📝RESUMO DA MATÉRIA

  • A hiperpermeabilidade intestinal pode desencadear a agregação da proteína alfa-sinucleína em torno dos nervos entéricos, resultando em sintomas gastrointestinais muito antes dos sintomas neurológicos da doença de Parkinson aparecerem
  • O aumento da expressão de proteínas alfa-sinucleína inibe a liberação de neurotransmissores, mas em níveis normais as proteínas aceleram a liberação dessas moléculas se elas já estiverem ocorrendo
  • Quando a autofagia é disfuncional, as proteínas alfa-sinucleína podem viajar ao longo do nervo vago do cérebro para o intestino. A ativação da autofagia pode tratar com sucesso doenças neurodegenerativas, limpando as células antigas e estimulando o crescimento de saudáveis
  • Considere diminuir a permeabilidade intestinal eliminando o açúcar, fazendo uma dieta cetogênica cíclica e fornecendo às bactérias benéficas muitas fibras saudáveis, ativar a autofagia através do jejum de água ou intermitente por pelo menos 16 horas, o que também pode apoiar seu sistema imunológico e aumentar o fator neurotrófico derivado do cérebro

🩺Por Dr. Mercola

A doença de Parkinson é um distúrbio neurológico no qual os neurônios e as células produtoras de dopamina no cérebro começam a falecer. Os sintomas progridem com o tempo e incluem tremores, movimentos lentos, membros rígidos, marcha arrastada, postura curvada e incapacidade de se mover. Os pacientes também podem experimentar uma capacidade reduzida de fazer expressões faciais.

Embora os pacientes sofram de deficiência física significativa, a condição também pode desencadear depressão, problemas de fala e mudanças de personalidade. Existe também uma associação com demência. O Parkinson afeta de 7 a 10 milhões de adultos em todo o mundo, e de forma aproximada, 60.000 americanos são diagnosticados com essa doença todos os anos.

Embora a incidência da doença aumente com a idade, cerca de 4% das pessoas com Parkinson são diagnosticadas antes dos 50 anos. Os homens possuem 1,5 vezes mais chances de ter essa doença do que as mulheres, e o tratamento pode ter um custo elevado. Os medicamentos podem custar em média $ 2.500 por ano, enquanto a cirurgia terapêutica pode custar até $ 100.000 por paciente.

Um estudo publicado no Journal of Parkinson's Disease demonstra uma associação entre o desenvolvimento dessa doença neurológica e seu microbioma intestinal.

O estudo apresentado concentrou-se na patologia da alfa-sinucleína, biomarcadores e microbioma intestinal e, como outros estudos descobriram, a alfa-sinucleína desempenha um papel no desenvolvimento de casos parecidos e esporádicos da doença de Parkinson.

A pesquisa destaca relação entre o intestino e o cérebro na doença de Parkinson

O diagnóstico ocorre depois que as células cerebrais já foram afetadas e morreram. Por esse motivo, é mais complicado retardar a progressão da doença, por isso os pesquisadores têm investigado maneiras de detectar a condição mais cedo, o que pode impactar de forma positiva o tratamento.

Estudos anteriores demonstraram uma relação entre o microbioma intestinal e a doença de Parkinson. Esse artigo de revisão atual se propôs a investigar a pesquisa mais recente disponível sobre essa conexão intestino e cérebro.

O principal autor, Dr. Filip Scheperjans, do departamento de neurologia do Helsinki University Hospital, na Finlândia, acredita que entender o papel que o intestino desempenha no desenvolvimento da doença ajudará a melhorar o tratamento.

A revisão avaliou o envolvimento de uma quantidade anormal de agregados proteicos associados à inflamação local e o impacto no microbioma intestinal. Como percebido por Scheperjans:

“Nossa compreensão e apreciação da importância da conexão intestino-cérebro na doença de Parkinson cresceu de forma rápida nos últimos anos. Estamos confiantes de que as próximas duas décadas de pesquisa do eixo microbioma-intestino-cérebro terão um desenvolvimento ainda mais acelerado nessa área que remodelará nossa compreensão da patogênese do Parkinson.”

Para esse objetivo, os autores identificaram quatro áreas principais de pesquisa em que é necessário um foco adicional:

  • Embora depósitos de alfa-sinucleína tenham sido encontrados no sistema nervoso entérico de pessoas que sofrem da doença de Parkinson, mais pesquisas são necessárias para determinar se esses agregados são semelhantes aos encontrados no cérebro de pacientes.
  • A pesquisa teorizou que a hiperpermeabilidade intestinal pode ser o que desencadeia a agregação nos nervos entéricos. Os pesquisadores sugerem que um estudo mais aprofundado deve se concentrar em saber se aqueles com Parkinson também possuem uma maior permeabilidade intestinal.
  • Utilizando imuno-histoquímica para estudar agregados de alfa-sinucleína no sistema nervoso entérico produziu resultados diversos, levando os autores a sugerir métodos alternativos de detecção de depósitos no intestino que devem ser desenvolvidos.
  • Os autores sugerem que grandes estudos multicêntricos de indivíduos com Parkinson como estudos em animais, são necessários para identificar o mecanismo subjacente à conexão entre o intestino e a doença.

Agregados de proteína podem começar no cérebro e passar para o intestino

A alfa-sinucleína é uma proteína pré-sináptica ligada de maneira neuropatológica e de forma genética à doença de Parkinson. Embora possa contribuir para os sintomas de várias maneiras, as células aberrantes são tóxicas para a homeostase celular, desencadeando a morte neuronal e afetando a função sináptica.

A alfa-sinucleína secretada pode ter efeitos negativos nas células vizinhas, incluindo agregações de semeadura, o que contribui para a progressão da doença. A detecção de lesões de alfa-sinucleína em tecidos periféricos possuem importantes implicações clínicas no cérebro e órgãos periféricos.

Os pesquisadores têm procurado identificar possíveis vias envolvidas na transferência de longa distância da proteína do cérebro para o intestino, onde é encontrada em pessoas que sofrem da doença de Parkinson. Embora os pesquisadores tenham identificado a proteína alfa-sinucleína no desenvolvimento da doença, a função real antes que ela seja desencadeada permaneceu um mistério.

Utilizando um modelo de camundongo, os pesquisadores descobriram que o aumento da expressão de alfa-sinucleína inibiu o mecanismo de liberação de neurotransmissores, produzindo sintomas parkinsonianos. Em níveis normais a proteína acelerou a liberação dessas moléculas, caso já estivesse ocorrendo.

Em outro estudo com ratos, os pesquisadores conseguiram identificar uma transmissão específica da proteína do cérebro para o estômago. Como explicado pelos autores:

“Após a superexpressão direcionada do mesencéfalo da alfa-sinucleína humana, a proteína exógena foi capaz de atingir a parede gástrica onde foi acumulada nos terminais vagais pré-ganglionares.
Essa conexão de cérebro e estômago envolveu transferência intra e interneuronal de alfa-sinucleína não fibrilar que primeiro alcançou a medula oblonga, depois ganhou acesso aos neurônios colinérgicos do núcleo motor dorsal do nervo vago e viajou através de fibras eferentes do nervo vago."

Os pesquisadores acreditam que o núcleo motor dorsal do nervo vago é um centro de retransmissão chave para a transmissão de proteínas alfa-sinucleína de locais centrais para periféricos. A presença dessas proteínas pode representar um processo patológico em andamento com origem no cérebro que pode afetar outros órgãos inervados pelo nervo vago motor.

Defeitos de autofagia contribuem para a doença de Parkinson

Hoje em dia não há cura para a doença de Parkinson. Em um estudo, os pesquisadores descreveram aspectos da doença como supressão do sistema autossômico-lisômico de autofagia, uma degradação sistêmica dos seus componentes funcionais do corpo devido à destruição celular, caracterizada pela perda de neurônios transmissores de dopamina em uma seção do mesencéfalo.

Ao ativar a autofagia reparando o mecanismo disfuncional, os pesquisadores acreditam que as doenças neurodegenerativas podem ser tratadas com sucesso. Autofagia significade forma literal “autocomer” e refere-se ao processo de eliminação de células danificadas ao digeri-las.

É um processo de limpeza que estimula o crescimento de novas células saudáveis e é fundamental para o rejuvenescimento celular e longevidade. Os pesquisadores explicam o processo em um artigo publicado na Nature Reviews Drug Discovery, dizendo que a via está envolvida em uma variedade de condições de saúde humana, incluindo distúrbios metabólicos, doenças neurodegenerativas, infecciosas e câncer.

Em resposta, tem havido considerável interesse farmacológico em inibir a via e regular de maneira positiva a autofagia como um meio de beneficiar de forma terapêutica aqueles com doenças neurodegenerativas. Em essência, isso eliminaria os agregados de proteínas prejudiciais que desencadeiam os sintomas e a progressão da doença.

A pesquisa demonstrou que medicamentos específicos contra o câncer podem desencadear a autofagia ativando uma proteína chamada parkin. Charbel Moussa, professor assistente de neurologia na Universidade de Georgetown, fala sobre o delicado equilíbrio envolvido quando a medicina tenta manipular processos celulares:

“Ativar a autofagia pode ter lados positivos e negativos. Se, por um lado, as substâncias tóxicas e infecciosas são eliminadas no processo. Pelo outro, se o processo de autofagia vai além de 'reciclar' e eliminar as proteínas, ele pode destruir as células, levando à morte celular.
Isso significa que para evitar a morte de neurônios insubstituíveis, precisamos ter cuidado com a autofagia."

A boa notícia é que você não precisa esperar que um medicamento seja desenvolvido para melhorar a autofagia. Uma das maneiras mais fáceis de fazer isso é por meio do jejum, que será dito mais adiante.

Legume anual pode ajudar a tratar a doença de Parkinson de maneira natural

Mucuna pruriens (M. pruriens) é uma leguminosa trepadeira mais conhecida como fonte natural de L-dopa, um precursor da dopamina que afeta a energia, a motivação e o bem-estar, sendo utilizada no tratamento da doença de Parkinson na medicina ayurvédica.

M. Pruriens é uma fonte bem conhecida de proteína em áreas tropicais do mundo. Também conhecidas como mucuna, kapikacchu e semente de vaca, essas leguminosas são uma planta anual vigorosa, com quase 100 variedades diferentes. A leguminosa se originou no sul da China e no leste da Índia, mas agora cresce em áreas tropicais em todo o mundo.

A planta tem vagens de sementes marrom-escuras ou salpicadas, com cerca de 4 cm de comprimento e contendo de quatro a seis sementes cada. Embora o feijão seja muito benéfico, o contato com a vagem pode resultar em irritação severa da pele e coceira. Quando os feijões são utilizados para alimentação, eles são deixados de molho até brotar, depois fervidos e moídos em uma pasta usada na culinária.

Quando utilizado para fins medicinais, o feijão é fervido para remover a camada enzimática, depois coado e seco. Os grãos são moídos em um pó fino misturado com água e injeridos por via oral. A prática de usar M. Pruriens pode ser rastreada há milhares de anos na prática da medicina ayurvédica.

As sementes possuem cerca de 4% a 7% de L-dopa, que atravessa a barreira hematoencefálica, respondendo pelo interesse daqueles que buscam tratamentos naturais para a doença de Parkinson.

Embora os ensaios clínicos tenham demonstrado sua capacidade de produzir resultados equivalentes ou melhores que os medicamentos, sem efeitos colaterais, a medicina ocidental continua a utilizar e promover uma forma sintética de L-dopa no tratamento da doença de Parkinson.

Se você possui a doença e gostaria de investigar este tratamento natural, consulte seu médico ou um praticante de medicina ayurvédica antes de ingerir M. Pruriens, se você estiver ingerindo medicamentos prescritos, para garantir que esse remédio seja adequado para você.

Também pode ser possível prevenir doenças neurodegenerativas ou reduzir os sintomas abordando a permeabilidade intestinal e a disfunção da autofagia por meios naturais.

Como diminuir a permeabilidade intestinal

Seu microbioma intestinal é uma parte importante do futuro da medicina. Quase 15 anos atrás, os cientistas acreditavam que o Projeto Genoma Humano encontraria as informações necessárias para criar terapias baseadas em genes para produzir curas para a maioria das condições de saúde.

Agora a ciência aprendeu que a genética é responsável por apenas 10% de todas as doenças humanas, enquanto os 90% restantes são desencadeados por fatores ambientais. Com mais pesquisas e estudos, a ciência agora está percebendo que seu microbioma intestinal está dirigindo a expressão genética, ativando e desativando genes dependendo de quais micróbios estão presentes em seu intestino.

Você pode melhorar a saúde do seu microbioma intestinal e, assim, fazer mudanças significativas em sua saúde, por meio de pequenas mudanças no estilo de vida como eliminar o açúcar, fazer uma dieta cetogênica cíclica e incluir muitos alimentos ricos em fibras.

Como melhorar a autofagia

Seu corpo foi construído para ciclos periódicos de festa e fome. Por meio do jejum intermitente, você pode desfrutar de uma melhor saúde cardiovascular, reduzir o risco de câncer e melhorar o reparo genético e a longevidade. O jejum também ajuda a apoiar a função do sistema imunológico e também possui um impacto benéfico na função cerebral, aumentando o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF).

Dependendo da região do cérebro, você pode experimentar um aumento de 50% a 400%. O BDNF ativa as células-tronco para se converterem em novos neurônios e aciona vários outros produtos químicos que promovem a saúde normal. Essa proteína também protege as células cerebrais das alterações associadas às doenças de Alzheimer e Parkinson.

O jejum é uma maneira poderosa de ativar a autofagia, mas não deve ser feito sem precisar. Se estiver consumindo medicamentos, você precisa consultar seu médico para garantir a segurança, pois alguns precisam ser ingeridos com alimentos. Os diabéticos que consomem medicamentos também precisam ter cuidado e trabalhar com um profissional de saúde, pois podem precisar ajustar a dosagem do medicamento para evitar efeitos adversos. Eu também recomendo que você continue consumindo suplementos nutricionais e utilize um sal de alta qualidade.

Um dos motivos pelos quais recomendo cautela é o fato de que os jejuns de vários dias à base de água liberam as toxinas armazenadas nos depósitos de gordura, o que pode causar problemas se o seu sistema de desintoxicação não conseguir aguentar o ritmo.

Embora eu já tenha feito vários jejuns de cinco dias, consumindo apenas água, agora passei a fazer um parcial que fornece muitos dos nutrientes de que meu corpo precisa para contribuir com as vias de desintoxicação do corpo. Isso requer um jejum intermitente de 16 a 18 horas e uma refeição de 300 a 800 calorias, uma ou duas vezes por semana, repleta de nutrientes desintoxicantes, seguida por jejum de 24 horas. Você consome apenas uma refeição de 300 a 800 calorias num intervalo de 42 horas.

Uma sauna com infravermelho ou a ingestão de chlorella, pectina cítrica modificada, coentro e até carvão ativado podem ajudar a eliminar as toxinas liberadas pelo corpo, prevenindo sua reabsorção.

Uma maneira mais suave de melhorar a autofagia é o jejum intermitente diário, desde que você não consuma por pelo menos 16 horas. Você também pode ativar a autofagia alternando treinamento intervalado de alta intensidade ou treinamento de resistência com um dia de descanso.

A ativação da proteína quinase ativada por monofosfato de adenosina (AMPK) por meio de dieta adequada e suplementos nutricionais também suporta a autofagia natural.