📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Ao contrário do óleo de krill, uma fonte superior de gorduras ômega-3, o óleo de peixe carece de fosfolipídios, que aumentam a absorção dessa gordura e fornecem outros benefícios
  • Uma nova forma lisofosfolipídica de DHA mostra-se promissora para prevenir o declínio visual que ocorre com doenças crônicas como Alzheimer e diabetes
  • O óleo de krill neutraliza os processos neuroinflamatórios, devido aos seus fosfolipídios e compostos benéficos adicionais como a astaxantina
  • Embora o óleo de krill possua menos EPA e DHA por grama de suplemento do que o óleo de peixe, é mais biodisponível, pois eles estão ligados em uma forma de fosfolipídio

🩺Por Dr. Mercola

Você já ouviu falar sobre os diversos benefícios das gorduras ômega-3 para o coração, cérebro e muito mais, mas se estiver consumindo na forma de suplemento, certifique-se de que esteja com os fosfolipídios. Salmão selvagem, sardinha e alguns outros peixes são excelentes fontes de ácidos graxos ômega-3 eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA).

No entanto, como a maioria dos americanos não consome muito frutos do mar, muitos dependem de suplementos de óleo de peixe. Esse é um erro para qualquer um que faça essa escolha. Isso ocorre porque o processo químico utilizado para fabricar a maioria desses produtos, transesterificação, transforma o óleo em um produto sintético muito distante das gorduras naturais que você obteria ao se alimentar de sardinha ou outro peixe carnudo.

Existem muitos problemas com o óleo de peixe sintético, e a absorção é apenas um deles. Os ácidos graxos livres do óleo de peixe têm uma taxa de absorção de pelo menos 95%. O EPA em sua forma natural de triglicerídeos teve uma taxa de absorção de 68% em um estudo, enquanto as formas de éster etílico, o tipo encontrado em quase todos os suplementos de óleo de peixe, absorveram apenas cerca de 20%, assim como os ácidos graxos livres.

Ao contrário do óleo de krill, uma fonte superior de gorduras ômega-3, o óleo de peixe carece de fosfolipídios. A pesquisa agora está confirmando o quão importante é o componente fosfolipídio quando se trata de colher todos os benefícios que você pode de suas gorduras ômega-3.

A forma fosfolipídica do ômega-3 ajuda a prevenir o declínio visual

Estudos recentes mostram que uma nova forma lisofosfolipídica de DHA (LPC-DHA) é promissora na prevenção do declínio visual que ocorre com doenças crônicas como Alzheimer e diabetes, de acordo com um estudo apresentado na reunião anual de 2023 da American Society for Biochemistry and Molecular Biologia. Enquanto o DHA na maioria dos suplementos de óleo de peixe não consegue atingir a retina, onde ele se concentra, o LPC-DHA atravessa a retina a partir da corrente sanguínea.

“Aumentar o DHA da retina em doses clinicamente viáveis não foi possível até agora devido à especificidade da barreira hemato-retiniana que é incompatível com a especificidade da barreira intestinal,” explicou o autor do estudo, Sugasini Dhavamani. “Esse estudo utiliza a nova abordagem do LPC-DHA dietético que supera as barreiras intestinais e hematorretinianas, além de melhorar a função retiniana.”

Para atingir a retina, o DHA deve primeiro ser absorvido do intestino para a corrente sanguínea e depois atravessar para a retina. O estudo, que envolveu camundongos, descobriu que o LPC-DHA não apenas aumentou o DHA na retina, mas também reduziu os problemas oculares relacionados à doença de Alzheimer. Ratos alimentados com LPC-DHA todos os dias por seis meses tiveram um aumento de 96% em DHA e sinais de que a estrutura da retina foi melhor preservada.

Baixos níveis de DHA na retina são comuns em pessoas com Alzheimer, diabetes e degeneração macular relacionada à idade (DMRI), e se você não possui DHA suficiente na retina, está associado à perda de visão. Dhavamani explicou:

“O LPC-DHA dietético é muito superior ao TAG-DHA [triacilglicerol DHA, o tipo encontrado em suplementos de óleo de peixe] no enriquecimento do DHA retinal e pode ser benéfico, de forma potencial, para várias retinopatias em pacientes. Esse estudo fornece uma nova abordagem terapêutica para a prevenção ou mitigação da disfunção da retina associada à doença de Alzheimer e diabetes.”

Embora esses resultados sejam impressionantes, eles não são novos e replicam as características dos fosfolipídios que estão no krill e foram bem documentados por muitas décadas.

O óleo de krill protege contra deficiências cognitivas

Em geral, o DHA e EPA são insolúveis em água e, portanto, não podem ser transportados em sua forma livre no sangue. Eles devem ser empacotados em veículos de lipoproteína como um fosfolipídio. É de fato por isso que a biodisponibilidade do óleo de krill é muito maior do que o óleo de peixe, porque no óleo dele, o DHA e o EPA estão ligados aos triglicerídeos.

Muitos estudos destacam a eficácia do óleo de krill, inclusive para a saúde do cérebro. Em um estudo com animais, o óleo de krill teve um efeito benéfico na neuroinflamação e no estresse oxidativo, que estão associados ao desenvolvimento da doença de Alzheimer. Em camundongos com doença de Alzheimer, o óleo de krill também inibiu a perda de memória.

Escrevendo na revista Neuroscience Research, cientistas da Central Michigan University destacaram, de maneira repetitiva, a posição única do krill para neutralizar os processos neuroinflamatórios, devido aos seus fosfolipídios e compostos benéficos adicionais como a astaxantina:

“Semelhante ao óleo de peixe mais estudado, o KO [óleo de krill] contém ácidos graxos de cadeia longa, ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), essenciais para as funções cerebrais básicas.
Além disso, a natureza ligada aos fosfolipídios dos ácidos graxos encontrados no KO melhora a biodisponibilidade e a eficiência da absorção, apoiando assim a crença de que ele pode oferecer um método superior de distribuição dietética de n-3. O KO contém astaxantina, um antioxidante capaz de reduzir o estresse oxidativo excessivo e a inflamação no cérebro.”

O óleo de krill protege os neurônios da degeneração relacionada à idade

Em outro exemplo, dessa vez envolvendo lombrigas e células humanas para investigar se o óleo de krill promove o envelhecimento saudável, várias características do envelhecimento foram modificadas. “Existem evidências acumuladas de que interferir nos mecanismos básicos do envelhecimento pode aumentar a longevidade saudável,” observou a equipe. 11

Em um modelo da doença de Parkinson, o óleo de krill protegeu os neurônios dopaminérgicos, que sintetizam o neurotransmissor dopamina, da degeneração relacionada ao envelhecimento, melhorando os comportamentos e a cognição que dependem dela.

“O óleo de krill reconfigura programas distintos de expressão gênica que contribuem para atenuar várias características do envelhecimento, incluindo estresse oxidativo, estresse proteotóxico, senescência, instabilidade genômica e disfunção mitocondrial,” de acordo com os pesquisadores.

Eles sugeriram que o óleo de krill aumenta a resiliência dos neurônios, ajudando a afastar a inflamação e o estresse oxidativo, “assim,” eles observam, “a suplementação com óleo de krill pode servir como uma abordagem possível para intervenções saudáveis no envelhecimento do cérebro.”

Krill oferece benefícios exclusivos para sobrecarga de ferro, colina

Por que outro motivo o óleo de krill, com seus valiosos fosfolipídios, é tão valioso? A pesquisa sugere que alivia o estresse oxidativo e o acúmulo de ferro, de modo que pode ser usado como tratamento para a toxicidade causada pela sobrecarga de ferro, que é generalizada na maioria dos adultos.

O óleo de krill também é uma fonte boa de colina. Embora a colina seja encontrada em uma variedade de alimentos, acredita-se que a ingestão esteja muito abaixo dos níveis ideais, para adultos e crianças, afetando a saúde pública e levando especialistas a sugerirem que a ingestão de alimentos ricos dela deva ser encorajada.

O óleo de krill contém 69 fosfolipídios contendo colina para sintetizar fosfatidilcolina, um componente crítico das membranas celulares humanas. Isso é fundamental para o seu papel como fonte de colina, pois estima-se que 60% da colina em sais orgânicos seja perdida quando as bactérias intestinais a convertem no metabólito trimetilamina (TMA).

As enzimas então transformam o TMA em trimetilamina-N-óxido (TMAO), um potencial biomarcador para resistência à insulina e problemas cardíacos. Entretanto, o óleo de krill contém ácidos graxos na forma de fosfatidilcolina (FC) - ao contrário do óleo de peixe, que os contém na forma de triglicerídeos.

Conforme observado pelos pesquisadores, “a colina na forma de FC é menos convertida em TMA, conforme demonstrado em um estudo de dose única com óleo de krill, resultando potencialmente em um fornecimento mais eficiente de colina.” Foi demonstrado, por exemplo, que 28 dias de suplementação com óleo de krill aumentaram os níveis de colina em adultos jovens saudáveis.

Em um estudo comparando a fosfatidilcolina, presente no óleo de krill, e o sal bitartarato de colina, descobriu-se que o óleo de krill levou a níveis mais elevados dos importantes metabólitos Betaína e Dimetilglicina (DMG) como níveis mais baixos de TMAO, que pode levar a problemas de saúde.

Com óleo de krill, você obtém astaxantina

Vale ressaltar que, ao escolher o ômega-3 na forma de óleo de krill, você também obtém um pouco de astaxantina, um antioxidante produzido pela microalga Haematococcus pluvialis quando seu suprimento de água seca, forçando-o a se proteger da radiação ultravioleta. Além das microalgas que o produzem, as únicas outras fontes são as criaturas marinhas que consomem as algas, como salmão selvagem, marisco e krill.

Muitos pesquisadores acreditam que a astaxantina é o antioxidante mais poderoso já descoberto para a saúde ocular. Possui benefícios protetores contra vários problemas relacionados aos olhos, incluindo ARMD e catarata como:

  • Edema macular cistoide
  • Retinopatia diabética
  • Oclusão arterial retiniana e oclusão venosa
  • Glaucoma
  • Doenças inflamatórias oculares (ex.:como irite, ceratite, retinite e esclerite)

A astaxantina atravessa de maneira fácil os tecidos do olho e exerce seus efeitos com segurança e com mais potência do que qualquer um dos outros carotenóides, sem reações adversas. De forma expecífica, a astaxantina demonstrou melhorar ou prevenir danos induzidos pela luz, danos nas células fotorreceptoras,25 às células ganglionares e aos neurônios das camadas internas da retina.

Conforme relatado pelo Liver Doctor, a pesquisa publicada no Journal of Clinical Biochemistry and Nutrition em 2017, mostrou que 16 semanas de suplementação de astaxantina protegeu contra rugas e perda de umidade da pele, além de ter melhorado elasticidade mesma.

A maioria dos suplementos de óleo de peixe deve ser evitada

Eu recomendo evitar quase todos os suplementos comerciais de óleo de peixe, porque o DHA e o EPA são fornecidos na forma de ésteres etílicos. Trata-se de um substrato sintético, criado através do processo de microdestilação do óleo de peixe bruto, ao qual se adiciona etanol e/ou álcool industrial. Essa mistura é destilada de forma térmica em uma câmara de vácuo, resultando em um condensado de éster etílico ômega-3 concentrado.

Esse processo de destilação molecular não apenas remove as resolvinas e protectinas vitais que são importantes na redução da inflamação, mas também concentra o EPA e o DHA. Você pode saber a concentração dessas duas gorduras em qualquer suplemento olhando o rótulo. Nos peixes, o óleo consiste em 20% a 30% de EPA e DHA, enquanto o concentrado de óleo de peixe purificado contém entre 60% e 85% de EPA e DHA.

A maioria das empresas produz óleo de peixe de éster etílico porque é muito mais barato de produzir do que a forma de triglicerídeos. Os ésteres etílicos também são mais fáceis de trabalhar durante o processamento, pois possuem um ponto de ebulição mais alto, o que se torna importante quando os óleos são aquecidos e purificados de poluentes ambientais.

Os ésteres etílicos são a forma menos biodisponível de ômega-3. Os fabricantes poderiam convertê-los de volta na forma de triglicerídeos separando a molécula de álcool etílico e recolocando uma de glicerol em um processo conhecido como reesterificação, mas a maioria não o faz porque é muito caro.

Seu corpo metaboliza formas de etil éster de maneira diferente

É importante entender que seu corpo metaboliza as formas de triglicerídeos e éster etílico do ômega-3 de maneira diferente, e é aí que surgem os problemas. Uma vez que a espinha dorsal do glicerol está faltando na forma de éster etílico, o EPA e o DHA irão buscar os triglicerídeos disponíveis ou roubar uma molécula de glicerol de algum lugar.

Os ácidos graxos precisam ser convertidos de volta na forma de triglicerídeos ou seu epitélio intestinal não será capaz de processá-los. Quando a forma de éster etílico de EPA ou DHA acaba roubando as moléculas de glicerol, a molécula que perdeu seu glicerol vai então procurar um substituto, criando um efeito dominó negativo. Além disso, os ácidos graxos não podem ser transportados pelo sangue, a menos que estejam na forma de triglicerídeos.

Por outro lado, quando você consome ômega-3 na forma de triglicerídeos, os ácidos graxos são primeiro separados do esqueleto de glicerol. Todas as partes individuais são então absorvidas pelas células epiteliais intestinais, onde são religadas para formar triglicerídeos.

Quando você consome ésteres etílicos, eles devem ser processados em seu fígado. Lá, a espinha dorsal do etanol é separada dos ácidos graxos livres, e seu corpo deve então reanexar os ácidos graxos livres ao glicerol para formar triglicerídeos. Seu fígado também deve processar o álcool etílico, que pode liberar radicais livres e causar estresse oxidativo, o oposto do que você está tentando alcançar quando consome óleo de peixe.

É ideal que consuma gorduras ômega-3 na forma de alimentos integrais, consumindo peixes gordurosos de água fria. Isso inclui salmão selvagem do Alasca, sardinha, anchova, cavala e arenque. Se você optar por utilizar um suplemento, o óleo de krill é uma alternativa superior ao óleo de peixe.

Embora o óleo de krill contenha menos EPA e DHA por grama de suplemento do que o óleo de peixe, é mais biodisponível, pois eles estão ligados na forma de fosfolipídios. Isso significa que você pode tomar doses mais baixas enquanto colhe resultados superiores.