RESUMO DA MATÉRIA

  • A goma de mascar é muito popular, porém as estimativas são de que 75% das pessoas não sabem da existência de produtos químicos plásticos baseados em combustíveis fósseis contidos no produto. Os produtos químicos são tão prejudiciais ao meio ambiente que Cingapura proibiu o chiclete em 1992
  • A base da goma inclui plásticos e ceras. A maioria dos chicletes também é adoçado com adoçantes artificiais, incluindo aspartame e sucralose, que aumentam o risco de obesidade, câncer e doenças cardíacas
  • Produtos químicos plásticos encontrados na goma contribuem para a queda na contagem de espermatozoides, onde um cientista acredita que exigirá reprodução assistida nos próximos 30 anos
  • A análise da urina constatou que 90% dos testados tinham 8 plastificantes diferentes. Se você acredita que no suprimento de alimentos não possui plástico suficiente, a DARPA concedeu US $2,7 milhões (cerca de R$ 13 milhões) para encontrar um processo para fazer alimentos com plástico e resíduos de papel

Por Dr. Mercola

A sociedade tem um vício perigoso em plásticos e sua exposição agora inclui mastigá-los. Diversos produtos químicos encontrados na produção de compostos plásticos são conhecidos por atuar como desreguladores endócrinos. Os ftalatos são um desses tipos de produtos químicos; eles também são encontrados na goma de mascar.

Durante os períodos fetal e neonatal, os bebês são suscetíveis à exposição a produtos químicos desreguladores endócrinos, podendo afetar os níveis de hormônio da tireoide, hormônio sexual e vitamina D. O que por sua vez, pode desencadear parto prematuro, hipospadia infantil, restrição de crescimento e pré-eclâmpsia.

O impacto na saúde não ocorre apenas na infância, mas continua até a idade adulta. Os produtos químicos desreguladores endócrinos afetam seu sistema endócrino, fundamental para regular seu humor, crescimento e desenvolvimento, função sexual, reprodução e metabolismo.

No entanto, esses produtos químicos são onipresentes, além disso, produtos e componentes feitos com plástico foram integrados à vida diária de muitas pessoas. Você pode encontrar produtos químicos plásticos em cortinas de chuveiro, sacos de armazenamento e recipientes para viagem. Mas você sabia que eles também podem ser encontrados em bitucas de cigarro, saquinhos de chá, roupas e chicletes?

A Oceana International descreve o plástico como se fosse um gato curioso, que invade os espaços sem se anunciar e encontra lugares nos quais não deveria caber. Os plásticos estão presentes na água do mar, no sal marinho, no estômago de crustáceos e baleias, e na água que você bebe. Segundo um estudo de 2014, 24 marcas de cerveja continham plástico.

Os ingredientes contidos na goma de mascar podem surpreendê-lo

Embora a goma de mascar seja muito popular, segundo uma estimativa, 75% das pessoas não sabem que existem produtos químicos plásticos baseados em combustíveis fósseis contidos no produto. Além disso, 32% das pessoas acreditavam que o principal ingrediente da goma era natural, como produtos de origem animal ou gelatina.

Tecnicamente falando, o chiclete não é consumido e ainda é comestível. Um dos ingredientes listados no chiclete é a “base de goma”. Essa é a parte do produto que dá mastigabilidade à goma e, embora os ingredientes exatos sejam mantidos em segredo comercial, a Science Focus revela que muitos deles possuem:

  • Enchimentos — Esses fornecem textura e volume à goma, sendo o carbonato de cálcio ou silicato de magnésio (talco), em geral.
  • Elastômeros — Moléculas de polímero sintético longo, como acetato de polivinila.
  • Emulsificantes — Esses produtos químicos ajudam a manter os sabores e cores misturados.
  • Amaciantes — Óleo vegetal e lecitina são utilizados ​​para manter o produto macio e mastigável. Visto que esses foram lavados e engolidos, a goma fica dura.

A lista da FDA de aditivos permitidos para adição direta aos alimentos para consumo inclui a Seção 172.615, que abrange os produtos químicos permitidos na goma de mascar. Esses são os aditivos que eles dizem, “podem ser utilizados ​​com segurança na fabricação de goma de mascar” e levam o nome “base de goma de mascar”, que:

“… significa a substância mastigatória não nutritiva fabricada ou parcialmente fabricada composta por um, ou mais dos ingredientes mencionados e assim definidos no parágrafo (a) desta seção.”

Muitas das substâncias utilizadas no passado para fazer a base de goma eram ingredientes naturais, como chicle (latéx) colhido de uma árvore. No entanto, cientistas procuraram encontrar uma receita que fornecesse as mesmas características, utilizando produtos químicos mais fáceis de se obter. A lista de ingredientes que o FDA permite na base de goma inclui, os seguintes sendo plásticos, borrachas e ceras.

  • Borracha de butadieno-estireno
  • Copolímero de isobutileno-isopreno (borracha butílica)
  • Cera de petróleo, cera de petróleo sintética
  • Polietileno
  • Acetato de polivinila

Para esclarecimento, o acetato de polivinila é um dos ingredientes encontrados na cola PVA, conhecido como cola escolar e de madeira. O polietileno é um dos plásticos mais produzidos e utilizados, incluído em embalagens plásticas, sacolas de supermercado, canos de drenagem e coletes à prova de balas.

Adoçantes também são considerados um problema

Esses compostos químicos não são o único problema com a goma de mascar. A maioria das gomas de mascar no mercado hoje em dia, é rotulada como sem açúcar. No entanto, a goma é adoçada com adoçantes artificiais para tentar seu paladar. Muitos dos ingredientes da goma de mascar são potencialmente perigosos, pois entram em seu organismo diretamente na corrente sanguínea através da parede da boca.

Isso significa que os produtos químicos ignoram seu sistema digestivo que ajuda a se livrar de algumas dessas toxinas. A Oral Health Foundation recomenda mascar chiclete sem açúcar após cada refeição para ajudar a remover o acúmulo de ácido na boca, após uma refeição. Eles recomendam mascar chiclete sempre que você consumir algum alimento ou bebida quando não estiver em casa para escovar os dentes.

Isso pode adicionar muitos adoçantes artificiais que você consome todos os dias. Um dos adoçantes artificiais muito utilizados é o aspartame, que é metabolizado como veneno dentro do organismo. Durante o metabolismo, o aspartame é decomposto em formaldeído, que é cancerígeno e utilizado como fluido de embalsamamento. O formaldeído não pode ser filtrado pelo fígado e pelos rins, por isso é difícil para o seu organismo removê-lo.

O aspartame também é decomposto em álcool de madeira, que é outro veneno. No entanto, o FDA aprovou o aspartame como adoçante nutritivo. Em 1981, o FDA aprovou pela primeira vez sob certas condições e expandiu-as em 1983 para bebidas carbonatadas e em 1986 como um “adoçante de uso geral.”

Há décadas, a ciência vem demonstrando o perigo do consumo de aspartame. Um estudo onde acompanhou 474 pessoas que consomem refrigerante diet por quase 10 anos e descobriu que o tamanho da cintura cresceu 70% a mais do que aqueles que consumiram refrigerante não dietético. Se os indivíduos consumiam dois ou mais refrigerantes dietéticos por dia, eles tinham um aumento 500% maior no tamanho da cintura.

Seu cérebro não está satisfeito

Um estudo semelhante em 2015, revelou uma impressionante relação dose-resposta entre o consumo de refrigerante diet e o aumento da circunferência da cintura. Embora os adoçantes artificiais forneçam um sabor muitas vezes maior que o açúcar, ele não combina com o número de calorias que o alimento fornece.

Um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Yale, mostra que essa incompatibilidade causa uma interrupção no seu metabolismo. Quando o sabor adocicado de um produto combina com as calorias, o circuito de recompensa do seu cérebro fica satisfeito. Porém, quando o sabor doce não é seguido pelas calorias, seu cérebro não recebe a mesma mensagem satisfatória.

Isso pode ajudar a explicar o porque os alimentos e bebidas dietéticos estão ligados a um aumento no apetite e nos desejos. O grupo sem fins lucrativos de educação do consumidor US Right to Know (US RTK), destaca décadas de ciência que ligam aspartame a sérios riscos à saúde. Os riscos para a saúde que foram estudados após a exposição ao aspartame incluem: câncer, doenças cardíacas, neurotoxicidade, demência e acidente vascular cerebral.

Um segundo adoçante artificial conhecido como Splenda (nome comercial da sucralose), também foi associado a efeitos negativos para a saúde, como consumo de calorias, aumento do risco de câncer em um modelo animal e interrupção da resposta à insulina.

Quando os participantes do estudo consumiram uma bebida adoçada com Splenda, a insulina aumentou 20% mais do que quando consumiram apenas água, antes de fazer um teste de glicose. Estudos realizados em animais, também mostraram que Splenda pode levar a alterações significativas no microbioma intestinal, incluindo reduções nas bactérias benéficas.

Goma contribui para a infertilidade e poluição plástica

No cotidiano da maioria das pessoas, produtos e componentes de plástico se tornaram parte integrante. É infeliz o fato de que, enquanto muitas pessoas o consideram convenientes, a conveniência vem com um preço. Não é surpresa de que o plástico em sua goma de mascar pode ter um impacto negativo em sua comunidade.

Ao terminar de mastigar, muitos apenas jogam o chiclete na calçada, acreditando que ele se desintegra. No entanto, as partículas de plástico não são biodegradáveis, sendo que quando deixadas na calçada, os microplásticos acabam nos drenos que filtram para o oceano. De fato, a goma de mascar era um problema tão grande em Cingapura que eles proibiram o chiclete em 1992.

O consumo adicional de plástico também pode contribuir para a queda drástica da contagem de espermatozoides em homens. Em 1992, Shanna Swan, Ph.D., ouviu pela primeira vez sobre um potencial declínio na fertilidade em humanos. Swan é epidemiologista reprodutiva e professora de medicina ambiental e saúde pública na Icahn School of Medicine em Mount Sinai, em Nova York.

O estudo, publicado no BMJ do mesmo ano, mostrou evidências de uma redução na qualidade do sêmen nos últimos 50 anos. Durante as décadas seguintes, a cuidadosa pesquisa de Swan mostrou que os plásticos são uma arma fumegante que está atrapalhando o desenvolvimento e a reprodução humanos a ponto de ela sentir que estamos ameaçados como espécie.

Nós estamos nos tornando pessoas de plástico?

Um estudo do Instituto Norueguês de Saúde Pública, analisou a urina de 144 homens e mulheres residentes na Noruega. Eles descobriram que 90% das pessoas testadas, tinham oito plastificantes diferentes excretados na urina, incluindo ftalatos.

Após anos de exposição à água potável e alimentos contendo plástico, você pode esperar que a maioria dos adultos tenha produtos químicos de plástico em seus organismos. Os produtos químicos não estão fortemente ligados ao produto, então eles escoam devido ao uso. Eles então se dissipam no ambiente circundante, incluindo sua água potável e alimentos.

Até mesmo o consumo de uma xícara de chá quente para aumentar seus fitoquímicos e outros nutrientes pode incluir 11,6 bilhões de peças de microplástico e 3,1 bilhões de nanoplásticos em cada xícara. O estudo analisou o plástico liberado dos saquinhos de chá durante a maceração do chá quente. No entanto, se você estiver consumindo seu chá com água engarrafada, o número de plásticos que você consome pode ser ainda mais elevado.

Um estudo da Universidade Estadual de Nova York, testou 259 garrafas de 11 marcas populares de água engarrafada e descobriu que, em média, continham 325 pedaços de microplásticos por litro. As marcas mais contaminadas foram Aqua, Bisleri, Nestlé Pure Life e Epura, enquanto as marcas menos contaminadas incluíram San Pellegrino, Evian e Dasani.

Um estudo de 2021 mostrou que havia mais polietileno tereftalato (PET) nas fezes de bebês do que em adultos. De forma assustadora, os pesquisadores encontraram PET em amostras de mecônio, as primeiras fezes de um bebê.

Esses pequenos pedaços de plástico estão em todo lugar. Uma análise da literatura existente, porém limitada, disponível a respeito da quantidade média de plástico ingerida por humanos, estimada por semana que a pessoa média consome:

  • 1.769 partículas de plástico da água potável
  • 182 partículas de plástico de frutos do mar
  • 10 partículas de plástico da cerveja
  • 11 partículas de plástico do sal

Plástico em alimentos ou alimentos feitos de plástico?

O principal motivo pela qual a maioria das pessoas escolhe comprar produtos orgânicos, em vez de produtos cultivados de maneira convencional é evitar pesticidas e outros produtos químicos. No entanto, mesmo os alimentos orgânicos têm um problema com o plástico. No entanto, não é o plástico em que os produtos são embalados, mas a cobertura plástica que muitos agricultores orgânicos utilizam para o controle de ervas daninhas.

O plástico atua como uma barreira para manter as ervas daninhas sob controle. Quando a estação de crescimento termina, a maior parte acaba em aterros sanitários, o que representa uma grande quantidade de resíduos plásticos, já que não é incomum que uma grande fazenda espalhe plástico por milhares de hectares. Se você acredita que não há plástico suficiente em seus alimentos e bebidas, pode estar interessado em saber que os cientistas estão procurando uma maneira de fazer alimentos a partir de resíduos plásticos.

O projeto começou com um objetivo em logística militar da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA). Eles concederam à Universidade Estadual de Iowa e parceiros, uma doação de US$ 2,7 milhões (cerca de R$ 13,00 milhões) para fabricar alimentos a partir de resíduos de plástico e papel, onde pretendem alimentar os militares.

A ideia era transformar produtos residuais em alimentos para ajudar na alimentação a curto prazo e melhorar a logística militar para missões de longa duração. A universidade está trabalhando em um sistema, onde os plásticos são convertidos e consumidos por microorganismos, o que pode “ajudar a resolver problemas iminentes de descarte de plástico e garantir uma cadeia alimentar global viável.”

Porém, existe uma lição a ser aprendida com a indústria da carne falsa, pode parecer um hambúrguer e pode ter um gosto semelhante a um hambúrguer, porém isso não significa que tenha o mesmo valor nutricional que a carne bovina criada em um ambiente saudável. Em um curto prazo, a DARPA planeja alimentos plásticos como solução para um problema militar, mas você acha que vai parar por aí?

Além dos problemas de infertilidade, o plástico também danifica outras células do organismo. Um estudo publicado em novembro de 2021, sugere que os dados de pesquisas anteriores sobre plásticos e saúde humana não foram consistentes por um motivo interessante. Embora tenham evidências emergentes de que os microplásticos são tóxicos e aumentam o estresse oxidativo e a inflamação, outros estudos não estabeleceram uma associação entre o consumo de microplásticos e doenças.

No entanto, dados de laboratório publicados em 2021 no Journal of Hazardous Material, encontraram células humanas danificadas por microplásticos em níveis relevantes para o número de partículas que os humanos ingerem, e o estudo descobriu que os microplásticos desencadeiam a morte celular e reações alérgicas. A diferença foram os microplásticos utilizados nesse experimento de laboratório.

Os pesquisadores descobriram que eram os microplásticos de formato irregular que causam danos às células e não os microplásticos esféricos muito utilizados em experimentos de laboratório. Isso sugere que pesquisas de laboratório anteriores utilizando microplásticos espiráculos podem não representar totalmente os danos que os microplásticos podem provocar à saúde humana.


Recursos e Referências