📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Pesquisadores da Universidade de Helsinque, relacionaram uma cepa da bactéria Desulfovibrio como agente causador do mal de Parkinson, o que pode abrir novos caminhos terapêuticos para rastrear, retardar a progressão ou prevenir a mesma
  • Quase 1 milhão de pessoas nos EUA vivem com Parkinson e 90.000 novos casos são diagnosticados a cada ano; novas descobertas apoiam pesquisas anteriores que demonstram uma ligação intestino-cérebro no mal de Parkinson
  • Os pesquisadores também acreditam que a doença neurodegenerativa pode ser tratada com sucesso ativando a autofagia, o processo de eliminação de células danificadas e mortas para estimular o crescimento de novas células saudáveis
  • A doença de Alzheimer é outra condição neurodegenerativa ligada a bactérias intestinais específicas, incluindo ácidos graxos específicos de cadeia curta e lipopolissacarídeos, as paredes celulares de bactérias mortas
  • Você pode ter diversas medidas para ajudar na otimização de seu microbioma intestinal, incluindo o consumo de alimentos fermentados para semear seu intestino com bactérias saudáveis e alimentá-los com fibras solúveis e insolúveis probióticas. Evite sabonetes antibacterianos e produtos com triclosan, alimentos processados, carne convencional e antibióticos, a menos que seja de fato necessário

🩺Por Dr. Mercola

Pesquisadores da Universidade de Helsinki, relacionaram uma cepa da bactéria Desulfovibrio como agente causador do mal de Parkinson. Os pesquisadores esperam que esse avanço permita a triagem e remoção das bactérias do intestino e de certo modo prevenir a doença.

O mal de Parkinson causa movimentos involuntários ou incontroláveis, resultados de danos cerebrais, cujo mecanismo ainda não foi confirmado. As pessoas percebem que os sintomas começam de maneira gradual, piorando com o passar do tempo. Esses movimentos ocorrem, porque as células que produzem dopamina, um neuroquímico que ajuda a coordenar os movimentos, param de funcionar ou morrem.

Embora seja conhecido como um distúrbio do movimento e os sintomas principais incluam lentidão e rigidez ao caminhar e ao equilíbrio, também pode provocar outros sintomas, como depressão, problemas de memória e constipação. Embora não tenha cura, algumas opções de tratamento podem oferecer alívio.

Como os sintomas podem diferir de pessoa para pessoa, os tratamentos também devem ser personalizados. Os medicamentos são utilizados como primeira opção, mas um implante cerebral cirúrgico que fornece corrente elétrica leve oferece alívio dos sintomas para algumas pessoas. Isso também é conhecido como estimulação cerebral profunda. Outros tratamentos experimentais incluem transplantes de células-tronco, tratamentos de reparo de neurônios e terapias genéticas ou tratamentos direcionados a genes.

Bactérias nocivas são uma possível causa do mal de Parkinson

As evidências do estudo apresentado sugerem que, com o teste e a remoção das bactérias nocivas, os médicos podem prevenir o mal de Parkinson ou interromper sua progressão. A característica principal na patologia é a agregação da proteína neuronal alfa-sinucleína. 6 Pesquisas anteriores sugeriram que essas agregações poderiam ser induzidas no intestino por micróbios patogênicos, que foram ligados ao mal de Parkinson.

Os pesquisadores utilizaram amostras fecais de 10 pacientes com Parkinson e amostras fecais de seus cônjuges saudáveis para procurar espécies de bactérias Desulfovibrio. Cepas isoladas foram alimentadas com nematóides para fundir a alfa-sinucleína com uma proteína amarela fluorescente. Esses foram então utilizados em um modelo animal e comparados com uma cepa bacteriana de controle.

O objetivo era determinar como as diferentes cepas de bactérias contribuíram para a progressão do mal de Parkinson. Os pesquisadores descobriram que as cepas de bactérias isoladas de pacientes com o mal de Parkinson causaram a agregação da proteína ligada ao mesmo.

Eles também observaram que diferentes cepas da mesma bactéria de indivíduos saudáveis não causavam agregação no mesmo grau. Comentando os resultados do estudo, Per Saris, do departamento de microbiologia da Universidade de Helsinque, disse:

"Nossas descobertas tornam possível rastrear os portadores dessas bactérias nocivas Desulfovibrio. Eles podem ser alvo de medidas para remover essas cepas do intestino, podendo aliviar e retardar os sintomas de pacientes com mal de Parkinson.
Uma vez que a bactéria Desulfovibrio é eliminada do intestino, os agregados de α-sinucleína não são mais formados nas células intestinais, a partir das quais eles viajam para o cérebro através do nervo vago como proteínas priônicas.”

Ligação do cérebro intestinal no mal de Parkinson

Segundo a Fundação Parkinson, existe 1 milhão de pessoas nos EUA que vivem com o mal de Parkinson, 90.000 são diagnosticadas com a doença a cada ano e a incidência da mesma aumenta conforme a idade. Um estudo de 2018 publicado no Journal of Parkinson's disease. demonstrou uma ligação entre o desenvolvimento do mal de Parkinson e seu microbioma intestinal.

O estudo apresentado concentrou-se na patologia da alfa-sinucleína, biomarcadores e microbioma intestinal e, como outros estudos descobriram, a alfa-sinucleína apresenta um papel no desenvolvimento de casos parecidos e esporádicos do mal de Parkinson. Como os sintomas só são aparentes depois que as células cerebrais são afetadas, é difícil diminuir a progressão da doença.

Os pesquisadores têm procurado maneiras de detectar a condição mais cedo e os resultados do estudo apresentado podem ajudar a impactar de maneira positiva a prevenção e o tratamento. A alfa-sinucleína é uma proteína pré-sináptica ligada de maneira neuropatológica e de forma genética ao mal de Parkinson.

Embora possam contribuir para os sintomas, essas células são tóxicas para a homeostase celular e provocam a morte neuronal, afetando a função sináptica. A alfa-sinucleína secretada também pode apresentar efeitos negativos nas células vizinhas, contribuindo para agregação e progressão. Os pesquisadores têm procurado identificar possíveis vias envolvidas na transferência de longa distância da proteína do cérebro para o intestino, onde é encontrada em pessoas que apresentam o mal de Parkinson.

A importância da autofagia no mal de Parkinson

Alguns dos aspectos da doença incluem a supressão do sistema autossômico-lisômico de autofagia, que é uma degradação sistemática dos componentes funcionais do seu corpo devido à destruição celular e é caracterizada pela perda de neurônios transmissores de dopamina em uma seção do mesencéfalo. Ao ativar a autofagia, você pode começar a reparar o mecanismo disfuncional.

Os pesquisadores acreditam que as doenças neurodegenerativas podem ser tratadas com sucesso ativando a autofagia. Autofagia é um processo de regeneração natural e refere-se ao processo de eliminação de células danificadas ao digeri-las. Em essência, ajuda a limpar as células velhas e danificadas e estimula o crescimento de novas células saudáveis, sendo crucial para o rejuvenescimento celular e longevidade.

Os pesquisadores explicam o processo em um artigo publicado na Nature Reviews Drug Discovery, dizendo que a via está envolvida em uma variedade de condições de saúde humana, incluindo distúrbios metabólicos, doenças neurodegenerativas, infecciosas e câncer. Em 2012, os pesquisadores observaram que a desregulação da autofagia foi observada no cérebro de pacientes com mal de Parkinson, assim como em modelos animais.

Os cientistas também reconhecem que a autofagia desempenha uma função crucial na manutenção da saúde neurológica. Duas principais características da patologia do mal de Parkinson são o comprometimento da autofagia que permite o acúmulo de alfa-sinucleína e a subsequente degeneração dos neurônios dopaminérgicos.

Diversos estudos examinaram o potencial de medição de biomarcadores de autofagia para detecção precoce da doença. Um artigo de 2019 na Current Medicinal Chemistry reconhece que defeitos na autofagia, as vias de microautofagia, macroautofagia e autofagia mediada por chaperonas resultam no acúmulo de agregados proteicos.

Essas são características comuns em diversas doenças neurodegenerativas, incluindo a doença de Huntington, o mal de Parkinson e a doença de Alzheimer. Eles concluíram que, no desenvolvimento de novas intervenções, os pesquisadores precisam de uma compreensão mais profunda dos defeitos da autofagia no mal Parkinson e também devem levar em consideração a natureza multifatorial do processo da doença.

Alzheimer e conexão intestinal

A doença de Alzheimer continua a ser uma das principais causas de morte nos EUA segundo a Alzheimer's Association, 1 em cada 3 idosos morre com Alzheimer ou outro tipo de demência e, conforme o CDC, é a 7° principal causa de morte nos Estado Unidos

Embora a cura permaneça indescritível, os pesquisadores fizeram a associação entre o microbioma intestinal e a saúde do cérebro, sugerindo que as bactérias nos intestinos influenciam a função cerebral e podem até promover a neurodegeneração.

Em um estudo realizado com 89 pessoas entre 65 e 85 anos de idade, os pesquisadores utilizaram imagens de PET para medir os depósitos amilóides no cérebro e também mediram lipopolissacarídeos e ácidos graxos de cadeia curta. Os LPS, ou lipopolissacarídeos são, para ser mais específico, paredes celulares de bactérias mortas.

Como seu sistema imunológico percebe os LPSs como bactérias vivas, ele monta uma defesa imunológica e aumenta o perfil inflamatório. LPSs foram encontrados em placas amilóides nos cérebros de pacientes com Alzheimer. Altos níveis de lipopolissacarídeos e ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), acetato e valerato foram associados a grandes depósitos de amiloide no cérebro, segundo o estudo.

O butirato, outro ácido graxo de cadeia curta, pareceu ter um efeito protetor, pois altos níveis foram associados a menos amiloide. Como no estudo apresentado, que demonstrou que cepas específicas de bactérias intestinais estão associadas ao desenvolvimento do mal de Parkinson, esse estudo também demonstrou que produtos bacterianos na microbiota intestinal influenciam o número de placas amiloides no cérebro.

Como afirma Moira Marizzoni, a autora da pesquisa no Centro Fatebenefratelli, em Bréscia, Itália: "Nossos resultados são indiscutíveis: existe uma relação entre a quantidade de placas de amiloides no cérebro e certos produtos de bactérias intestinais."

Outro estudo publicado em março de 2023, identificou 10 tipos bacterianos associados a uma maior probabilidade de desenvolver a doença de Alzheimer. Tal como acontece com as bactérias nocivas identificadas com maior probabilidade do mal de Parkinson, os pesquisadores esperam que essa descoberta também leve a novos tratamentos que ajudem a reduzir o risco de uma pessoa desenvolver a doença e retardar a progressão.

Como potencializar seu microbioma intestinal

No estudo de Parkinson, os pesquisadores descobriram que cepas prejudiciais de Desulfovibrio estavam ligadas ao desenvolvimento do mal de Parkinson e no estudo de Alzheimer, a equipe descobriu que indivíduos com Alzheimer tinham uma diversidade microbiana reduzida e tinham 10 bactérias super-representadas e outros micróbios reduzidos.

À medida que as equipes de pesquisa continuam a encontrar conexões mais fortes entre a microbiota intestinal e a saúde neurológica, faz sentido otimizar suas bactérias intestinais para protegê-lo dessas e de outras condições de saúde. Ao replantar seu intestino com bactérias benéficas, você ajuda a manter as populações de micróbios e fungos patogênicos sob controle e evita que eles possam assumir o controle.

Uma das maneiras mais fáceis de otimizar seu intestino é consumir de maneira regular alimentos fermentados e cultivados. Essa é de fato a maneira mais eficaz e menos dispendiosa de causar um impacto significativo no seu microbioma intestinal. Entre as opções saudáveis estão produtos lácteos orgânicos cultivados alimentados com capim, como kefir e iogurte, natto e todos os tipos de vegetais fermentados.

Não sou um grande defensor de utilizar muitos suplementos, pois acredito que a maior parte de sua nutrição deve vir de alimentos, mas os probióticos são a exceção se você não consumir alimentos fermentados de maneira regular. Os probióticos à base de esporos, ou esporobióticos, podem ser muito úteis quando você está utilizando antibióticos, além de serem um excelente complemento para os probióticos regulares.

Como sabe, os antibióticos matam da mesma forma as bactérias presentes no intestino, sejam elas boas ou ruins. É por isso que o uso de antibióticos resulta em infecções secundárias e redução da função imunológica. A exposição crônica a antibióticos através da alimentação, mesmo que em baixa dosagens, também causa danos para o microbioma intestinal, resultando em doenças crônicas e elevação do risco de resistência a medicamentos.

Além de contribuir com bactérias benéficas para seu intestino e apoiar essas bactérias com fibra prebiótica, também é importante evitar coisas que perturbam ou danificam seu microbioma. Eles incluem:

  • Antibióticos, a menos em casos de estrita necessidade
  • Carnes e outros produtos derivados de animais submetidos à criação convencional, uma vez que tais animais recebem doses baixas de antibióticos com frequência, além de cereais submetidos a modificação genética e/ou glifosato
  • Alimentos processados (visto que o excesso de açúcares serve de alimento para as bactérias patogênicas)
  • Água com cloro e/ou flúor
  • Sabonete antibacteriano e produtos que contêm triclosano