RESUMO DA MATÉRIA

  • A urolitina A (UA) emergiu como uma potência na luta contra o câncer, pois pode aumentar as células imunológicas que combatem o tumor de maneira natural
  • UA é um metabólito de elagitaninos em romãs que possui efeitos anti-inflamatórios e anticancerígenos
  • A UA “recicla e renova as mitocôndrias” induzindo uma via biológica conhecida como mitofagia, o processo de limpeza de suas mitocôndrias, permitindo que elas funcionem da melhor maneira
  • Isso muda o programa genético das células T, tornando-as mais capazes de combater tumores
  • Em um próximo ensaio clínico, o UA será utilizado em pessoas com câncer colorretal para determinar sua eficácia

Por Dr. Mercola

O câncer colorretal é o terceiro tipo de câncer mais diagnosticado, com elevada taxa de mortalidade em seus estágios avançados. Uma razão para seus efeitos letais é a capacidade do tecido ao redor do tumor ou o microambiente do tumor de suprimir as células imunes que combatem o mesmo. Com as células T imunes do corpo restritas, o tumor é capaz de crescer e se espalhar.

No entanto, um composto produzido a partir de substâncias nas romãs, conhecido como urolitin A, emergiu como uma potência na luta contra o câncer, pois pode aumentar as células imunológicas que combatem o tumor para ajudar a combater a doença de maneira natural.

Composto de romã melhora o combate ao câncer das células imunes

Urolitina A (UA) é um metabólito de elagitaninos em romãs. Pesquisadores da Georg-Speyer-Haus em Frankfurt am Main, Alemanha, revelaram que a UA “recicla e renova as mitocôndrias” induzindo uma certa via biológica.

Suas mitocôndrias são muitas vezes chamadas de usina de energia das células devido ao seu papel na produção de energia. A UA induz um processo conhecido como mitofagia, pelo qual mitocôndrias velhas e danificadas em células T são substituídas por novas. De forma similar, a mitofagia se refere a “um processo citoprotetor que limita a produção de ERO e a liberação de proteínas intramitocondriais tóxicas.”

Em outras palavras, a mitofagia é um processo de limpeza das mitocôndrias, que permite que elas funcionem da melhor forma possível, o que é muito importante para um funcionamento normal das células e para a homeostase, e de certo modo, para a sua saúde e longevidade. O processo altera o programa genético das células T, tornando-as mais capazes de combater o tumor. Conforme um comunicado de imprensa da Georg-Speyer-Haus:

“Os pesquisadores demonstraram o potencial terapêutico da urolithin A de duas maneiras: por um lado, a urolithin A pode ser utilizada como alimento no modelo pré-clínico, o que limita o crescimento do tumor e até atua de maneira sinérgica com a imunoterapia existente.
Por outro lado, os benefícios da urolitina A também foram observados nas células T humanas. O tratamento in vitro com urolithin A 'rejuvenesce' as células T humanas, produzindo células-tronco T de memória em laboratório.”

Em um próximo ensaio clínico, o UA será utilizado em pessoas com câncer colorretal para determinar sua eficácia. O autor do estudo, Dr. Dominic Denk, do Hospital Universitário de Frankfurt, observou: “Nossas descobertas são de fato empolgantes, porque o foco não está na célula tumoral, mas no sistema imunológico, a defesa natural contra o câncer... Esperamos utilizar isso para melhorar de forma sustentável a terapia do câncer colorretal, mas também de outros tipos de câncer.”

É o segredo antienvelhecimento da Romã UA?

UA não só pode desempenhar um papel no câncer, mas também em outras doenças relacionadas à idade, que são o resultado de um acúmulo de mitocôndrias disfuncionais. “É a única molécula conhecida que pode relançar o processo de limpeza mitocondrial, também conhecido como mitofagia,” explicou Patrick Aebischer, co-autor de um estudo de 2016 a respeito da capacidade da UA de induzir a mitofagia. "É uma substância 100% natural e seu efeito é poderoso e mensurável."

Em um estudo envolvendo o nematóide C. elegans (lombrigas), o tempo de vida aumentou em mais de 45% quando os vermes foram expostos à UA. Em estudos REALIZADOS com roedores, camundongos mais velhos também experimentaram benefícios antienvelhecimento do UA, incluindo resistência 42% maior do que camundongos de controle da mesma idade.

Uma ressalva: os micróbios intestinais são necessários para metabolizar os elagitaninos, encontrados na romã, em UA. Mas com a idade, alterações no microbioma levam à redução da produção de UA. Segundo o estudo Immunity, os adultos mais velhos produzem menos da metade da UA que os mais jovens.

Estudos envolvendo formas concentradas de UA mostraram que a suplementação dietética também pode ser capaz de induzir a mitofagia e retardar a progressão de doenças relacionadas ao envelhecimento. Ensaios clínicos em humanos também têm sido promissores. Quando adultos mais velhos saudáveis, mas sedentários, receberam UA durante um período de 4 semanas, induziu uma assinatura molecular que sugeriu uma melhor saúde mitocondrial e celular.

É curioso o fato de que, em um estudo com adultos saudáveis, apenas 12% apresentaram níveis detectáveis de UA no início do estudo, mas cerca de 40% foram capazes de converter elagitaninos em UA, após a ingestão de suco de romã. Aqueles que produziram UA tiveram uma diversidade bem maior em seu microbioma intestinal, junto com uma proporção maior das bactérias Firmicutes para Bacteroides. No entanto, a suplementação com UA levou a uma exposição mais de 6 vezes ao UA em comparação com o consumo de suco de romã.

Romã e urolitina A para tratamento e prevenção do câncer

UA possui efeitos anti-inflamatórios e anticancerígenos, tornando-se um composto promissor para o tratamento e prevenção do câncer. A substância provou ser benéfica em modelos de câncer pancreático e sugere-se que possa ser útil para prevenir a supressão imunológica associada à inflamação crônica no câncer. Além disso, conforme observado em um estudo publicado na OncoTargets and Therapy:

“Estudos crescentes descobriram que a urolitina A regula de maneira negativa diversas vias tumorais no câncer de cólon, próstata e bexiga através da regulação negativa de vários oncogenes, como mTOR e K-Ras, regulação positiva de genes supressores de tumor, como p53 e EGFR.”

Esse estudo referiu-se ao UA como um “composto anticancerígeno natural” que “pode ser utilizado como candidato a uma combinação de medicamentos quimioterápicos de primeira linha para prevenir a resistência aos medicamentos.” Os pesquisadores descobriram que o UA inibiu a transição epitelial para mesenquimal (EMT), que desempenha um papel fundamental na progressão do tumor.

Uma pesquisa mais antiga já demostrou que os antioxidantes da romã são capazes de inibir a proliferação e a invasão celular, e de estimular a apoptose (morte celular programada) em várias células cancerígenas, incluindo células de câncer de mama e de próstata. Segundo os autores de um estudo de 2012 sobre câncer de próstata:

"Os resultados das análises apoptóticas implicaram que o suco de frutas pode desencadear a apoptose nas células DU145 por meio da sinalização do receptor de morte e da via de dano mitocondrial... 11 proteínas foram desreguladas em células DU145 afetadas com 3 proteínas reguladas de maneira positiva e 8 reguladas de maneira negativa.
Essas proteínas desreguladas participaram das funções citoesqueléticas, anti-apoptose, atividade da proteassoma, sinalização da NF-kB, proliferação de células cancerígenas, invasão e angiogênese...
Os resultados analíticos desse estudo ajudam a vislumbrar o mecanismo molecular pelo qual o suco da romã induz a apoptose das células cancerígenas e ajuda a desenvolver uma nova estratégia quimiopreventiva para o câncer de próstata.”

Em outro estudo, homens com câncer de próstata que beberam 250 ml de suco de romã por dia aumentaram consideravelmente o tempo necessário para ter seus níveis de PSA dobrados de cerca de 15 meses para 54 meses. Homens cujos níveis de PSA dobram em pouco tempo apresentam maiores riscos de morte por câncer de próstata e, dessa forma, os resultados sugerem que a romã apresenta poderosos efeitos de proteção. Outro estudo, publicado na PLOS Biology, explicou:

“Entre as urolitinas, o UA apresenta efeitos anticancerígenos, anti-inflamatórios e antienvelhecimento e demonstrou atividades biológicas atraentes. Os efeitos diretos do UA foram estudados em diferentes tipos de células in vitro, incluindo células de câncer colorretal e de próstata humana e células de melanoma B16. Nesses experimentos, o UA impediu de maneira consistente a proliferação e a metástase de células cancerígenas, defendendo um potencial efeito anticancerígeno do UA.”

Mais benefícios do UA: resistência muscular, antiobesidade

O UA POSSUI benefícios além do controle do câncer, incluindo a melhoria do desempenho do músculo esquelético e da saúde mitocondrial em adultos mais velhos. Em um estudo com 66 pessoas que receberam 1.000 miligramas de UA ou um placebo todos os dias durante 4 meses, o grupo UA teve uma melhora significativa na resistência muscular, com base no número de contrações musculares até a fadiga nos músculos esqueléticos das mãos e das pernas.

A proteína C-reativa, uma medida de inflamação, também diminuiu após a suplementação de UA. Os pesquisadores concluíram: “A suplementação de urolithin A a longo prazo foi benéfica para a resistência muscular e biomarcadores plasmáticos, sugerindo que a urolithin A pode neutralizar o declínio muscular associado à idade.”

Os efeitos antiobesidade do UA também devem ser destacados. O composto previne a obesidade induzida por dieta e disfunções metabólicas em modelos de roedores, sem causar efeitos adversos. Também aumenta a termogênese no tecido adiposo marrom, aumentando o gasto de energia e induz o escurecimento do tecido adiposo branco.

Isso é bom, pois a gordura marrom é uma forma benéfica de gordura que pode gerar calor e queimar glicose e gorduras por meio de uma reação mitocondrial mediada pela proteína de desacoplamento mitocondrial 1 (UCP1).

Em conjunto, os pesquisadores não apenas descreveram o UA como “um potente agente antiobesidade com potencial para aplicações clínicas humanas,” mas também detalharam benefícios adicionais além da perda de peso:

“Além do efeito antiobesidade, o UA causa uma série de efeitos metabólicos benéficos, incluindo melhora da sensibilidade à insulina e redução da inflamação sistêmica e do fígado gorduroso, que são devidos à perda de peso... O UA aumenta a produção de tecido adiposo de T3, que subsequentemente ativa a transcrição e tradução dos genes termogênicos PGC1a e UCP-1, levando a maior EE [gasto de energia] e menor peso corporal.”

Os antioxidantes da romã também ajudam a acabar com a inflamação, que contribui para a destruição da cartilagem das suas articulações, sendo um dos grandes motivos por trás da dor e da rigidez sentidas pelas pessoas com osteoartrite. Um estudo descobriu que o extrato de romã bloqueia a produção de uma enzima que destrói cartilagens.

Como consumir romã

Muitos dos polifenóis benéficos da romã, conhecidos como "a joia do outono," são armazenados na casca, sendo por isso que o pó de casca de romã é um dos meus suplementos favoritos.

Uma pesquisa demostra que a casca da romã contém mais da metade da quantidade de antioxidantes que a polpa da fruta, mais especificamente, os fenólicos, os flavonoides e as proantocianidinas, e que a capacidade de proteção das LDL contra a oxidação na casa é muito superior à polpa.

Pó de casca de romã, extrato de casca de romã e suplementos de UA são formas diferentes de obter efeitos mais concentrados deste superalimento. No entanto, muitas pessoas gostam de consumir romãs como lanche.

Você também pode polvilhar os arils (sacos de sementes cheios de suco) sobre saladas ou pratos cozidos. Dentro de cada arilo, há uma semente crocante e rica em fibras. Embora algumas cuspam as sementes, você pode consumir o arilo inteiro, com a semente e tudo mais. Para retirar os arilos, basta seguir os 3 passos abaixo, descritos pela página POM Council:

1. Corte a coroa da romã, e então corte a fruta em seções;

2. Coloque uma seção em uma tigela de água, e retire os arilos com os seus dedos (descarte todo o resto);

3. Coe a água e aproveite seus arilos inteiros, com sementes e tudo mais.