📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Cerca de 80% a 90% das vezes, as ITUs são provocadas por bactérias E. coli introduzidas no trato urinário
  • A E. coli causadora de ITU pode ser introduzida em seu organismo através de alimentos ingeridos, ou seja, frango, carne de porco e boi
  • Um estudo sugeriu que a E. coli presente em alimentos pode causar cerca de 640.000 ITUs nos EUA por ano, e os números podem ser maiores em áreas próximas a operações concentradas de alimentação animal (CAFOs)
  • Caso não sejam tratadas de forma eficaz, as ITUs podem evoluir para infecções renais e sepse; mortes por ITUs aumentaram 2,4 vezes de 1990 a 2019
  • O cloreto de metiltionínio é um agente eficaz contra ITUs, pois elimina quase qualquer patógeno presente na bexiga sem perturbar o microbioma como fazem os antibióticos

🩺Por Dr. Mercola

As infecções do trato urinário (ITU) são uma das condições de saúde mais comuns no mundo, afetando metade das mulheres por uma ou mais ITU durante a vida. Embora as ITUs sejam cerca de 3,6 vezes mais comuns em mulheres do que em homens, elas tendem a ser mais complicadas nos homens.

Foi o caso do secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, hospitalizado por uma ITU que se desenvolveu após ter sido submetido a uma cirurgia de câncer de próstata. Embora o esperado seja que ele se recupere 100%, as mortes por infecções do trato urinário aumentaram 2,4 vezes entre 1990 e 2019.

Trazem problemas significativos para os sistemas de saúde e à saúde pública, ao mesmo tempo que reduzem a qualidade de vida dos indivíduos. Foi registrado em 2019, 404,61 milhões de casos de ITU, com 236.790 mortes.

Qual a causa da maioria das ITUs?

Cerca de 80% a 90% das vezes, as ITUs são provocadas por E. coli, que pode ser introduzida no trato urinário dpor diversos modos, como através das fezes ou na relação sexual. A uretra responsável pelo transporte da urina da bexiga para fora do organismo, é muito mais curta nas mulheres do que nos homens, sendo um dos motivos pelas quais as mulheres tendem a ter mais ITUs.

“É muito mais difícil para as bactérias chegarem à bexiga” dos homens, disse Marisa Clifton, diretora de saúde da mulher do Instituto Urológico Brady da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, ao The Washington Post. Mas esse é apenas um fator para as ITUs.

O risco de ITUs aumenta devido a idade, sobretudo após os 60 anos. Os cálculos renais também aumentam a probabilidade de ITUs, assim como o aumento benigno da próstata nos homens, podendo causar incapacidade de esvaziar a bexiga, aumentando o risco de infecção. Nas mulheres, as alterações nos níveis de estrogênio após a menopausa podem alterar o crescimento bacteriano, aumentando a probabilidade de ITUs.

Outro motivo pela qual as ITUs tendem a ser tão elevada nas mulheres na pós-menopausa é porque a infecção pode ser causada por diferentes patógenos. Segundo uma pesquisa do Journal of Molecular Biology, os dados descobertos através de biópsias de urina e bexiga “sugerem que diversas espécies bacterianas e a resposta imune adaptativa desempenham papéis importantes” nas ITUs recorrentes.

Nessa população, as bactérias podem formar comunidades nas profundezas da parede da bexiga, provocando inflamação crónica e podendo dificultar o tratamento. Outro fator determinante é a exposição a bactérias resistentes a antibióticos em hospitais. Nas unidades de saúde, até 9,4% dos pacientes podem desenvolver ITUs associadas aos cuidados de saúde, que podem ser fatais.

Entre os pacientes hospitalizados, as ITUs apresentam uma taxa de mortalidade de 2,3%, junto com custos associados de US$ 350 milhões a US$ 450 milhões nos EUA por ano. 9 Enquanto a E. coli continua sendo a causa mais comum de ITUs, incluindo ITUs recorrentes. Outros patógenos comuns incluem:

Klebsiella pneumoniae

Staphylococcus spp.

Enterococcus faecalis

Estreptococos do grupo B

Proteus mirabilis

Pseudomonas aeruginosa

UTIs podem ser uma doença de origem alimentar ligada ao frango

Ratos infectados com E. coli, que em geral é encontrada no trato intestinal. Os problemas só aparecem quando essa bactéria está presente em grandes quantidades em lugares que não deveria estar, como seu sistema urinário. Os conhecimentos convencionais vinham sustentando que as ITUs eram causadas sobretudo por uma transferência da E. coli durante relações sexuais com um indivíduo infectado e/ou pela transferência de bactérias fecais do seu ânus para a sua uretra devido à falta de higiene.

Segundo estudos recentes, a maioria das ITUs são causadas pela exposição a frangos contaminados. Resumindo, é provável que a E. coli também possa ser introduzida em seu organismo a partir dos alimentos que você ingere, como frango, carne suína e bovina.

Um estudo publicado na revista mBio em 2018, descobriu que 79,8% de amostras de frango, porco e peru compradas em grandes mercados de Flagstaff, Arizona, estavam contaminadas com E. coli. Os pesquisadores também examinaram amostras de sangue e urina de pessoas que visitaram um grande centro médico da região, e descobriram a presença da E. coli em 72,4% dos pacientes diagnosticados com alguma ITU.

Um tipo de E. coli conhecido como E. coli ST131 foi identificado nas amostras de carne (como carnes de aves) e nas amostras de humanos com ITU. A maior parte da E. coli nas aves eram conhecida como ST131-H22, que se desenvolve bem em aves e também foi encontrada em amostras de ITU humanas.

"Nossos resultados sugerem que uma sub-linhagem da ST131 a ST131 H22 se estabeleceu em populações de aves ao redor do mundo e que suas carnes podem ser um veículo para a exposição e infecção de humanos," disseram os pesquisadores, adicionando que a E. coli é apenas uma das muitas que podem ser transmitidas de aves e outras fontes de carne para os humanos.

Um estudo de 2020, também observou que aves e suínos são importantes reservatórios de E. coli, as responsáveis pelas ITUs. Para testar a teoria de que o consumo de carne poderia aumentar o risco de ITUs, eles compararam o risco de ITU em pessoas que não consomem carne com o de pessoas que consomem. Os resultados mostraram que uma alimentação vegetariana estava ligada a um menor risco de ITU, sendo cerca de 16%.

Uma investigação da Consumer Reports também revelou contaminação fecal (enterococos e/ou E. coli não produtora de toxinas) que pode causar ITUs em todos os 458 quilos de carne moída testada.

E. Coli de alimentos pode causar 640.000 ITUs nos EUA por ano

Caso consuma alimentos contaminados com E. coli, e essa E. coli migrar do intestino para o ânus e para a uretra, poderá ocorrer uma ITU. Com uma análise genómica comparativa, investigadores da Universidade de Minnesota e colegas descobriram que cerca de 8% das infecções por E. coli na sua população (a maioria das quais eram ITUs) eram devidas a estirpes zoonóticas de origem alimentar.

Cepas de E. coli de origem alimentar, foram associadas a bactérias assintomáticas na urina, infecções do trato urinário e sepse, com efeitos significativos para a saúde pública. Segundo os cientistas:

“As implicações de nossas descobertas para a saúde pública são substanciais. Como a E. coli provoca cerca de 6 a 8 milhões de ITUs nos EUA todos os anos, até 480.000 a 640.000 infecções extraintestinais por FZEC [E. coli zoonótica transmitida por alimentos] poderiam ocorrer nos EUA por ano.
Segundo nossas descobertas, as cepas FZEC poderiam causar mais ITUs no ano, do que qualquer outra cepa não-E. coli uropatogênica (por exemplo, Klebsiella pneumoniae) ou qualquer uma das principais linhagens de E. coli patogênicas extraintestinais associadas ao homem, incluindo ST131-H30, ST95 e ST73.”

ITUs causadas por E. coli de origem alimentar podem ser ainda mais comuns em áreas próximas das CAFO, bem como em países de baixo e médio rendimento, onde as infra-estruturas de água, saneamento e higiene estão menos desenvolvidas, concluiu o estudo.

Complicações de ITU podem ser graves

Se a E. coli chegar no trato urinário e se multiplicar, você poderá apresentar alguns sinais comuns de ITU, como:

  • Ardência ao urinar
  • Vontade de urinar com frequência
  • Dores na parte inferior do abdômen
  • Sangue na urina (às vezes, não sempre)
  • Urina turva ou malcheirosa

O motivo do seu organismo não conseguir apenas eliminar a E. coli através da micção é que a bactéria possui pequenas projeções, parecidas com dedos, chamadas fímbrias, compostas por um complexo aminoácido-açúcar, uma glicoproteína chamada lectina, o que as torna viscosas.

Essa viscosidade permite que as bactérias se prendam à parede interna da sua bexiga e/ou consigam subir para os rins, o que torna a situação muito séria. Se a infecção se espalhar para os rins, você poderá sentir sinais adicionais de doença, incluindo:

  • Fadiga
  • Febre, calafrios ou suor
  • Dores nas costas, nas laterais (flanco) ou na virilha
  • Mudanças mentais ou confusão
  • Vômitos e náusea

A sepse é outra complicação potencial de ITU não tratada ou sem sucesso no tratamento, que ocorre caso a infecção seja causada por bactérias resistentes aos medicamentos. A sepse pode ser fatal.

Nos idosos, confusão, delírio, tontura e outras alterações comportamentais podem ser os únicos sinais de ITU, podendo dificultar o diagnóstico e por consequência atrasar o tratamento. Se esses sintomas aparecem em um adulto mais velho, devem ser examinados para ver se existe uma ocorrência de ITU. O tratamento com cloreto de metiltionínio pode ser útil nesses casos, conforme discuto a seguir.

O que ajuda a reduzir o risco de ITUs?

Para manter um trato urinário saudável e ajudar a prevenir a ocorrência de ITUs:

Consuma bastante água filtrada todos os dias

Urine sempre que sentir vontade. Não resista à vontade

Limpe de frente para trás, impedindo que bactérias entrem na uretra

Evite banheiras de hidromassagem. Utilize o chuveiro no lugar da banheira

Limpe as regiões genitais antes de uma relação sexual

Evite utilizar sprays de higienização feminina, que podem irritar sua uretra

Utilize um bidê

Alimentos fermentados como kefir, chucrute e outros vegetais fermentados, são excelentes para a sua saúde de forma geral, inclusive seu trato urinário

Cranberries também podem ser úteis. Uma pesquisa publicada no Cochrane Database of Systematic Reviews, observou que essas frutas cítricas podem conter proantocianidinas que ajudam a prevenir que a E. coli possa aderir às células uroteliais que revestem a bexiga.

Uma revisão com 50 estudos e 8.857 participantes randomizados, mostrou que os produtos de cranberry podem reduzir tanto o risco de desenvolver ITUs quanto o risco de infecções sintomáticas do trato urinário verificadas em mulheres com ITUs recorrentes. A revisão concluiu que os dados apoiaram o “uso de produtos de airela para reduzir o risco de ITUs sintomáticas verificadas em mulheres com ITUs recorrentes, em crianças e em pessoas suscetíveis a ITUs após intervenções.”

Saber da origem de sua carne também é importante, devido sua ligação com bactérias causadoras de ITU e resistência a antibióticos. Embora eu não recomende o consumo de frango devido às grandes quantidades de ácido linoleico que ele pode conter, caso consuma, tente escolher por opções orgânicas criadas em pastagens, pois elas podem apresentar menor risco de contaminação. Qualquer carne que você consuma deve vir de um agricultor local que utilize métodos de agricultura regenerativa.

Quanto ao tratamento, considere cloreto de metiltionínio, a molécula-mãe da hidroxicloroquina e da cloroquina, medicamentos não patenteados muito utilizados ​​no tratamento de malária, COVID-19. O cloreto de metiltionínio é na verdade um dos medicamentos mais antigos do mundo. Um fármaco de 1876, sendo utilizado como corante têxtil para jeans, porém apresenta diversos benefícios medicinais.

É um agente eficaz contra ITUs, pois é excretado pelos rins na bexiga, onde atinge concentrações elevadas e se torna um potente estresse oxidante que elimina qualquer patógeno ali presente, sem perturbar o microbioma como fazem os antibióticos. Além disso, tem o “efeito colateral” de melhorar a saúde do cérebro e reduzir a demência, tornando-o ideal para o tratamento de ITU em adultos mais velhos.