RESUMO DA MATÉRIA

  • A pesquisa apresentada na Experimental Biology 2022, mostrou como as feridas tratadas com um extrato fenólico de mirtilos silvestres tiveram um aumento de 12% no fechamento de feridas, aumentando a migração celular e a formação de novos vasos sanguíneos
  • Existem 4 estágios distintos de cicatrização de feridas que começam segundos após a ocorrência da ferida, podendo durar até 1 ano ou mais, após o fechamento da pele; extrato de mirtilo funciona durante a fase proliferativa quando novos vasos sanguíneos são construídos
  • O cuidado com as feridas começa com a limpeza da área. Não utilize peróxido de hidrogênio ou sabão antibacteriano; em vez disso, use sabão neutro e água e enxágue a área durante 5 a 10 minutos antes de enfaixá-la
  • Aloe vera e óleo de coco virgem aceleram o tempo para cicatrização. Seu organismo também utiliza nutrientes específicos para curar uma ferida, incluindo vitaminas A, C e B, assim como zinco, L-arginina e bromelina

Por Dr. Mercola

As feridas crônicas são um problema generalizado. Os dados apresentados no Experimental Biology 2022 da Universidade do Maine, mostraram que os tratamentos de feridas com extrato de mirtilo podem ajudar a melhorar a vascularização e a migração celular, levando a uma melhor cicatrização de feridas.

Segundo dados da Agency for Healthcare Research and Quality, 1% dos pacientes agora respondem por cerca de 22% das despesas de saúde e os 5% mais ricos gastam 40% dos dólares de internação.

Uma revisão de 11 estudos em 2019, estima que a prevalência de feridas crônicas foi de 2,21 por 1.000 e úlceras crônicas nas pernas foram responsáveis por 1,51 por 1.000. Quando você extrapola esse número para a cidade de Nova York, assumindo uma população de 20,106 milhões em 2019, 44.434 pessoas tinham feridas crônicas.

As feridas crônicas às vezes são disfarçadas sob o diagnóstico de comorbidade e representam uma epidemia silenciosa que pode afetar até 2% da população total durante a vida.

Extrato de mirtilo pode ajudar na cicatrização de feridas

Ao estudar a possibilidade de utilizar extrato de mirtilo na cicatrização de feridas, os pesquisadores buscavam uma intervenção que pudesse melhorar a vascularização de feridas crônicas, muitas vezes caracterizadas como feridas que não cicatrizam. Esses incluem úlceras de pressão e feridas diabéticas.

Uma questão é que essas feridas são pouco vascularizadas, tendo assim, um impacto significativo no desenvolvimento de novos tecidos e no fechamento da ferida. A pesquisa anterior da equipe, mostrou que um extrato fenólico de mirtilos silvestres aumentou a vascularização e a migração celular. No presente estudo, os pesquisadores analisaram o efeito que o mesmo extrato teria em feridas vivas em um modelo animal.

Foram animais não tratados, tratados com gel sem extrato fenólico ou tratados com gel tópico de extrato fenólico. A equipe comparou a cicatrização de feridas nos 3 grupos e descobriu que os animais tratados com o extrato fenólico, tiveram um aumento de 12% no fechamento da ferida. Um dos cientistas comentou em um comunicado de imprensa:

“Os mirtilos silvestres possuem o potencial de aumentar a migração celular, a formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese) e a vascularização e acelerar o fechamento de feridas. Isso é de fato importante em condições que exigem fechamento aprimorado de feridas em pacientes com feridas crônicas, como feridas diabéticas, queimaduras e úlceras de pressão.”

Polifenóis encontrados em plantas, são potentes antioxidantes, tendo um grande efeito no estresse oxidativo. Nas últimas 2 décadas, os extratos fenólicos de plantas se tornaram uma área de estudo, inclusive na cicatrização de feridas. Em 2009, os pesquisadores descobriram que extratos com conteúdo fenólico total de 11% e 17% “exibiam boa atividade de cicatrização de feridas de certo modo devido aos constituintes fenólicos.”

Em 2015, os pesquisadores estudaram um extrato polierval com histórico de uso na medicina tradicional para cicatrização de feridas. Através de análises laboratoriais, eles descobriram que o extrato tinha constituintes fenólicos com propriedades farmacológicas, incluindo apigenina, ácido clorogênico, ácido cafeico e luteolina. Os dados mostraram que a fórmula à base de plantas múltiplas, teve alta atividade antioxidante e induziu a síntese de colágeno, podendo contribuir para uma cicatrização mais forte de feridas.

Etapas para cicatrização de feridas

O extrato fenólico de mirtilos silvestres interage com a cicatrização de feridas em um estágio específico da recuperação. Embora a cicatrização seja uma reação natural à lesão tecidual, é um sistema complexo, muito descrito em 4 estágios. Cada estágio é coordenado através de eventos celulares. A hemostasia é o 1° estágio da cicatrização de feridas que se inicia assim que a ferida ocorre.

Os vasos sanguíneos começam a se contrair para restringir o fluxo à medida que as plaquetas começam a selar a ruptura. A coagulação reforça o que as plaquetas começaram com fios de fibrina. Isso acontece de maneira rápida, podendo ser em segundos. O próximo estágio é a inflamação, que começa quando os vasos lesionados vazam um líquido claro que causa inchaço localizado. Isso ajuda a controlar o sangramento e prevenir a infecção.

Durante a fase proliferativa, o organismo começa a reconstruir novos tecidos com colágeno e matriz extracelular. Durante essa fase, novos vasos sanguíneos são construídos para alimentar oxigênio e nutrientes do tecido de granulação. A fase proliferativa começa com a construção de novo tecido e termina quando as células epiteliais cobrem a lesão. O extrato fenólico afeta este estágio da cicatrização de feridas.

Após as células epiteliais cobrirem a lesão, o organismo inicia a fase de remodelação, também chamada de fase de maturação. O colágeno é remodelado e as células que não estão mais sendo utilizadas são removidas através de apoptose.

Na cicatrização de feridas saudáveis, a maturação começa 21 dias após a lesão e pode continuar por mais de um ano, dependendo da profundidade e gravidade da ferida. É curioso o fato de que, a área lesionada nunca será tão forte quanto a pele não ferida, de certo modo tendo apenas 80% da força anterior.

O peróxido de hidrogênio não é ideal para limpar feridas

Obter cortes e arranhões não é incomum, e eles passam pelo mesmo processo de cicatrização das úlceras do pé diabético ou incisões cirúrgicas. De início, a limpeza da ferida pode ajudar a eliminar patógenos indesejados e criar um ambiente positivo para a cicatrização da área, dependendo do que você usa para limpá-la.

As pessoas têm utilizado peróxido de hidrogênio por décadas como um anti-séptico, pois é eficaz em eliminar bactérias e vírus. Na verdade, o peróxido de hidrogênio de grau alimentício nebulizado é uma das minhas maneiras favoritas de reduzir o impacto dos vírus respiratórios superiores. O problema com o tratamento de feridas é que o peróxido de hidrogênio é indiscriminado e também eliminará outros tecidos vivos, incluindo suas células saudáveis.

Você pode pensar que o sabonete antibacteriano seria uma boa opção, porém isso pode incluir triclosan, que pode interferir nos níveis hormonais e aumentar o crescimento de bactérias resistentes a medicamentos. Segundo a FDA:

"Os consumidores podem pensar que os produtos antibacterianas são mais eficazes na prevenção da propagação de germes, mas não temos evidências científicas de que eles sejam melhores do que água e sabonete comum. De fato, alguns dados sugerem que os ingredientes antibacterianos podem causar mais mal do que bem a longo prazo."

A melhor forma de lavar um corte, ralado ou machucado com segurança é usando sabonete neutro e muita água. Escolha um sem fragrância, triclosan ou triclocarban. Enxague bem as mãos, antes de lavar o corte para reduzir o potencial de transferência de bactérias para a ferida.

Enxágue a área com água durante 5 a 10 minutos para remover sujeira e detritos com água fria ou morna, o que for melhor para você. Após a limpeza, existem várias etapas que podem ajudar a acelerar e fortalecer a cicatrização de feridas.

Aloe Vera, Mel e Óleo de Coco — Opções para Feridas e Pele

Os cientistas também descobriram outras aplicações tópicas que ajudam a acelerar a cicatrização de feridas. Aloe vera é aquele que tem sido utilizado no tratamento de queimaduras por muitos anos. A planta é fácil de cultivar e cuidar em casa. Possui 75 ingredientes potencialmente ativos, incluindo aminoácidos, vitaminas, lignana e saponina. As vitaminas incluem vitamina A, C e E, bem como vitamina B12, colina e ácido fólico.

Aloe vera possui uma longa história de medicina tradicional para o tratamento de queimaduras e feridas. Uma revisão sistemática da literatura em 2007, revelou que as feridas tratadas com aloe vera cicatrizaram 8,79 dias mais rápido do que as do grupo controle. Outra revisão da literatura em 2019, descobriu que o aloe vera foi bem-sucedido na prevenção de úlceras na pele e no tratamento de queimaduras, feridas pós-operatórias, herpes genital, psoríase e feridas crônicas.

Aloe vera tem sido tão bem sucedida que curativos impregnados com aloe vera foram desenvolvidos. A pesquisa também mostrou que o uso tópico de gel de aloe vera no tratamento de locais doadores de enxertos de pele de espessura parcial pode acelerar de maneira significativa a cicatrização.

Um estudo em 2018, analisou os efeitos celulares que o aloe vera pode ter na cicatrização de feridas e descobriu que “promove a proliferação e migração de fibroblastos e queratinócitos” e protege “os queratinócitos da morte induzida por conservantes.” O aloe vera fresco não deve ser utilizado de maneira interna ou externa caso apresente alguma alergia à planta. Caso não tenha certeza, faça um teste de remendo em uma pequena área e espere para ter certeza de que nenhum sinal de reação alérgica ocorre.

Óleo de côco também possui uma longa história de uso em cuidados com a pele e no tratamento de feridas. Um estudo realizado em animais de 2010, mostrou que as feridas cicatrizam muito mais rápido com a aplicação de óleo de coco virgem, que os pesquisadores atribuíram aos componentes biologicamente ativos. Uma análise celular, mostrou um aumento na proliferação de fibroblastos e novos vasos sanguíneos nas feridas tratadas.

Um segundo estudo, confirmou um aumento na proliferação de vasos sanguíneos e cicatrização de feridas que os pesquisadores pensaram que poderia ser mediado pela regulação da via de sinalização do fator de crescimento endotelial vascular. Um modelo animal mostrou queimaduras tratadas com 70% de óleo de coco virgem hidrolisado, curado de maneira muito mais rápida do que aquelas que não foram tratadas.

O óleo de coco virgem também foi testado em úlceras diabéticas, que se tornam crônicas e são uma das principais complicações do diabetes. Animais diabéticos foram tratados com aplicação tópica de óleo de coco virgem, creme de sulfadiazina de prata ou não tratados por 14 dias. Ao longo do estudo, eles descobriram que a taxa de fechamento de feridas foi maior em animais que foram tratados com óleo de coco virgem.

Os animais também demonstraram reepitelização e aumento do colágeno no tecido da ferida. Em resumo, eles descobriram que o óleo de coco funcionou melhor do que o creme de sulfadiazina de prata, sendo um antimicrobiano tópico muito utilizado na prevenção e tratamento de infecções de feridas em pacientes com queimaduras de segundo e terceiro graus.

O mel é outro produto natural utilizado no tratamento de feridas e queimaduras. Nos hospitais, mel de Manukana forma de hidrogel, é muito implementado para o tratamento de queimaduras e úlceras diabéticas. Um artigo de jornal de 2021 relatou:

“Graças à capacidade anti-inflamatória do mel, sua incorporação em hidrogéis reduziu a expressão das citocinas pró-inflamatórias, atribuindo cura benéfica. Além disso, estudos "in vitro" e "in vivo", revelaram que sua administração melhorou de maneira significativa a angiogênese, reepitelização e formação de tecido de granulação.”

Outros estudos, mostram que o mel de grau médico pode ser utilizado como uma alternativa aos antibióticos em feridas que não cicatrizam e que pode até ser bem-sucedido na redução do tamanho da ferida, dor, odor e exsudato (fluidos vazando do tecido ferido).

Nutrientes necessários para a cicatrização de feridas

Seu organismo também necessita nutrientes específicos para melhorar a cicatrização de feridas em diferentes estágios. Suas escolhas de alimentos e suplementos podem afetar a cicatrização de feridas e diminuir o potencial de uma ferida se tornar crônica. Esses nutrientes podem incluir:

Beta-caroteno ou vitamina A — Durante a cicatrização de feridas, a vitamina A regula o crescimento e a diferenciação, estimula a renovação epidérmica, aumenta a reepitelização e restaura a estrutura.

A falta de vitamina A é comum durante a infecção e a aplicação tópica pode melhorar a formação de colágeno. Alimentos ricos em vitamina A ou beta-caroteno incluem frutas e vegetais. Não faça uso da suplementação com vitamina A se estiver grávida, amamentando ou tentando engravidar.

Vitamina C — Seu organismo utiliza vitamina C solúvel em água para produzir colágeno e formar novos tecidos. A vitamina C interage com alguns medicamentos, incluindo quimioterapia, estrogênio, varfarina e outros. Pergunte ao seu farmacêutico sobre quaisquer interações com os medicamentos que você usa. Alimentos ricos em vitamina C incluem: pimentão vermelho, folhas verdes escuras, brócolis e frutas.

 Zinco Esse micronutriente estimula a cicatrização de feridas através da proliferação e crescimento celular e a deficiência pode prejudicar a cicatrização de feridas. Pode ser utilizado como suplemento oral ou aplicado direto na ferida em forma de creme. Não aplique em feridas abertas e não utilize como suplemento a longo prazo, pois cria um desequilíbrio de cobre. Alimentos ricos em zinco incluem sementes de abóbora, ostras, carne bovina, aveia e cogumelos.

Vitaminas do complexo B — Diversas vitaminas B demonstraram acelerar a cicatrização de feridas e melhorar a saúde da pele e podem ajudar a melhorar a cicatrização de feridas em diabéticos. Alimentos ricos em muitas vitaminas do complexo B incluem abacate, salmão selvagem, ovos de pasto, sementes de girassol e espinafre.

Bromelina — Essa enzima encontrada no abacaxi, pode ajudar a melhorar o tempo de cicatrização e reduzir a dor sem aumentar o sangramento.

L-arginina — Isso tem sido utilizado pós-cirúrgico para melhorar a cicatrização, aumentando a força da ferida e a deposição de colágeno. Alimentos ricos em proteínas também são ricos em arginina, como carnes e laticínios orgânicos, criados em pastagens, nozes, sementes e peixes.


Recursos e Referências