RESUMO DA MATÉRIA

  • Entre o ano de 2000 e 2016, o número anual de mortes por câncer de fígado aumentou 43% para homens e 40% para mulheres. O carcinoma hepatocelular é o terceiro principal fator responsável de morte por câncer
  • Outras doenças relacionadas ao fígado, como cirrose e doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), também estão se tornando mais prevalentes, sendo que ambas aumentam o risco de câncer de fígado
  • Folato, cardo de leite, NAC, café e brócolis ajudam a promover a função hepática saudável

Por Dr. Mercola

Segundo a American Cancer Society (ACS), o câncer de fígado afeta cerca de 41.260 pessoas a cada ano, e essa prevalência está aumentando cada vez mais. Entre o ano de 2000 e 2016, o número anual de mortes por câncer de fígado aumentou 43% para homens e 40% para mulheres, responsável por mais de 11.000 mortes em 2016.

A taxa de sobrevivência de 5 anos para câncer de fígado localizado é de 34%, enquanto câncer regional que se espalhou para outros órgãos e o de fígado distante possuem taxas de sobrevivência de apenas 12% e 3%, respectivamente.

Globalmente, o carcinoma hepatocelular (CHC) por câncer de fígado é a terceira causa de morte por câncer devido à alta prevalência e dificuldade de tratamento. Pesquisadores alertam que até 2030, a taxa global de câncer de fígado vai ser dobrada, podendo afetar mais de 1,2 milhão.

Outras doenças relacionadas ao fígado, como cirrose, doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) e esteato-hepatite não alcoólica (NASH) também estão se tornando cada vez mais prevalentes. Entre 2001 e 2013, o número de casos diagnosticados de cirrose quase dobrou e as mortes por cirrose aumentaram 65% entre 1999 e 2016. O maior aumento (10,5%) ocorreu nas pessoas com idade entre 25 e 34 anos, onde a cirrose alcoólica se tornou desenfreado.

Como precursora do câncer, a cirrose causa mais de 1 milhão de mortes por ano em todo o mundo, com a incidência de NASH mais que dobrando de 1990 a 2017.

O consumo excessivo de álcool aumenta o risco de danos no fígado

Segundo os pesquisadores, o aumento da mortalidade por cirrose é impulsionado pelo consumo excessivo de álcool por adultos jovens. Embora a cirrose hepática relacionada ao álcool tenha sido uma condição que se desenvolve após 2 ou 3 décadas de consumo excessivo de álcool, essas estatísticas mais recentes revelam que esse acontecimento não precisa de fato demorar tanto, pois agora está ocorrendo (e causando a morte) de pessoas com idades de 20 e 30 anos.

Na faixa etária de 25 a 34 anos, a morte por doença hepática relacionada ao álcool quase triplicou entre 1999 e 2016. Esse aumento é paralelo às estatísticas que mostram um aumento no consumo excessivo de álcool entre 2002 e 2012. Também se correlaciona com a crise financeira global em 2008, onde mais pessoas começaram a morrer devido a cirrose. Pesquisadores acreditam que as preocupações financeiras e o desemprego podem ser fatores contribuintes significativos, fazendo com que as pessoas consumam maiores quantidades de álcool.

A cirrose (cicatrização irreversível do fígado) também pode ser causada por obesidade, DHGNA e hepatite e, por sua vez, pode levar à insuficiência hepática fatal e/ou câncer de fígado. Sobretudo os homens estão em risco, em grande parte porque são 5 vezes mais propensos a desenvolver DHGNA (Doença hepática gordurosa não alcoólica) do que as mulheres.

Fatores como a alimentação, exercício e tabagismo podem exacerbar seus riscos de ter problemas no fígado.

As pessoas com risco aumentado também incluem aquelas que possuem uma doença autoimune, inflamação crônica do fígado e aquelas cujos fígados foram danificados devido a crises de hepatite B ou C. A boa notícia, é que a cirrose hepática relacionada ao álcool pode ser revertida se detectada de modo precoce e desde que você pare de consumir bebidas alcoólicas.

Consumo Excessivo de Açúcar Impulsiona o Aumento das Taxas de NAFLD

Enquanto a cirrose relacionada ao álcool está elevando as taxas de mortalidade, o aumento da prevalência de DHGNA está contribuindo para a carga geral de doenças relacionadas ao fígado. Com a DHGNA, o fígado gorduroso ocorre na ausência de consumo significativo de álcool, sendo, em vez disso, conduzido pelo excesso de açúcar, razão pela qual até mesmo crianças pequenas podem apresentar esta condição.

Em geral, a DHGNA não apresenta sintomas, embora possa causar fadiga, icterícia, inchaço nas pernas e abdômen, confusão mental entre outros. Se não for tratada, pode provocar inchaço no fígado, chamado esteato-hepatite não alcoólica (NASH), podendo causar câncer de fígado ou insuficiência hepática. Assim como acontece com a cirrose relacionada ao álcool, no entanto, a DHGNA pode ser revertida em seus estágios iniciais através de uma alimentação saudável e prática de exercícios.

Mais importante ainda, você precisa eliminar a frutose processada e outros açúcares de sua alimentação. A frutose afeta o fígado de maneira muito semelhante ao álcool. Ao contrário da glicose, que pode ser usada por quase todas as células do seu corpo, a frutose só pode ser metabolizada pelo fígado, por ser o único órgão capaz de transportá-la.

Como toda a frutose é transportada para o fígado, se você consome quantidades elevadas, ela acaba o sobrecarregando e danificando da mesma forma que o álcool e outras toxinas. A forma como o fígado metaboliza a frutose também é muito semelhante ao álcool, pois ambos servem como substratos para a conversão de carboidratos em gordura, o que promove a resistência à insulina, dislipidemia (níveis anormais de gordura na corrente sanguínea) e esteatose hepática.

A frutose também sofre a reação de Maillard com as proteínas, levando à formação de radicais livres de superóxido que podem resultar em inflamação do fígado, assim como o acetaldeído (um metabólito intermediário do etanol). Segundo o Dr. Robert Lustig, um neuro-endocrinologista da divisão de endocrinologia da Universidade da Califórnia, a frutose é uma "toxina crônica para o fígado, dependendo da dosagem."

Excesso de glicose se converte em frutose e dizima seu NAD+

Alguns anos atrás, li uma excelente resenha a respeito do NAD, que me ajudou a entender muito melhor a bioquímica básica e faz todo o sentido. Eu aprendi que o excesso de frutose em alimentos processados ​​não é o único problema, pois o excesso de glicose é convertido em frutose pelo organismo em um esforço para metabolizar a glicose para obter energia. Deixe-me explicar.

Quando seu organismo é exposto ao excesso crônico de glicose, a primeira enzima na quebra da glicose é a hexoquinase, sendo que essa enzima fica saturada e não consegue mais quebrar a glicose. Quando isso ocorre, a glicose será metabolizada pela via do poliol, onde a glicose é metabolizada em sorbitol pela aldose redutase, e o sorbitol é subsequentemente metabolizado em frutose pela sorbitol desidrogenase (veja a figura abaixo).

Estima-se que quando você está saudável, apenas cerca de 3% da glicose passa pela via abaixo, porém no mínimo 30% da glicose flui por essa via na hiperglicemia crônica,17 criando um círculo vicioso de excesso de frutose.

Essa catástrofe metabólica é o resultado redox líquido da troca de uma molécula de NADPH por uma de NADH. Isso é de certo modo o que você quer evitar que aconteça, pois, o NADPH é utilizado como um reservatório redutor para seus antioxidantes e é necessário para produzir seus hormônios esteroides e gorduras. Quando os seus níveis estão baixos, é possível que você esteja com um problemão.

Complicando ainda mais, você aumenta o NADH e piora sua relação NAD+/NADH. À medida que o suprimento de combustível supera a demanda metabólica, a relação NAD/NADH mitocondrial e citoplasmática é reduzida. A hiperpolarização da membrana mitocondrial que se segue perpetua o vazamento de elétrons e o estresse oxidativo excessivo.

A boa notícia é que existe uma solução simples e de baixo custo, que deve melhorar de fato essa catástrofe metabólica. A primeira, realizar uma alimentação saudável, como já discutimos muitas vezes, para que seu organismo possa queimar gordura como combustível. Porém, você também pode tomar precursores de NAD como niacina simples de liberação não programada.

Isso deve ajudar a aumentar a relação NAD+/NADH e os níveis de NADPH. Conforme observado em um artigo recente, "A administração oral de ribosídeo de nicotinamida, um precursor natural de NAD+, corrigiu completamente esses fenótipos de NAFLD induzidos pela deficiência de NAD+."

Eu começaria a niacina de liberação não cronometrada em 25 a 50 miligramas algumas vezes ao dia, pois qualquer dose mais elevada de certo modo causará uma sensação de rubor inofensiva, porém de fato irritante. Também seria útil reduzir sua exposição a campos eletromagnéticos, pois isso também consome NAD + através da hiperativação de PARP e pode piorar a condição metabólica.

Exposições químicas de baixo nível ligadas a danos no fígado

Embora não tenha informações a respeito disso, é possível que a cirrose induzida pelo álcool esteja ocorrendo mais cedo como resultado de danos no fígado causados ​​por exposições químicas. Pesquisadores mostraram que mesmo pequenas quantidades de produtos químicos em alimentos, produtos farmacêuticos e de higiene pessoal podem, de fato, provocar danos ao fígado.

Um desses experimentos foi projetado para avaliar os efeitos de combinações químicas em baixas doses de fontes ambientais, como alimentos, produtos farmacêuticos e produtos de higiene pessoal.

Com quatro grupos de ratos Sprague-Dawley (ratos de laboratórios), pesquisadores administraram uma mistura de produtos químicos encontrados em produtos de uso diário em sua água potável, em doses variadas por um período de 6 meses. O grupo controle recebeu água sem produtos químicos.

Dos 3 grupos de tratamento, o grupo de baixa dose recebeu 25% da ingestão diária aceitável da União Europeia (UE) para os produtos químicos em questão, o grupo de dose média recebeu exatamente a ingestão diária aceitável definida pela UE, enquanto o grupo de alta dose, recebeu 5 vezes a ingestão diária satisfatória.

Após 6 meses, o peso corporal e marcadores bioquímicos foram avaliados, revelando que o peso dos animais teve um aumento de mais de 10% em todos os grupos de machos, em comparação aos controles. Aumentos modestos foram encontrados em fêmeas que receberam doses médias e altas dos produtos químicos.

Eles também descobriram efeitos adversos no fígado, sobretudo no nível de dose baixa e nos machos. No geral, os resultados sugerem que a exposição a baixas doses pode induzir danos no fígado, como resultado da combinação de diferentes mecanismos tóxicos e apoiam pesquisas anteriores que mostram que coquetéis químicos, mesmo em níveis baixos, podem danificar a função hepática e desencadear câncer.

Cardo-mariano ajuda na prevenção de danos ao fígado

O cardo-mariano é uma erva que tem sido utilizada há milhares de anos em benefício à saúde do fígado, rim e vesícula biliar. Nos dias atuais, a silimarina tem sido utilizada no tratamento de doenças hepáticas alcoólicas, hepatite viral aguda e crônica e doenças hepáticas induzidas por toxinas.

É de um conhecimento geral que o ingrediente ativo, um flavonóide chamado silimarina, seja responsável pelos efeitos benéficos atribuídos ao cardo de leite, incluindo proteção do fígado, propriedades antioxidantes, antivirais e anti-inflamatórias. No fígado, a silimarina funciona como um antifibrótico, prevenindo assim a cicatrização tecidual e bloqueia as toxinas ao inibir a ligação das toxinas aos receptores da membrana celular do fígado. A silimarina também protege o fígado e promove a função hepática saudável:

  • Suprimindo a inflamação celular
  • Inibindo o alvo mamífero da rapamicina (mTOR), uma via que, quando superativada, aumenta o risco de câncer
  • Ativando AMPK (proteína quinase ativada por AMP ativado), uma enzima dentro de suas células. A AMPK, também chamada de "interruptor mestre metabólico", pois desempenha um papel importante na regulação metabolismo e homeostase energética. AMPK produz muitos dos benefícios que você conseguiria, através da prática de exercícios e perda de peso, os quais beneficiam a saúde do fígado
  • Reduzir a lesão hepática causada por uma série de drogas e toxinas ambientais, incluindo paracetamol, quimioterapia, drogas psicotrópicas e álcool
  • Aumentar a glutationa, um poderoso antioxidante que desempenha um papel na desintoxicação de metais pesados e outras substâncias nocivas

Suplemento de N-acetilcisteína ajuda a saúde do seu fígado

Outro poderoso protetor do fígado é a N-acetilcisteína (NAC), um precursor necessário para a biossíntese da glutationa. Pesquisas sugerem de fato que o NAC pode ser uma alternativa melhor para a saúde do fígado em pessoas com hepatite C e outras doenças crônicas do fígado, do que o antioxidante resveratrol.

Álcool e acetaminofeno são 2 compostos comuns metabolizados pelo fígado, associados a danos no fígado. A suplementação de NAC tem sido eficaz na redução de danos associados ao consumo de álcool, quando realizada antes da ingestão do mesmo.

O NAC também é utilizado como antídoto para a toxicidade do acetaminofeno, que causa danos ao fígado ao esgotar a glutationa. Pesquisa publicada no Hepatitis Monthly também mostrou que a suplementação de NAC ajuda a melhorar a função hepática em pacientes com NASH.

A falta de folato piora a gravidade da NASH

Aumentar a ingestão de folato também pode auxiliar na proteção da função hepática. Em um estudo realizado com 83 pacientes com NASH, os pesquisadores descobriram que os níveis de folato e vitamina B12 estavam inversamente relacionados ao desenvolvimento de fibrose ou à formação de tecido cicatricial. Pesquisas anteriores identificaram uma associação entre baixos níveis de vitaminas e doença hepática crônica, porém essa é a primeira a encontrar uma associação entre o nível de folato e vitamina B12 com a gravidade da NASH.

Estudos também mostraram que a deficiência de folato pode aumentar o risco de câncer de fígado. Em um deles, que envolveu pacientes positivos para hepatite B (que estão em maior risco de danos no fígado), níveis mais altos de folato foram associados a um risco 67% menor de câncer de fígado.

Segundo os autores, o aumento do folato em humanos parece estar inversamente associado ao desenvolvimento de danos hepáticos e hepatocarcinoma, e esse folato pode oferecer ao fígado algum grau de proteção contra danos. O folato também pode reduzir os danos relacionados aos pesticidas, incluindo o autismo.

Seu organismo armazena cerca de 10 a 30 miligramas de folato por vez, quase 50% do qual está no fígado. O folato é a forma natural de vitamina B9 encontrada em alimentos e uma vez chamada de folacina. A palavra foi derivada do latim "folium", que significa folha. Vegetais de folhas verdes, como espinafre, são fontes abundantes de folato, assim como aspargos, brócolis, couve de Bruxelas e espinafre. O brócolis talvez seja o ideal, pois, segundo pesquisas ele ajuda na proteção contra a DHGNA.

No entanto, evite suplementos de ácido fólico. Embora prontamente absorvida, esta forma sintética não é convertida nos intestinos como o folato. Em vez disso, é convertido em seu fígado. Isso significa que o ácido fólico pode atingir a saturação de maneira mais rápida, podendo resultar em superexposição se você estiver tomando suplementos.

Café pode reduzir o risco de câncer de fígado

Por último, porém não menos importante, se você consome café, pode ficar aliviado ao descobrir que o café parece ter um efeito protetor contra o HCC, uma forma grave de câncer de fígado e a terceira causa de morte por câncer mais prevalente no mundo. Consumir uma única xícara de café todos os dias reduz o risco de HCC em um quinto.

Se você consome mais do que isso em um dia, seu risco de câncer de fígado é ainda menor. Duas xícaras de café por dia reduzem o risco em 35%, já cinco reduzem o risco pela metade. Dito isso, o consumo excessivo de café pode ter certos efeitos adversos. Conforme observado pelo autor principal, Dr. Oliver Kennedy, da Universidade de Southampton, no Reino Unido:

"Não estamos sugerindo que todos devam começar a beber cinco xícaras de café por dia. É preciso de mais investigação a respeito dos possíveis danos da alta ingestão de café e cafeína, e existe evidências de que deve ser evitado em certos grupos, como mulheres grávidas.”

Para otimizar os benefícios do café para a saúde, se certifique de seja orgânico e da cor preta, sem adição de leite ou açúcar. Uma alternativa muito melhor, seria a adição de manteiga ou óleo MCT ao café em vez de adoçantes.


Recursos e Referências