📝RESUMO DA MATÉRIA
- Um estudo francês recente encontrou glifosato em 57% das amostras de esperma de homens inférteis, com concentrações quatro vezes maiores no esperma do que no sangue.
- O glifosato, ingrediente ativo do herbicida Roundup da Monsanto, é utilizado no mundo todo e tem sido associado a vários problemas de saúde, incluindo infertilidade e câncer.
- Estudos em animais demonstraram que o glifosato pode danificar as células testiculares, reduzir a contagem de espermatozoides e alterar os níveis de testosterona, mesmo em baixas concentrações.
- Outros fatores que contribuem para a infertilidade incluem a exposição a produtos químicos PFAS e campos eletromagnéticos de tecnologias sem fio, como celulares e Wi-Fi.
- Para reduzir a exposição ao glifosato, compre alimentos orgânicos, tome água filtrada e evite usar produtos à base de glifosato. Considere testar seus níveis de glifosato e desintoxicar-se com vinagre de maçã ou glicina.
🩺Por Dr. Mercola
A infertilidade tornou-se uma crise mundial. A Organização Mundial da Saúde estima que 1 em cada 6 pessoas tem dificuldade para engravidar na atualidade. Embora a infertilidade feminina receba mais atenção no geral, a infertilidade entre os homens também está sendo analisada com atenção.
Pesquisas apontam que a infertilidade masculina representa 30% dos casos de infertilidade e, apesar de as causas dessa condição serem diversas, não há dúvida de que fatores ambientais, em especial os produtos químicos aos quais você é exposto todos os dias, desempenham um papel crucial.
Um estudo recente confirma isso, destacando um dos produtos químicos artificiais mais difundidos e devastadores da atualidade, o glifosato.
Segundo estudo, mais da metade das amostras de esperma contém glifosato
Um grupo de pesquisadores franceses buscou investigar a relação entre o glifosato e a infertilidade masculina. Após analisar amostras de homens que compareceram a uma clínica local de infertilidade, os pesquisadores descobriram que 73 dos 128 (cerca de 57%) participantes apresentavam níveis detectáveis de glifosato no sangue e no sêmen.
Publicado na edição de junho de 2024 da revista científica Ecotoxicology and Environmental Safety, o estudo observou que, embora os níveis de glifosato sejam superiores em amostras de sêmen, há uma correlação positiva entre o conteúdo de glifosato no plasma sanguíneo e no sêmen. Os autores do estudo constataram:
"Relatamos pela primeira vez na [pesquisa] humana a presença de GLY [glifosato] no esperma humano em quase 60% dos pacientes do sexo masculino em uma coorte francesa infértil em nossa clínica de infertilidade.
Encontramos concentrações de GLY quatro veze[s] maiores no esperma do que no sangue, podendo corresponder a uma alteração da barreira hemato-testicular. Nossos resultados sugerem um impacto negativo do glifosato na saúde reprodutiva humana e possivelmente na prole".
As amostras eram de homens com idades entre 26 e 57 anos que não apresentavam anomalias físicas ou doenças crônicas. Os pesquisadores também descobriram efeitos negativos no DNA e no estresse oxidativo. De acordo com um artigo do The Guardian:
"O artigo é apresentado enquanto pesquisadores buscam respostas para o motivo da queda nas taxas globais de fertilidade, e muitos suspeitam que a exposição a produtos químicos tóxicos como o glifosato seja um fator significativo nesse declínio.
O glifosato é usado em uma ampla variedade de culturas alimentares e em ambientes residenciais nos EUA. O produto à base de glifosato mais popular é o herbicida Roundup da Monsanto, que tem estado no centro de batalhas legais e regulatórias nos últimos anos".
O glifosato é o legado tóxico da Monsanto
Conhecido no passado como o ingrediente ativo do herbicida Roundup Ready da Monsanto, o glifosato é utilizado em cerca de 60% das formulações de herbicidas hoje em dia. Este herbicida de uso abrangente foi lançado no mercado pela Monsanto (hoje adquirida pela empresa de biotecnologia Bayer) em 1974.
Desde sua introdução, cerca de 8,6 bilhões de quilos (ou cerca de 18,9 bilhões de libras) de glifosato foram aplicados em campos agrícolas e outras terras no mundo todo. Até dois terços dessa quantidade foram utilizados apenas na última década. O glifosato também se tornou uma ferramenta popular para a dessecação de grãos não geneticamente modificados, leguminosas e feijões, o que impulsionou ainda mais o uso do produto químico.
Em seu livro, "Legado Tóxico: Como o herbicida glifosato está destruindo a nossa saúde e o meio ambiente", Stephanie Seneff, Ph.D., detalha o quão difundido é o uso do glifosato. De acordo com sua pesquisa, pelo menos 1 libra de glifosato é aplicado nos EUA todos os anos para cada homem, mulher e criança, o que é uma quantidade surpreendente.
Mesmo que você decida comprar produtos não-OGM, isso pode não ser benéfico, pois muitos itens não-OGM apresentam alguns dos mais altos níveis de glifosato. E embora a Monsanto afirme que seu produto é "biodegradável" e "amigável ao meio ambiente", as evidências apontam o contrário, já que o glifosato tem sido associado a efeitos nocivos à saúde, como danos renais, doenças hepáticas e câncer.
"Em dezembro [2023], um grupo das principais organizações de defesa da saúde pública dos EUA solicitou o banimento do produto à Agência de Proteção Ambiental, mesmo com a declaração de seus defensores de que não há provas definitivas da sua toxicidade para os humanos. Ainda assim, dezenas de países proibiram ou restringiram seu uso", relatou o The Guardian.
Estudos anteriores em animais associaram o glifosato à infertilidade
Enquanto o estudo em questão confirma a natureza do glifosato disseminada e como ele se acumula no corpo humano, estudos anteriores em animais apresentaram descobertas semelhantes sobre a ligação desse produto químico com a infertilidade.
O glifosato é um produto químico desregulador endócrino. Em mulheres, esses produtos químicos se aderem a receptores hormonais e interferem de forma direta no funcionamento dos hormônios esteroides, os quais são cruciais para a gravidez e o desenvolvimento fetal. Como resultado, eles podem alterar a quantidade de receptores presentes nas células, assim como afetar a criação, o movimento, os níveis e a degradação dos hormônios no sangue.
Nos homens, os produtos químicos desreguladores endócrinos alteram a produção de esperma, danificam a estrutura dos testículos, incluindo suas barreiras protetoras e vasos sanguíneos, e prejudicam as células testiculares conhecidas como células de Leydig e Sertoli. Elas são cruciais para o desenvolvimento sexual, pois ajudam a manter os espermatozoides saudáveis.
Em 2013, um estudo observou que a exposição ao herbicida Roundup da Monsanto induziu a morte das células de Sertoli nos testículos de ratos pré-púberes. O mais preocupante é que os efeitos foram observados em doses baixas — 36 partes por milhão (ppm) — e ocorreram após somente 30 minutos de exposição. Esses efeitos incluem:
- Estresse oxidativo induzido
- Ativação de múltiplas vias de resposta ao estresse
- Aumento da concentração de cálcio intracelular, levando ao excesso de cálcio e à morte celular
Um estudo de 2017 também descobriu que ratos Wistar que receberam o herbicida Roundup por via oral apresentaram contagens de espermatozoides mais baixas, redução na motilidade dos espermatozoides e maiores quantidades de células espermáticas anormais. O herbicida também causou danos severos à estrutura dos testículos dos sujeitos. Outros estudos anteriores também descobriram:
- Ratos expostos a concentrações de glifosato tão baixas quanto 1 ppm tiveram uma redução de 35% na testosterona em suas células espermáticas
- A exposição pré-púbere ao glifosato pode alterar os níveis de testosterona
- Patos expostos ao Roundup manifestaram alterações na estrutura dos testículos. Os pesquisadores concluíram que o herbicida pode "causar desordem na morfofisiologia do sistema genital masculino dos animais"
Outros fatores que aumentam o risco de infertilidade
Neste momento, metade dos homens na maioria das nações desenvolvidas está próxima ou prestes a se tornar infértil. Em 2017, uma meta-análise de 185 estudos descobriu que as contagens de espermatozoides em todo o mundo diminuíram em mais de 50% entre 1973 e 2013, e os números continuam a decair.
As populações masculinas da América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia apresentaram as quedas mais significativas. No geral, os homens nesses países tiveram uma redução de 52,4% na concentração de espermatozoides e uma queda de 59,3% no total de espermatozoides (concentração de espermatozoides multiplicada pelo volume total de uma ejaculação).
Em março de 2024, a The Lancet publicou um relatório prevendo que, até 2100, o problema da infertilidade global será tão severo que 97% dos países não conseguirão sustentar suas populações. Agora que está ficando claro que o glifosato é um dos fatores que contribuem para a diminuição da reprodução, é senso comum adotar as medidas necessárias para evitá-lo e outros produtos químicos tóxicos tanto quanto possível.
No entanto, é mais fácil falar do que fazer, já que esses produtos químicos prejudiciais estão por toda parte hoje em dia. Por exemplo, os "produtos químicos eternos" ou produtos químicos per- e polifluoroalquil (PFAS) são tão problemáticos e difundidos quanto o glifosato. Eles são encontrados em embalagens de alimentos, roupas, produtos de higiene pessoal e outros produtos resistentes a manchas e gordura.
Um estudo publicado na revista Environmental Health Perspectives observa que há "uma associação estatística significativa entre a exposição a uma mistura de PFAS no início da gravidez e a menor concentração de espermatozoides, a redução no total de espermatozoides e a maior proporção de espermatozoides não progressivos e imóveis" em filhos do sexo masculino.
A boa notícia é que existem algumas estratégias que abordam as causas principais da infertilidade. Listei algumas dicas abaixo para ajudá-lo:
- Minimize sua exposição a produtos químicos tóxicos: Isso inclui metais pesados, desreguladores endócrinos, pesticidas e herbicidas, formaldeído, solventes orgânicos, produtos químicos de lavagem a seco e vapores de tinta.
- Evite beber água da torneira não filtrada: Nossos canais de água são poluídos por resíduos e subprodutos industriais com frequência, por isso um sistema de purificação de água para toda a casa é um investimento que vale a pena.
- Adote uma dieta ideal para a fertilidade: Uma dieta ótima para a fertilidade é tanto sobre o que evitar quanto sobre o que incluir. Coma alimentos de VERDADE, de preferência orgânicos, para evitar resíduos de pesticidas, e cultivados por produtores locais.
- Evite fumar e consumir álcool: O álcool, o tabagismo e as drogas recreativas também podem prejudicar a fertilidade, reduzindo o tamanho dos testículos e diminuindo a contagem de espermatozoides.
CEMs — Outra causa oculta de infertilidade
Além dos produtos químicos desreguladores endócrinos, outro fator invisível que pode estar colocando sua capacidade reprodutiva em risco é a exposição a campos eletromagnéticos (CEMs) e radiação de radiofrequência de tecnologias sem fio, como celulares e Wi-Fi. De fato, acredito que essa pode ser a razão mais significativa pela qual as contagens de espermatozoides estão decaindo na atualidade.
Em um estudo de 2023 publicado na revista Fertility and Sterility, os pesquisadores descobriram que homens que usam seus celulares mais de 20 vezes por dia têm concentrações de espermatozoides e contagens de espermatozoides bem mais baixas do que aqueles que usam seus celulares uma vez por semana ou menos.
Martin Pall, Ph.D., explicou por que isso ocorre. Há quase uma década atrás, ele descobriu um mecanismo de dano biológico até então desconhecido causado pela radiação de micro-ondas. Suas membranas celulares contêm canais de cálcio dependentes de voltagem (VGCCs) que, quando ativados por micro-ondas, liberam cerca de 1 milhão de íons de cálcio por segundo.
Esse excesso massivo de cálcio intracelular então estimula a liberação de óxido nítrico (NO) dentro das suas células e mitocôndrias, que se combina com o superóxido para formar peroxinitrito. Os peroxinitritos não apenas causam danos oxidativos, mas também criam radicais livres hidroxila, que são os radicais livres mais destrutivos já encontrados.
Os radicais livres hidroxila dizimam o DNA mitocondrial e nuclear, suas membranas e proteínas, resultando em disfunção mitocondrial. Em um painel de especialistas em saúde infantil de 2013 sobre exposições a celulares e Wi-Fi, foi observado que "a barreira testicular, que protege os espermatozoides, é o tecido mais sensível do corpo... Além da contagem e função dos espermatozoides, o DNA mitocondrial do espermatozoide é danificado três vezes mais quando exposto à radiação do celular".
Muitos estudos in vivo e in vitro também demonstraram as possíveis implicações da exposição ao CEM na função reprodutiva. Em um artigo publicado na Clinical and Experimental Reproductive Medicine, os pesquisadores observaram que os CEMs podem afetar a motilidade dos espermatozoides, e o grau de dano pode variar dependendo da frequência, duração da exposição e intensidade dos CEMs.
Para reduzir seu risco, recomendo minimizar sua exposição aos CEMs. Evite carregar seu celular no corpo enquanto estiver ligado e evite usar laptops e tablets em seu colo. Desligue o Wi-Fi à noite e transforme seu quarto em uma zona livre de CEMs.
Verifique seu nível de glifosato
Voltando ao glifosato, lembre-se de que todos podem ser prejudicados por esse produto químico. Contudo, se você está planejando começar uma família, é crucial tomar medidas extras para reduzir sua exposição. O ideal é comprar alimentos orgânicos ou cultivados de forma biodinâmica, pois há uma menor chance de estarem contaminados com glifosato e outros pesticidas.
O mais importante é comprar produtos orgânicos, como carne, manteiga, leite e ovos, uma vez que esses produtos tendem a bioacumular toxinas quando alimentados com ração contaminada por pesticidas, concentrando-as em níveis muito mais altos do que os presentes em vegetais.
Além dos alimentos de origem animal, a carga de pesticidas de diferentes frutas e vegetais pode variar muito. Recomendo conferir as listas Dirty Dozen e Clean Fifteen do Environmental Working Group para descobrir quais frutas e vegetais são melhores para serem comprados orgânicos e quais podem ser adquiridos da maneira convencional.
Também aconselho investir em um bom sistema de filtragem na sua casa para reduzir a exposição que pode ocorrer através da água. Você também deve evitar usar produtos à base de glifosato em sua casa, jardim ou local de trabalho.
Você também pode testar seus níveis de glifosato. O Health Research Institute (HRI Labs) criou dois testes de glifosato para o público — um kit de teste de água e um kit de teste de exposição ambiental. O segundo é um teste de urina que o auxiliará a descobrir o quanto de glifosato você tem em seu sistema, o que ajuda a determinar quão pura (ou contaminada) está a sua dieta. Se o seu nível de glifosato estiver alto, é provável que você também tenha sido exposto a muitos outros agroquímicos.
Como se desintoxicar do glifosato
Uma maneira de ajudar seu corpo a eliminar o glifosato é consumir vinagre de maçã orgânico e não pasteurizado. Seneff recomenda isso, pois as Acetobacter no vinagre podem decompor o glifosato, permitindo que ele seja excretado do seu corpo.
"Fazemos molho para salada [com vinagre de maçã]", diz Seneff. "Comemos salada no jantar e acho que isso pode ajudá-lo na decomposição de todo o glifosato que estiver na sua boca, pois logo começa a transformar o glifosato em fósforo útil. Isso o elimina por inteiro".
O Dr. Dietrich Klinghardt, especialista em toxicidade por metais e sua conexão com infecções crônicas, recomenda tomar 1 colher de chá ou 4 gramas de pó de glicina duas vezes ao dia por várias semanas. Isso também ajuda a expulsar o glifosato do seu sistema. Após algumas semanas, você pode reduzir a dose para um quarto de colher de chá (1 grama) duas vezes ao dia.
Você também pode consumir colágeno orgânico de gado alimentado com pasto, pois ele é rico em glicina por natureza. O caldo de ossos orgânico também é uma ótima fonte de colágeno rico em glicina.
🔍Recursos e Referências
- World Health Organization, Infertility
- J Clin Med. March 2023; 12(6): 2366
- Ecotoxicology and Environmental Safety, June 15, 2024, Volume 278, 116410
- The Guardian, May 17, 2024
- Int J Mol Sci. May 2022; 23(9): 4605
- Environmental Toxicology and Pharmacology June 2023, Volume 100, 104149
- BBC News, October 15, 2009 (Archived)
- Environmental Pollution January 2020, Volume 256, 113334
- Chemosphere February 2023, Volume 315, 137751
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