RESUMO DA MATÉRIA

  • Dados de um estudo mostraram que pessoas que tomam medicamentos com estatinas têm um risco 38% maior de desenvolver diabetes tipo 2. Os cientistas identificaram diversos fatores que podem desempenhar um papel no aumento do risco, incluindo sensibilidade à insulina prejudicada e o impacto na epigenética que influencia as características da insulina
  • Os dados divulgados no início de 2021, também mostraram que as pessoas que fizeram uso de medicamentos contendo estatinas possuem um risco aumentado de eventos cardiovasculares em todos, exceto no grupo de maior risco
  • Em uma apresentação na Universidade de Sydney e em uma revisão narrativa revisada por pares, Maryanne Demasi analisou as evidências que dividem os profissionais médicos a respeito das estatinas e mostra como, apenas revisando definições e ocultando dados, a indústria enganou os consumidores e embolsou bilhões
  • Em vez de confiar em números de colesterol que possuem pouco benefício, a menos que o total seja superior a 300, considere avaliar suas taxas de colesterol para HDL e triglicerídeos para HDL, bem como seus níveis de ferritina e gama-glutamil transpeptidase (GGT)

Por Dr. Mercola

Segundo um relatório de 2020 do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, 34,1 milhões de adultos tiveram diabetes diagnosticado ou não diagnosticado em 2018. Apenas 2 anos depois, esses números aumentaram, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, com 37,3 milhões de pessoas com diabetes diagnosticada e não diagnosticada.

Um estudo publicado no British Journal of Clinical Pharmacology, descobriram que os adultos que fizeram uso de medicamentos com estatinas para o controle dos níveis de colesterol apresentam um risco maior de desenvolver resistência à insulina e diabetes tipo 2 do que a população em geral. Pesquisadores falharam repetidas vezes em encontrar evidências de que níveis altos de colesterol são um fator de risco para doenças cardiovasculares.

Como discutimos em diversos artigos anteriores, 3 fatores (até certo ponto inter-relacionados) que têm uma influência muito maior no risco de doenças cardiovasculares até certo ponto, estão inter-relacionados. Esses são a resistência à insulina, inflamação crônica e altos níveis de ferro. É infeliz o fato de que esses fatores primários quase nunca são o foco da prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares na medicina convencional.

Em vez disso, as estatinas, também chamadas de medicamentos para reduzir o colesterol, são a defesa principal na medicina ocidental, o que levou o medicamento a ser conhecido como sendo lucrativo. Dr. Malcolm Kendrick  é um clínico geral em Cheshire, Inglaterra, e autor de 3 livros, incluindo "A Statin Nation: Danaging Millions in a Brave New Post-Health World." Ele estima que a indústria farmacêutica tenha arrecadado mais de US$ 1 trilhão (R$ 5,17 trilhões) com as estatinas.

Estatinas aumentam o risco de diabetes em 38%

Uma equipe do Centro Médico da Universidade Erasmus, na Holanda, publicou o estudo encontrado no British Journal of Clinical Pharmacology.  Os pesquisadores escreveram que diversos estudos epidemiológicos mostraram uma associação entre estatinas e diabetes, mas essa equipe procurou analisar os traços glicêmicos associados ao diabetes tipo 2.

Eles incluíram 9.535 pessoas no Estudo de Roterdã que não tinham diabetes no início do estudo. Eles acompanharam os participantes por 15 anos e descobriram que aqueles que utilizavam medicamentos contendo estatina tinham uma concentração maior de insulina sérica em jejum e resistência à insulina em comparação com aqueles que nunca utilizaram uma estatina.

Isso foi associado a um aumento de 38% no risco de desenvolver diabetes tipo 2. Os pesquisadores concluíram: “Indivíduos que utilizam estatinas podem estar em maior risco de hiperglicemia, resistência à insulina e, por fim, diabetes tipo 2. Estratégias preventivas rigorosas, como controle de glicose e redução de peso em pacientes ao iniciar a terapia com estatinas, podem ajudar a reduzir o risco de diabetes.”

É infeliz o fato de que o mecanismo pelo qual as estatinas desencadeiam o diabetes tipo 2 não foi 100% identificado e pode não estar relacionado à obesidade. Os cientistas também identificaram uma condição de saúde chamada metabolicamente obesa, mas com peso normal (MONW), que é um subgrupo da população que tem sensibilidade à insulina prejudicada e maior risco de diabetes enquanto está com peso normal.

Nessa condição, o paciente parece ter um peso normal, mas tem sensibilidade à insulina prejudicada, de modo que a redução de peso não seria um meio eficaz de reduzir o risco de diabetes tipo 2. Pesquisas recentes também encontraram os mesmos resultados, indivíduos que fizeram uso de medicamentos contendo estatinas possuem um risco maior de desenvolver diabetes tipo 2.

Os cientistas propuseram diversas razões para o aumento do risco de diabetes naqueles que fazem uso de estatinas, incluindo redução da sensibilidade e da secreção de insulina das células beta pancreáticas. Um artigo publicado no International Journal of Molecular Science em 2020, revisou os mecanismos pelos quais as estatinas parecem aumentar o risco. Esses incluíram o impacto na epigenética através da expressão diferencial de microRNAs.

Outro estud publicados no mesmo ano, investigaram o papel da epigenética comparando a metilação do DNA em pacientes que faziam uso de estatinas contra aqueles que não utilizavam. Eles reuniram evidências de 5 estudos de coorte que incluíram 8.270 participantes e encontraram evidências de que a metilação do DNA contribuiu para o efeito que os medicamentos de estatina tiveram nas características da insulina.

As estatinas também aumentam o risco de eventos cardiovasculares

Um terceiro estudo de coorte retrospectivo analisou os resultados de 13.698 pacientes que foram divididos entre usuários e não usuários de estatinas. Os participantes não apresentavam doença cardiovascular aterosclerótica ou diabetes em 2005, quando o estudo se iniciou. O grupo foi acompanhado até 2013 e avaliado quanto ao risco de diabetes tipo 2.

Os resultados revelaram que os usuários de estatinas tinham um risco muito maior de diabetes tipo 2 de início recente do que os não usuários. Os pesquisadores separaram o risco por medicação com estatina e descobriram que o uso de 5 anos estava associado a um risco maior para aqueles que faziam uso de sinvastatina (Zocor), seguido de perto pela atorvastatina (Lipitor).

Em janeiro de 2021, quando a tempestade midiática da pandemia estava em pleno andamento, um estudo foi publicado na revista Atherosclerosis, que mostrou que as pessoas que faze uso de medicamentos com estatinas possuem uma taxa maior de eventos cardiovasculares do que aqueles que não utilizavam estatinas. Isso é significativo, pois as estatinas devem reduzir a taxa de eventos cardiovasculares.

Os pesquisadores utilizaram uma pontuação de cálcio da artéria coronária (CAC), que é uma tomografia computadorizada não invasiva projetada para detectar o acúmulo de placas nas artérias coronárias. Também é chamado de pontuação de cálcio cardíaco, varredura de cálcio ou pontuação de Agatston. Essa pontuação é muito utilizada no cálculo do risco de desenvolver doença arterial coronariana. Os pesquisadores escreveram que as estatinas podem aumentar a calcificação, mas procuraram examinar a significância prognóstica da pontuação CAC com o uso de medicamentos com estatina.

Eles compararam usuários de estatinas em 28.025 pacientes com idades entre 40 e 75 anos. Cerca de 11 meses após a publicação dos resultados, Tucker Goodrich extraiu os dados brutos da Tabela 1 em uma representação gráfica que demonstrou apenas na faixa de pontuação CAC mais alta de 400 ou mais que os dados eram quase idênticos entre usuários e não usuários de estatina.

Caso contrário, aqueles que utilizaram estatinas sempre tiveram mais eventos cardíacos do que os que não utilizavam. Os pesquisadores concluíram: “A pontuação do CAC mantém uma previsão de risco robusta em usuários de estatinas, e a mudança na relação da densidade de CAC com os resultados pode explicar a relação um pouco mais fraca do CAC com os resultados em usuários de estatinas.”

Os pesquisadores reconhecem que apenas uma pontuação CAC basal era conhecida, então eles não conseguiram avaliar se as estatinas influenciam a progressão da calcificação. Os intervalos de pontuação de zero a mais de 400, onde zero é ausência de placa e baixo risco de ataque cardíaco, 100 são pacientes com doença cardíaca leve e risco moderado de ataque cardíaco e o intervalo de 101 a 400 representa quantidades modernas de placa que podem bloquear uma artéria coronária artéria.

Apesar dos dados brutos, outros propuseram que os pacientes devem apresentar mais de uma pontuação CAC expondo-os à mesma radiação que 10 raios X, pois as informações podem alterar os resultados do estudo ao mostrar que as estatinas tiveram alguns benefícios e reduziram a placa calcificada. No entanto, isso não pode mudar os números brutos que mostraram que as pessoas que faziam uso de estatinas morriam com mais frequência do que aquelas que não tomavam.

Enganado pela evidência aumenta os lucros das grandes empresas farmacêuticas

Em sua revisão narrativa revisada por pares de 2018, "Statin Wars: fomos enganados sobre as evidências?" publicado no British Journal of Sports Medicine, Maryanne Demasi, Ph.D., uma ex-especialista em ciências médicas que se tornou repórter investigativa de saúde, analisa algumas das controvérsias em andamento.

Enquanto o artigo de Demasi está atrás de um paywall, ela revisa seus argumentos em uma apresentação na Universidade de Sydney.  Entre eles está o fato de que o "império das estatinas" é construído sobre a prescrição desses medicamentos para pessoas que de fato não precisam deles e de certo modo podem sofrer efeitos colaterais sem obter nenhum benefício.

Por exemplo, alguns recomendam que as estatinas sejam administradas a todas as pessoas com mais de 50 anos, independente do nível de colesterol. Outros sugeriram triagem e dosagem em crianças pequenas. Sugestões ainda mais ultrajantes nos últimos anos incluem estatinas "'condimentos' em estabelecimentos de hambúrgueres para combater os efeitos negativos de uma refeição de fast-food" e adicionar estatinas ao abastecimento municipal de água.

Os médicos profissionais agora estão divididos em 2 campos, um dizendo que as estatinas salvam vidas e são seguras o suficiente para todos, e o outro dizendo que são em grande parte desnecessárias e prejudiciais. Como surgiu essa divisão quando todos possuem acesso às mesmas pesquisas e dados?

Demasi sugere que, para entender como os profissionais de saúde podem estar tão divididos nessa questão, é preciso seguir o dinheiro. O custo de desenvolver e obter aprovação de mercado para um novo medicamento ultrapassa US$ 2,5 bilhões (R$ 12,93 bilhões). "Uma maneira eficaz de acelerar os lucros da empresa é estender as indicações de um medicamento existente," segundo Demasi, e foi de fato isso o que ocorreu com as estatinas.

Apenas revisando a definição de "colesterol alto," que foi feita em 2000 e outra vez em 2004, milhões de pessoas tornaram-se elegíveis para o tratamento com estatinas, sem qualquer evidência de que isso as beneficiaria.

Acontece que 8 dos 9 membros do painel do Programa Nacional de Educação sobre Colesterol dos EUA responsáveis ​​por essas revisões tinham “vinculações financeiras diretas com os fabricantes de estatinas,"27 diz Demasi, e essa revelação pública semeou a primeira semente de suspeita na mente de muitas pessoas.

"A própria natureza da ciência é sua contestabilidade," observa Demasi. “Precisamos ser capazes de desafiar e desafiar outra vez os resultados científicos para garantir que sejam reproduzíveis e legítimos.” No entanto, tem ocorrido uma "nuvem de sigilo" em torno dos ensaios clínicos de estatinas, diz Demasi, já que os dados brutos a respeito dos efeitos colaterais nunca foram divulgados ao público ou a outros cientistas.

Os dados estão sendo mantidos pela Colaboração Cholesterol Treatment Trialists (CTT) na CTSU Oxford, liderada por Rory Collins, que publica meta-análises de maneira periódica dos dados inacessíveis. Embora os CTT afirmem ser uma organização independente, receberam mais de £ 260 milhões (R$ 1.545,13) de fabricantes de estatinas.

Como identificar e reduzir o risco de doença cardíaca

Como já discuti antes, é importante utilizar estratégias simples em casa para ajudar a normalizar seus níveis de colesterol e açúcar no sangue. Acredito que uma medição do colesterol total tenha poucos benefícios na avaliação do risco de doença cardíaca, a menos que o número total seja superior a 300.

Em alguns casos, o colesterol alto pode indicar um problema quando sua lipoproteína de baixa densidade (LDL) ou triglicerídeos estão elevados e suas lipoproteínas de alta densidade (HDL) estão baixas. Você vai poder avaliar melhor seu risco, observando às duas proporções abaixo, em combinação com outros fatores de estilo de vida, como testes de ferritina e gamaglutamiltranspeptidase (GGT). Para calcular suas taxas de colesterol:

  • Relação HDL/colesterol — Divida seu nível de HDL pelo seu colesterol. A proporção deve ser inferior a 5 para 1; uma proporção abaixo de 3,5 para 1 é considerada ideal
  • Relação triglicerídeo/HDL — Divida seu nível de triglicérides pelo seu HDL. Essa proporção deve ficar abaixo de 2

Porém, em vez de se concentrar no colesterol, existem dois testes muito mais importantes para avaliar o risco de DCV. Esses são os testes de ferritina sérica e gamaglutamiltranspeptidase (GGT).  O teste GGT pode ser utilizado como marcador de triagem para excesso de ferro livre, sendo um ótimo indicador do risco de morte súbita cardíaca.

Pesquise a respeito antes de fazer uso de estatinas

Antes de considerar o uso de estatinas para reduzir o nível de colesterol na esperança de reduzir os eventos cardiovasculares, é importante fazer sua lição de casa. Uma revisão sistemática  publicada em 2015, avaliou os resultados de 11 ensaios com estatinas onde os pacientes foram acompanhados entre 2 e 6,1 anos.

Os resultados mostraram que a morte foi adiada entre 5 dias negativos (o que significa que morreram 5 dias antes do grupo controle) e 19 dias em ensaios de prevenção primária, onde as estatinas foram o principal meio utilizado para prevenir doenças cardiovasculares. Em outras palavras, o tempo de vida daqueles que fizeram uso de estatinas foi 5 dias menor do que o grupo controle e até 19 dias a mais.

Nos testes de prevenção secundária, a morte foi adiada entre 10 e 27 dias negativos. O aumento na expectativa de vida nos estudos de prevenção primária foi de 3,2 dias e, nos estudos de prevenção secundária, de 4,1 dias. Em outras palavras, as pessoas que fizeram uso de estatinas viveram de 3,2 dias a 4,1 dias a mais do que o grupo controle.

Essa é uma descoberta de fato surpreendente, considerando que as pessoas utilizam esses medicamentos por anos e até décadas, mesmo que estejam associados a diversos efeitos colaterais sérios que podem acabar com a qualidade de vida.

Continuam a aumentar as evidências de que as empresas farmacêuticas patrocinaram a pesquisa sobre o cetim e as relações públicas resultantes não são confiáveis, e que poucas das milhões de pessoas que utilizam essas drogas obtêm algum benefício delas. Para saber mais consulte “Estatinas são mais prejudiciais do que benéficas".