, ansiedade e estresse. Algumas pessoas também podem desmaiar caso vejam sangue.

O repouso, as condições subjacentes que afetam o sistema nervoso e certos medicamentos, sobretudo aqueles que influenciam a pressão arterial ou os níveis de líquidos, também provocam desmaios. Se levantar de maneira rápida pode causar uma queda na pressão arterial conhecida como hipotensão ortostática, levando a tonturas e desmaios.

Desidratação é uma outra causa muito comum de desmaio. O pouco consumo de água faz com que seu sangue fique mais espesso, sendo assim o mesmo circula menos, podendo causar cãibras musculares, além de fazer com que os rins retenham água, diminuindo a produção de urina. Segundo Toby Mündel, professor sênior em ciências do esporte e do exercício, Universidade Massey, Nova Zelândia:

“Quanto mais espesso e concentrado for seu sangue, mais difícil será para o seu sistema cardiovascular compensar aumentando a frequência cardíaca para manter a pressão arterial. Quando o seu corpo se encontra desidratado o risco de exaustão ou colapso aumenta. Isso pode provocar desmaio, por exemplo, quando se levanta muito de maneira rápida."

Sinais de que você está para desmaiar

Os sintomas ocorrem antes do episódio de desmaio. São eles:

Visão turva

Náusea

Tontura

Fraqueza

Suor excessivo

Pele pálida

Dores de cabeça

Desorientação

Confusão

Disartria

Os ritmos cardíacos irregulares podem causar desmaios, apesar de ser algo incomum. Isso pode ser sinal de uma condição grave. Estenose aórtica, coração aumentado e frequência cardíaca rápida ou lenta podem provocar desmaios.

Um ritmo cardíaco anormal, muitas vezes rápido, as câmaras superiores do coração (átrios), batem fora de sincronia com os ventrículos (câmaras inferiores), também pode causar desmaios. No desmaio cardíaco, podem ocorrer palpitações cardíacas antes do episódio. Caso desmaie sem nenhum "sinal," é possível que a culpa seja dos problemas de ritmo cardíaco.

Desmaios são comuns após vacinas

Os procedimentos médicos podem causar desmaios, um exemplo são as vacinas. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, afirmam ter recebido relatos de pessoas que desmaiaram após quase todas as vacinas, incluindo a vacina contra a gripe. A NPR relatou o caso de um homem de 39 anos que desmaiou 5 minutos após tomar uma vacina contra a gripe, teve que ser encaminhado ao pronto-socorro e o resultado foi uma conta de US$ 4,692.

O desmaio após as vacinas é muito comum em adolescentes e em geral ocorre após a vacina contra o papilomavírus humano (HPV), a vacina meningocócica conjugada e a vacina contra o tétano, a difteria e a tosse convulsa acelular (Tdap). O CDC observou:

“Os cientistas pensam que o desmaio se deve ao processo de vacinação e não às vacinas em si , devido aos ingredientes dessas 3 vacinas serem diferentes, mas o desmaio ocorrer em todas elas. Mas ainda não existe uma resposta definitiva se é de fato o ingrediente ou se os adolescentes são mais propensos do que crianças ou adultos a sofrer desmaios.”

Segundo o CDC, o Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS) recebe muitos relatos todos os anos de pessoas que desmaiam após a vacinação, “e muitos mais não serão notificados.” Estima-se que 62% dos relatos de desmaios após as vacinas ocorrem entre adolescentes de 11 a 18 anos.

Foi descoberto em outro estudo realizado com jovens de 9 a 18 anos que receberam vacina ou punção venosa, que 2,99 por 10.000 eventos de vacinação resultaram em desmaios, assim como 16,33 por 10.000 punções venosas. Os desmaios se tornaram mais prováveis ​​quando mais de uma vacina foi administrada, aumentando de 1,51 por 10.000 eventos de vacinação após uma única vacina para 9,94 por 10.000 após 3 ou mais vacinas. Em cerca de 15% dos eventos de vacinação e punção venosa, o desmaio resultou em lesão.

As quedas relacionadas ao desmaio podem ser graves, sendo o traumatismo cranioencefálico o risco mais grave. Um estudo descobriu que 7% dos episódios de desmaios foram graves e 12% envolveram ferimentos na cabeça. O CDC descreveu um caso da seguinte forma:

“Uma menina de 13 anos desmaiou 10 minutos após receber as vacinas contra HPV e MCV4. Ela caiu para trás e bateu a cabeça no chão da clínica. A menina foi internada na unidade de terapia intensiva pediátrica por causa de fraturas no crânio e hemorragia subaracnóidea.”

Em um outro caso, um rapaz de 15 anos sem problemas médicos conhecidos desmaiou vários minutos após a 3° dose da vacina contra a hepatite B. Ele caiu de costas no chão atingindo a nuca.

Ele recuperou a consciência, porém teve convulsões, parada cardiorrespiratória e morreu. Uma autópsia revelou que ele sofria de lesão cerebral traumática, incluindo contusões no lobo frontal, além de inchaço e sangramento cerebral, embora não tivesse fratura no crânio.

O CDC recomenda já que 70% dos episódios de desmaio em geral ocorrem dentro desse período, os pacientes se sentem ou se deitem enquanto recebem a vacina e sejam observados durante 15 minutos após a mesma. Isso significa que 30% podem ocorrer fora dessa janela. E com muitas injeções administradas em farmácias e outros consultórios não médicos, esses períodos de observação são negligenciados.

O que fazer caso sinta que vai desmaiar

Caso comece a apresentar tonturas, vertigens e umidade, e sua visão ficar embaçada ou cheia de manchas, sente-se ou deite-se no mesmo momento. Isso não apenas reduz suas chances de se machucar ao cair, mas a posição horizontal ajuda a fazer o sangue fluir para sua cabeça.

Usar a tensão aplicada também pode ajudar na redução dos sintomas e do risco de desmaios. Em um estudo realizado com doadores de sangue adultos, a tensão aplicada ajudou na redução dos sintomas e reduziu o risco de uma reação vasovagal consistente com desmaio. Isso pode ser tão simples quanto:

  • Fechar o punho
  • Cruzar as pernas
  • Apertar as coxas juntas
  • Apertar os músculos dos braços

O Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame recomenda deitar-se durante 10 a 15 minutos em um local fresco e tranquilo. Caso não seja uma opção, sente-se com a cabeça entre os joelhos e beba uma água fria. Em geral, a recuperação ocorre em poucos minutos a algumas horas, mas você deve procurar ajuda médica para descartar complicações potencialmente graves e causas que possam estar presentes.