RESUMO DA MATÉRIA

  • Os homens experimentaram um declínio de 50% a 60% na contagem de espermatozoides de 1973 a 2011, de acordo com um estudo de 2017 publicado na Human Reproduction Update
  • Uma atualização de 2022 do estudo inclui dados de 53 países e sete anos adicionais, 2011 a 2018, e os resultados são semelhantes
  • A concentração de esperma diminuiu de forma "apreciável" em 51,6% de 1973 a 2018
  • O declínio percentual ao ano dobrou, passando de 1,16% após 1972 para 2,64% após 2000
  • A contagem total de esperma também diminuiu em um nível alarmante, 62,3% de 1973 a 2018
  • Os autores do estudo acreditam que as escolhas de estilo de vida e os produtos químicos desreguladores endócrinos no meio ambiente são os principais culpados pelos declínios

Por Dr. Mercola

Uma crise de fertilidade iminente está sobre nós. Os homens experimentaram um declínio de 50% a 60% na contagem de espermatozoides de 1973 a 2011, de acordo com um estudo de 2017 publicado na Human Reproduction Update. Esse estudo incluiu homens da América do Norte, Europa, Austrália e Nova Zelândia, mas foi criticado por não incluir dados globais.

“Naquela época, havia poucos estudos com dados da América do Sul/Central-Ásia-África (SAA) para estimar com segurança as tendências entre os homens desses continentes”, explicou a equipe de pesquisa em uma atualização de 2022. O novo estudo inclui dados de 53 países e sete anos adicionais, 2011 a 2018, mas os resultados são semelhantes.

Contagens de esperma diminuíram 62% desde 1973

A revisão sistemática e meta-análise inclui dados de 223 estudos e 57.168 homens. A concentração de esperma diminuiu de forma “apreciável” em 51,6% de 1973 a 2018. O declínio percentual por ano mais que dobrou, passando de 1,16% após 1972 para 2,64% após 2000.

A contagem total de espermatozoides também diminuiu em um nível alarmante, 62,3% de 1973 a 2018. “Essa análise é a primeira a relatar um declínio na contagem entre homens não selecionados da América do Sul/Central-Ásia-África, em contraste com nosso meta- análise que foi insuficiente para examinar esses continentes, os dados sugerem que essa queda mundial continua no século 21 em um ritmo acelerado,” observaram os pesquisadores.

O principal autor do estudo, Hagai Levine, da Escola de Saúde Pública Hadassah Braun da Universidade Hebraica de Jerusalém, chamou as descobertas de “um canário em uma mina de carvão”, apontando que a contagem de esperma não é apenas um indicador de fertilidade, mas também da saúde masculina em geral. A baixa contagem de espermatozoides está associada a um risco aumentado de doença crônica, câncer testicular e diminuição da expectativa de vida.

“No geral, estamos vendo um declínio mundial significativo na contagem de esperma de mais de 50% nos últimos 46 anos, uma redução que se acelerou nos últimos anos”, disse Levine. “…Temos um problema sério em nossas mãos que, se não for mitigado, pode ameaçar a sobrevivência da humanidade. Pedimos com urgência uma ação global para promover ambientes mais saudáveis para todas as espécies e reduzir as exposições e comportamentos que ameaçam nossa saúde reprodutiva.”

A contagem de esperma pode cair para zero?

Shanna Swan, da Icahn School of Medicine, Mount Sinai, Nova York, que também participou do estudo, alertou em 2021 que, se a curva de declínio da contagem de espermatozoides do estudo de 2017 continuar, até 2045 a contagem média será zero. “É especulativo extrapolar, mas também não há evidências de que esteja diminuindo. Isso significa que a maioria dos casais pode precisar de reprodução assistida," ela diz.

Agora, no entanto, o declínio da contagem de esperma se acelerou. O livro de Swan, "Count Down", detalha como o mundo moderno não apenas ameaça a contagem de esperma, mas também altera o desenvolvimento reprodutivo em machos e fêmeas e, ao fazê-lo, "põe em perigo o futuro da raça humana."

Parece haver uma espécie de efeito sinérgico acontecendo, já que, segundo o livro, a contagem de esperma, a testosterona e a fertilidade estão diminuindo enquanto as ocorrências de câncer de testículo e abortos espontâneos estão aumentando em cerca de 1% ao ano. A disfunção erétil e o uso de barrigas de aluguel aumentam 1% ao ano, enquanto a fertilidade global caiu cerca de 1% ao ano entre 1960 a 2018.

Todas essas mudanças reprodutivas ocorrendo em uníssono não é coincidência, segundo Swam. "É tudo sincronizado demais para uma coincidência ser possível", ela escreveu na Scientific American. Embora haja uma série de fatores que contribuem para essa calamidade reprodutiva, Swan acredita que podemos descartar a genética, porque o declínio na contagem de esperma é rápido demais.

Embora o estudo apresentado não aborde as causas potenciais do declínio na contagem de espermatozoides, Levine afirmou que distúrbios no desenvolvimento reprodutivo durante a vida fetal estão envolvidos e “escolhas de estilo de vida e produtos químicos no ambiente estão afetando de forma adversa esse desenvolvimento fetal”. Swan acrescentou em um comunicado à imprensa:

“Os preocupantes declínios na concentração de esperma masculino e na contagem total de esperma em mais de 1% a cada ano, conforme relatado em nosso artigo, são consistentes com tendências adversas em outros resultados de saúde masculina como câncer testicular, interrupção hormonal, defeitos congênitos genitais e declínio na saúde reprodutiva feminina. Isso não pode continuar sem controle."

Produtos químicos ambientais que alteram a fertilidade

No vídeo After Skool acima, Swan examina o papel das toxinas ambientais na saúde reprodutiva. Foi em 1992 que Swan ouviu pela primeira vez sobre um potencial declínio na fertilidade entre os humanos. Um estudo publicado no BMJ naquele ano, encontrou evidências de redução na qualidade do sêmen nos últimos 50 anos.

Ela achou esse fato muito preocupante, sendo que talvez não fosse verdade, então ela passou cerca de 6 meses investigando e avaliando os 61 estudos da revisão. Descobriu-se que o declínio era verdadeiro e Swan dirigiu seus estudos nas duas décadas seguintes para desvendar essa tendência assustadora.

Os produtos químicos desreguladores endócrinos (EDCs) no ambiente são os principais culpados, pois são conhecidos por imitar e interromper os hormônios. Uma classe de produtos químicos chamados ftalatos, que são tão onipresentes que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA declararam que “a exposição aos ftalatos é generalizada na população dos EUA”, pode ser responsável.

Estima-se que 8,4 milhões de toneladas de plastificantes, incluindo ftalatos, sejam usados em todo o mundo a cada ano, com a produção de ftalatos chegando a cerca de 4,9 milhões de toneladas todos os anos. Pesquisadores da Universidade de Nottingham usaram esperma de 11 homens e 9 cães da mesma região do Reino Unido.

Eles expuseram os espermatozoides a dois tipos de produtos químicos presentes no ambiente: dietilhexil ftalato (DEHP) e bifenil policlorado 153 (PCB153). O resultado foi a redução da mobilidade do esperma e a fragmentação do DNA. A autora do estudo, Rebecca Sumner, bióloga do desenvolvimento da Universidade de Nottingham, disse em um comunicado à imprensa:

“Nós sabemos que quando a locomoção do esperma humano é fraca, a fragmentação do DNA aumenta e que a infertilidade masculina está ligada a níveis aumentados de danos ao DNA no esperma. Agora acreditamos que isso ocorre da mesma forma em cães de estimação, pois eles vivem no mesmo ambiente doméstico e estão expostos aos mesmos contaminantes químicos.
Isso significa que os cães podem ser um exemplo perfeito para pesquisas futuras sobre os efeitos dos poluentes no declínio da fertilidade, sobretudo no porque as influências externas, como a dieta, são mais controladas de maneiras mais fáceis do que em humanos. "

Os pesquisadores acreditam que os cães podem agir como "sentinelas" que chamam atenção para a queda da fertilidade humana e que os culpados são os produtos químicos muito disponíveis em lares e ambientes de trabalho.

Sobre sinais de 'síndrome de ftalatos' generalizada

A síndrome do ftalato se refere a uma série de distúrbios no desenvolvimento reprodutivo masculino, observados após a exposição de ftalatos no útero. Segundo Swan:

“Após a concepção, o útero é o se torna muito sensível para o desenvolvimento de quase tudo... os blocos de construção do que será o sistema reprodutivo são estabelecidos no início do primeiro trimestre... a que o feto é exposto, o que significa de fato que a mãe está exposta, pois, não existe barreira protegendo aquele feto do que a mãe está sendo exposta. Ele entra em sua corrente sanguínea, vai para o feto, entra e causa danos no mesmo. ”

Em estudos realizados com ratos, descobriu-se que quando um macho que está gestando em uma mãe alimentada com ftalatos durante os períodos sensíveis da reprodução, seus órgãos genitais ficam menores e menos desenvolvidos, assim como seus testículos, seu pênis pode ser menor, e todo o tamanho da área genital também.

A pesquisa de Swan e seus colegas descobriram que exposição das mulheres aos ftalatos durante a gravidez está ligada à distância ano-genital (DAG ou distância do ânus à base do pênis) dos bebês do sexo masculino com maior exposição associada ao encurtamento da DAG. E a DAG mais curta está associada a um pênis menor e a uma menor qualidade do sêmen, de modo que Swan acredita que a DAG ao nascer é preditivo da função reprodutiva do adulto.

EMFs também podem estar envolvidos

Acredito que os campos eletromagnéticos (EMFs) são outro fator significativo para a diminuição observada na contagem de esperma masculino. Martin Pall, Ph.D., descobriu um mecanismo até então desconhecido de dano biológico provocado por ondas eletro magnéticas emitidas por dispositivos como celulares e outras tecnologias sem fio, através de canais de cálcio controlados por voltagem (VGCCs) embutidos em suas membranas celulares.

Os VGCCs são ativados por ondas eletromagnéticas, quando isso acontece, cerca de 1 milhão de íons de cálcio por segundo são liberados. Esse grande excesso de cálcio intracelular estimula a liberação de óxido nítrico (NO) na célula e na mitocôndria, que combina com o superóxido, formando peroxinitrito.

Os peroxinitritos não apenas causam danos oxidativos, mas também criam radicais livres de hidroxila, eles são os mais destrutivos já encontrados. Os radicais livres hidroxila dizimam o DNA mitocondrial e nuclear, suas membranas e proteínas, resultando em disfunção mitocondrial.

Durante uma apresentação de 2013 feita por especialistas em saúde infantil sobre exposições a celulares e Wi-Fi, observou-se: "A barreira testicular, que protege os espermatozoides, é o mais sensível dos tecidos do corpo. Além da contagem e função dos espermatozoides, o DNA mitocondrial dos espermatozoides são danificados três vezes mais, caso seja exposto à radiação do celular."

Escrevendo na Clinical and Experimental Reproductive Medicine, os pesquisadores notaram que muitos estudos realizados em seres vivos, revelaram que a exposição aos CEM pode alterar a função reprodutiva, incluindo a locomoção dos espermatozoides, com efeitos variando conforme a frequência, duração da exposição e força dos CEM.

Como proteger sua fertilidade

Para aqueles interessados em proteger sua própria fertilidade e a das gerações futuras, tanto quanto possível, é essencial reduzir sua exposição a CEM e evitar produtos químicos que desregulam os hormônios. Para ajudar a reduzir a exposição a CEM, conecte seu computador de mesa à Internet por meio de uma conexão com fio e certifique-se de colocar sua área de trabalho no modo avião.

Além disso, desligue o Wi-Fi da sua casa quando não estiver em uso, em especial à noite, quando estiver dormindo. É melhor trabalhar a fiação de sua casa, de modo que possa desligar o Wi-Fi a qualquer momento.

Swan recomenda soluções adicionais para reduzir sua exposição a EDCs como consumir alimentos não processados que você cozinha o máximo possível para reduzir sua exposição a embalagens plásticas de alimentos e usar apenas produtos domésticos e de higiene pessoal simples e sem perfume.

Embora as taxas alarmantes de declínio na contagem de esperma sejam preocupantes, a boa notícia é que os ftalatos são produtos químicos não persistentes. Eles deixam seu corpo em questão de quatro a seis horas após a exposição. Portanto, se as pessoas pararem de usá-los, a exposição aos EDCs no útero também cessará, assim como a exposição adicional que ocorre durante a infância. Isso colocaria os humanos no caminho para curar os danos à fertilidade, em vez de acelerá-los como está ocorrendo hoje em dia.