📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Artrite é um termo geral que se refere a mais de 100 tipos diferentes de artrite e condições relacionadas; as 4 categorias mais comuns são artrose, artrite inflamatória autoimune, artrite infecciosa e gota
  • Pequenas escolhas alimentares podem afetar de maneira significativa a dor da artrite. Por exemplo, escolher vegetais crucíferos ricos em sulforafano, um enxofre orgânico que suporta a função celular, ajuda a bloquear as enzimas ligadas à destruição das articulações e reduz a inflamação que provoca dores
  • As antocianinas encontradas nos frutos roxos e vermelhos reduzem o estresse oxidativo, a inflamação e apoiam a saúde gastrointestinal, o que é fundamental para reduzir a inflamação e melhorar o controle da dor
  • Certos tipos de peixes são ricos em gorduras ômega-3 de cadeia longa, sendo biodisponíveis e essenciais para diminuir a resposta inflamatória causada por um desequilíbrio entre as gorduras ômega-3 e ômega-6

🩺Por Dr. Mercola

Quando consumido de maneira correta, o alimento é remédio. Dito de outra forma, você é o que você come. Você não pode fugir do fato de que seu organismo requer nutrientes para funcionar de maneira ideal, e esses nutrientes vêm dos alimentos que você consome.

As pequenas escolhas que você faz todos os dias, como um bolinho como lanche do meio-dia ou uma tigela de sorvete todas as noites após o jantar, sempre o terão efeitos em seu organismo. Uma das maneiras pelas quais o alimento é importante, é no controle da dor da artrite.

A alimentação impacta diversos caminhos que fazem diferença no seu nível de dor e até mesmo na progressão da doença. Os fabricantes de alimentos querem que você acredite que uma caloria é uma caloria e que calorias são tudo o que seu corpo precisa para sobreviver. Mas se há uma coisa que os últimos anos nos ensinaram é que a alimentação faz uma grande diferença na saúde.

Antes de descobrir alguns dos alimentos que podem reduzir a dor, vamos dedicar um minuto para explorar o termo “artrite.”

A artrite não é uma doença dolorosa única

É crucial entender diversos fatos sobre a artrite. Por exemplo, a palavra artrite é um termo geral que se refere a mais de 100 tipos diferentes de artrite e condições relacionadas. A artrite pode danificar as articulações de maneira permanente e os sintomas da mesma comum incluem dor, rigidez e inchaço.

As pessoas podem experimentar formas leves a graves da doença e os sintomas podem ir e vir. Para alguns, os sintomas permanecem os mesmos por anos, mas para outros, a doença progride e piora com o tempo. Existem 4 principais categorias comuns de artrite.

  1. Artrose — Esse é o tipo mais comum e pode ser encontrado em quase todas as articulações do corpo. Muito comum nos joelhos, quadris, coluna e mãos. Costumava ser conhecida como uma doença provocada pelo desgaste, mas as evidências atuais mostram que ela afeta toda a articulação e não apenas a cartilagem, inclusive tornando o osso mais fraco e deteriorando o tecido conjuntivo.
  2. Artrite inflamatória autoimune — Esse é um termo global que inclui artrite reumatóide, psoriática, juvenil e espondilartrite axial. Embora uma causa exata não tenha sido identificada, seu microbioma intestinal desempenha um papel crítico.
  3. Artrite infecciosa —Essa condição dolorosa é desencadeada por uma infecção que começa em outra parte do corpo e se espalha para uma articulação. Os sintomas podem aparecer de maneira repentina e causar inchaço intenso, dor e febre. O tratamento muitas vezes é o suficiente.
  4. Gota (artrite metabólica) — Esse é o resultado de um acúmulo de cristais de ácido úrico nas articulações, muito comum no dedão do pé. Os cristais de ácido úrico são um subproduto da degradação das purinas, que são substâncias encontradas na carne de órgãos, carne vermelha, alguns frutos do mar e álcool. Existe algumas evidências que sugerem que a artrose ou a disbiose intestinal também podem contribuir para a gota.

O sulforafano possui propriedades curativas

Vegetais crucíferos como brócolis, couve de Bruxelas, couve-flor e repolho possuem um composto chamado sulforafano. Esse é um enxofre orgânico que demonstrou apoiar a função e a divisão celular, ao mesmo tempo em que causa a morte celular programada por apoptose em certos tipos de câncer.

Quando o sulforafano foi testado em camundongos e em células humanas, foi demonstrado que ele atinge e elimina as células-tronco do câncer de mama, impedindo a formação e a disseminação de tumores. Mas os benefícios do sulforafano vão além. Foi demonstrado que reduz a inflamação ao reduzir as espécies reativas de oxigênio em até 73%, que por sua vez reduz o dano celular.

O sulforafano também pode ajudar na redução do risco de artrose, em parte bloqueando as enzimas que estão ligadas à destruição das articulações.  Uma equipe de pesquisadores da Universidade de East Anglia publicou um estudo na revista Arthritis and Rheumatism, onde mostrou que substâncias em vegetais crucíferos podem retardar a progressão da artrose, ou, de certo modo, preveni-la.

O sulforafano fez isso inibindo as metaloproteinases implicadas no desenvolvimento e progressão da artrose. Os pesquisadores descobriram que também bloqueou a inflamação para proteger contra a destruição da cartilagem, tanto em laboratório quanto em modelos animais.

As antocianinas desempenham um papel anti-inflamatório

A pesquisa demonstrou que há eficácia em frutas de cor roxa. Frutas roxas e vermelhas são ricas em antocianinas, que são metabólitos secundários produzidos pelas plantas para se defender contra predadores. As antocianinas funcionam através de uma variedade de caminhos para exercer efeitos benéficos em nossa saúde.

Eles são conhecidos sobretudo por lidar com o estresse oxidativo e reduzir a inflamação, o que, por sua vez, ajuda no controle da dor em pacientes com uma condição inflamatória, como a artrite. A ciência também demonstra o poder das antocianinas na redução da progressão do declínio cognitivo, na proteção do coração, rins e trato gastrointestinal.

Pesquisadores demonstraram que as antocianinas, encontradas em cerejas e outras frutas, ajudam a regular o metabolismo de lipídios e glicose. O sabugueiro é rico em antocianina, vitamina C e zinco. Essas frutas possuem atividade moduladora anti-inflamatória que pode ajudar no controle da dor em pacientes com artrite. Eles também se tornaram conhecidos por sua capacidade de aumentar a função imunológica e inibir resfriados e gripes muito antes da pandemia do COVID-19.

Um estudo de 2004, descobriu que 15 mililitros (pouco menos de 1 colher de sopa) de xarope de sabugueiro, 4 vezes ao dia durante 5 dias, aliviou os sintomas da gripe 4 dias mais rápido do que um placebo. Em 2019, a pesquisa detalhou o mecanismo pelo qual o sabugueiro protege contra ataques virais. Como relatado pelo Science Daily:

“... o estudo mostrou que os compostos do sabugueiro podem inibir a entrada e a replicação do vírus nas células humanas, podendo ajudar a fortalecer a resposta imune de uma pessoa ao vírus.”

Vamos temperar sua refeição

Alimentos sem tempero nunca são divertidos de comer. Mas você sabia que adicionando algumas especiarias você pode reduzir o nível de dor? Pesquisadores descobriram que alho, gengibre, canela e açafrão são compostos que podem melhorar o controle da dor em pessoas com artrite.

Um estudo de 2018, descobriu que a suplementação de canela era um tratamento adjuvante seguro em mulheres com artrite reumatoide. O ensaio clínico randomizado duplo-cego incluiu um pequeno grupo de 36 mulheres que foram divididos em 2 grupos: as que receberam canela e as que receberam placebo por 8 semanas.

Embora o estudo fosse pequeno e incluísse apenas mulheres, os resultados mostraram que teve um impacto significativo nas articulações doloridas e inchadas, sem alterações nas enzimas hepáticas, perfil lipídico, açúcar no sangue em jejum ou taxa de sedimentação de eritrócitos (ESR).

O gengibre é outro tempero que está sendo investigado pelo efeito que apresenta na redução dos sintomas da artrose. Um estudo de 2001, descobriu que utilizar um extrato purificado e padronizado pode reduzir de maneira significativa esses sintomas e tem um bom perfil de segurança.

Um artigo de 2020, confirmou o uso do gengibre como uma estratégia segura e promissora para reduzir a dor. Os pesquisadores revisaram ensaios de controle aleatório elegíveis em que o gengibre foi utilizado para aliviar a dor, inclusive da artrose. Eles concluíram que o gengibre era seguro e promissor, mas mais estudos eram necessários para analisar a quantidade necessária para uma terapia útil a longo prazo.

O alho é um ingrediente básico na culinária encontrada em muitos países, incluindo Itália, China e México. Mas é muito mais que um tempero comum. Dados de um estudo de 2020 com 62 mulheres com artrite reumatóide, sugeriram que a suplementação de alho durante 8 semanas melhorou o estresse oxidativo e os questionários de avaliação de saúde.

Açafrão é bem conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias. Uma análise de 2016 de ensaios clínicos randomizados, avaliou o uso de extrato de açafrão e curcumina no tratamento de sintomas de artrite. Embora os resultados tenham sido positivos, os pesquisadores descobriram que o número total de ensaios e o tamanho total da amostra não foram suficientes para tirar uma conclusão definitiva.

Outra revisão da literatura publicada em 2021, comparou açafrão contra placebos e encontrou um benefício na dor e função da artrose no joelho. Com base no pequeno número de estudos, eles acreditavam que os efeitos eram semelhantes aos que analisaram anti-inflamatórios não esteroides (AINEs).

Um estudo randomizado de 2021, comparou a cúrcuma com o paracetamol, um analgésico também conhecido como acetaminofeno. Os resultados desse estudo demonstraram que o extrato de cúrcuma biodisponível foi tão eficaz quanto o paracetamol contra a dor e os sintomas da artrose no joelho e foi seguro e mais eficaz na redução do fator de necrose tumoral alfa (TNF alfa) e da proteína C-reativa (PCR).

Equilibre sua gordura ômega-3 e ômega-6

A dieta tinha uma proporção de ômega-6 para ômega-3 próxima de 1 para 1. No entanto, a dieta ocidental atual está mais próxima de uma proporção de 20 para 1, o que aumenta a resposta inflamatória e, portanto, tem impacto na dor.

A maioria dos alimentos processados e óleos de sementes são ricos em ácidos graxos ômega-6. Embora existam gorduras ômega-3 encontradas em algumas plantas, apenas certos tipos de peixes possuem gorduras ômega-3 de cadeia longa, ácido eicosatetraenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), que são altamente biodisponíveis e essenciais para uma boa saúde.

Quando sua proporção de ômega-6 para ômega-3 está desequilibrada, aumenta o risco de obesidade e a resposta inflamatória, que afetam o controle da dor na artrite. A única maneira de saber se você tem ômega-3 suficiente é fazer um simples exame de sangue – um índice de ômega-3. Isso mede EPA e DHA nas membranas dos glóbulos vermelhos e fornece feedback sobre suas escolhas alimentares.

Alimentos tratam da saúde intestinal e reduzem a dor da artrite

Por fim, embora nenhum alimento sozinho aborde 100% a saúde intestinal, a maioria de suas escolhas alimentares irá apoiar uma boa saúde intestinal ou prejudicá-la. Por exemplo, sabe-se que uma dieta rica em alimentos ultraprocessados altera o microbioma intestinal, o que promove o desenvolvimento de doenças inflamatórias.

A Arthritis Foundation, reconhece que o trato gastrointestinal desempenha um papel crucial em alguns dos tipos mais comuns de artrite inflamatória. Pesquisadores descobriram que pessoas com artrite reumatóide possuem diferentes níveis de bactérias em seus intestinos e bebês que são amamentados têm menor probabilidade de desenvolver espondilite anquilosante, pois a amamentação é conhecida por afetar o microbioma intestinal de maneira positiva.

Um artigo de 2021, analisou a associação entre o microbioma intestinal e os sintomas da artrose. Eles resumiram as evidências que sustentam um eixo intestinal-articular e as interações entre o microbioma intestinal e os fatores que afetam a osteoartrite, incluindo sexo, idade, metabolismo e lesão articular.

É curioso que os dados mostraram que a microbiota intestinal de um indivíduo pode, de certo modo, prever a progressão da artrose, indicando que o monitoramento do microbioma intestinal também pode ajudar a monitorar a eficiência da intervenção terapêutica. O brócolis é um alimento que ajuda a manter uma boa saúde intestinal e pode afetar a dor da artrite, pois também é uma fonte de glucosinolato, um precursor do indol-3 carbinol (I3C).

No estômago, o I3C gera 3,3'-Di-Indol Metano (DIM). O I3C é um poderoso antioxidante e, em um modelo animal, aqueles alimentados com vegetais crucíferos com I3C tinham intestinos mais saudáveis e eram menos propensos a apresentar inflamação. O I3C também funciona ativando uma proteína chamada receptor de hidrocarboneto aril (AhR), que se comunica com células imunes e epiteliais no revestimento do intestino, ajudando assim a reduzir a inflamação causada por bactérias patogênicas.

O AhR também ajuda as células-tronco a se converterem em células produtoras de muco no revestimento do intestino. Essas células também ajudam a extrair nutrientes dos alimentos que você consome, o que provoca uma melhor função e saúde intestinal.

Como você observará, existem diversos grupos de alimentos que auxiliam no controle da dor, reduzindo a resposta inflamatória e melhorando a saúde intestinal. A artrite pode ser uma condição difícil e transformadora que afeta suas atividades diárias. Considere essas pequenas medidas para ajudar a melhorar o controle da dor sem medicação e ter maior controle de sua vida.