RESUMO DA MATÉRIA

  • Cogumelos são ricos em ergotioneína e glutationa, que são poderosos antioxidantes. A ergotioneína pode ser a solução para ligar o solo saudável a alimentos saudáveis, levando assim as pessoas à ficarem mais saudáveis
  • Práticas agrícolas regenerativas produzem plantas com níveis mais altos de ergotioneína e o gado de fazendas regenerativas tinham proporções mais baixas de ácidos graxos ômega-6 e ômega-3
  • Embora nem todos consuma cogumelos, todo mundo possui ergotioneína em seu corpo, o que está relacionado a menores incidências de doenças neurodegenerativas. Os testes também mostram que as culturas absorvem a ergotioneína dos fios de micélio fúngico
  • As práticas agrícolas regenerativas evitam o lodo de esgoto, pesticidas tóxicos e sementes transgênicas e, em vez disso, praticam estratégias que protegem a saúde do solo, reduzem o uso da água, previnem a erosão do solo e reduzem a exposição a doenças transmitidas por alimentos e doenças resistentes a medicamentos

Por Dr. Mercola

Cogumelos têm sido utilizados na medicina tradicional por décadas. Mas foi somente em 1970 que os cogumelos foram, de forma oficial, distinguidos da flora e reconhecidos em seu próprio reino biológico.

Pesquisadores descobriram que os filamentos fúngicos que existem abaixo da superfície do solo desempenham um papel fundamental na promoção de alimentos saudáveis. Esses fios são chamados de micélio e fazem parte da fase reprodutiva dos fungos. O crescimento do micélio pode quebrar a lignina encontrada no material vegetal, melhorar o solo ou alertar as plantas sobre um ataque iminente. De fato, o micélio tem sido descrito como “a internet da floresta, a teia da madeira, o arquétipo da comunidade.”

Aqueles que estudam fungos acreditam que eles estão mais próximos dos animais do que das plantas. O aminoácido que ligou o solo saudável a pessoas saudáveis é a ergotioneína, encontradaem cogumelos. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, em média, as pessoas consomem cerca de 3 quilos de cogumelos frescos todos os anos.

Cogumelos são ricos em antioxidantes ergothioneine e glutationa. Um artigo na revista Molecules escreveu sobre o aminoácido ergotioneína no corpo humano: "ET [ergotioneína] está concentrado nas mitocôndrias, sugerindo um papel específico na proteção de componentes mitocondriais como o DNA, de danos oxidativos."

Cogumelos também possuem elevados níveis de glutationa, importante para a desintoxicação de metais pesados e outros contaminantese também chamado de “o antioxidante mestre.” Um pesquisador do Penn State Center for Plant and Mushroom Products for Health disse:

“O que descobrimos é que, sem dúvida, os cogumelos são a maior fonte alimentar desses dois antioxidantes [ergotioneína e glutationa] tomados em conjunto, e que alguns tipos são embalados com os dois.”

Os pesquisadores vêm estudando a relação entre o consumo de cogumelos e uma variedade de condições de saúde. Robert Beelman, do Penn State Center for Plant and Mushroom Products for Health, aponta que em países onde as pessoas possuem mais ergotioneína em sua dieta, os pesquisadores descobriram:

“... “… Têm menor incidência de doenças neurodegenerativas, enquanto pessoas em países como os Estados Unidos, que tem baixa quantidade de ergotioneína na dieta, têm maior probabilidade de desenvolver doenças como mal de Parkinson e mal de Alzheimer.”

Os pesquisadores não têm certeza se isso é correlação ou causalidade, mas a força das evidências é suficiente para sugerir que a ergotioneína é uma parte necessária para otimizar a saúde e o bem-estar.

Solo saudável = alimento saudável = pessoas saudáveis

Diz a lenda que o fundador do Instituto Rodale e promotor da agricultura orgânica escreveu certa vez “Solo Saudável = Alimento Saudável = Pessoas Saudáveis” em um quadro-negro. Embora o conceito seja lógico, os cientistas não haviam feito uma conexão comprobatória até há pouco tempo.

O Civil Eats conversou com David Montgomery, geomorfologista da Universidade de Washington, e sua esposa Anne Biklé, que juntos escreveram o livro “What Your Food Ate.” O livro investiga a ciência por trás da saúde do solo e como isso afeta a saúde das culturas, do gado e do consumidor final, os seres humanos.

Montgomery acredita que “de certa forma, a ciência vem alcançando a ideia,” que Rodale propôs há mais de 50 anos. Em sua pesquisa para o livro, Montgomery e Biklé estudaram os produtos de 9 pares combinados de fazendas regenerativas e convencionais.

Seus resultados foram publicados na Environmental Science, 27 de janeiro de 2022. A equipe mediu oito pares de fazendas regenerativas e convencionais em oito estados dos EUA. Cada fazenda regenerativa foi emparelhada com uma fazenda convencional vizinha que plantou a mesma variedade de cultura. As fazendas regenerativas combinavam plantio direto, rotações diversas e culturas de cobertura.

Como você poderia esperar, eles descobriram que os produtos de fazendas regenerativas eram muito mais saudáveis, testando níveis mais altos de certos minerais, vitaminas e fitoquímicos. Uma comparação do nível de ácidos graxos insaturados em carne bovina e suína criada em uma fazenda regenerativa com umaconvencional, revelou que a carne de uma fazenda regenerativa tinha níveis mais altos de gorduras ômega-3 e uma proporção menor de gordura ômega-6 para ômega-3. Eles concluíram:

“Apesar de pequenos tamanhos de amostra, todas as 3 comparações de culturas mostram diferenças nas concentrações de micronutrientes e fitoquímicos que sugerem que a saúde do solo é uma influência subestimada na densidade de nutrientes para fitoquímicos que não são considerados nutrientes, mas ainda assim relevantes para a prevenção de doenças crônicas.
Da mesma forma, as práticas de pastoreio regenerativo produziram carne com melhor perfil de ácidos graxos do que as marcas convencionais e regionais de promoção da saúde. Juntas, essas comparações oferecem suporte preliminar para a conclusão de que as práticas agrícolas regenerativas de construção do solo podem melhorar o perfil nutricional de alimentos vegetais e animais cultivados de forma convencional.”

Os fungos podem ser a conexão?

Embora nem todo mundo consuma cogumelos, todo mundo possui ergotioneína em seu organismo. É importante ressaltar que os cogumelos são a principal fonte alimentar de ergotioneína. Beelman começou a fazer a pergunta, que se nem todos consomem cogumelos, então como estão recebendo ergotioneína em seus organismos?

A ergotioneína é sintetizada apenas por algumas bactérias e fungos. Os cientistas o encontraram em quase todos os tecidos humanos e fluidos corporais e o reconhecem como um poderoso antioxidante. Níveis baixos também foram medidos em algumas doenças, o que sugere que uma deficiência pode desencadear alguns processos de doença.

Beelman e seus colegas levantaram a hipótese de que a ergotioneína dos cogumelos estava sendo absorvida pelas plantações através da associação subterrânea com o micélio. A ergotioneína pode ser encontrada no corpo de frutificação dos fungos, do cogumelo e ao longo do micélio.

Quando os animais se alimentam de plantas ricas em ergotioneína, ela entra na carne. Beelman levantou a hipótese de que pode ser assim que o aminoácido é encontrado em toda a população humana.

Eles colaboraram com o Instituto Rodale para medir os níveis de ergotioneína na aveia e separaram as colheitas com base na intensidade com que o solo foi cultivado. Os agricultores convencionais utilizaram a lavoura para ajudar a preparar o solo para o plantio e para matar as ervas daninhas. A desvantagem é que afeta de forma negativa a saúde do solo de várias maneiras:

  • A lavoura quebra a estrutura do solo que fornece uma estrutura e evita o escoamento.
  • Aerar o solo aumenta a atividade biológica e a rápida decomposição da matéria orgânica, que libera CO2.
  • A lavoura destrói o habitat dos microorganismos que vivem nos primeiros cinco centímetros da superfície do solo, que desempenham um papel importante na decomposição da matéria orgânica e na ciclagem de nutrientes. Isso inclui a redução da biomassa fúngica.
  • A lavra torna o solo mais vulnerável à compactação, o que, por sua vez, reduz a água, o ar e o espaço para as raízes das plantas e os organismos do solo.

Os resultados não foram surpreendentes. Os dados mostraram que a aveia cultivada em terras cultivadas de forma convencional tinha 33% menos ergotioneína do que os grãos cultivados em plantio direto. A equipe passou a fazer uma análise semelhante de como a lavoura pode afetar os níveis de ergotioneína em soja, milho e aveia. Os resultados revelaram que as concentrações de ergotioneína aumentaram à medida que a intensidade do cultivo da terra diminuiu.

Ao falar com a Civil Eats, Beelman acredita que isso demonstra uma ligação coesa do solo à cultura com a saúde humana. “Quando você lavra o solo, reduz a quantidade de ergotioneína que entra na plantação. Ninguém havia mostrado uma conexão específica. Acho que isso sim”, disse.

Práticas regenerativas protegem o solo e previnem a erosão

As práticas agrícolas regenerativas vão muito além de evitar lodo de esgoto, pesticidas tóxicos e sementes de OGM. Em vez disso, o manejo regenerativo da agricultura e pecuária é o próximo estágio da agricultura orgânica e ajuda a regenerar a saúde ambiental, prestando atenção à saúde do solo e animal, ao clima e à subsistência rural.

O membro do comitê diretor da Regeneration International, Vandana Shiva, coloca dessa forma: “A agricultura regenerativa fornece respostas para a crise do solo, a crise alimentar, a crise climática e da democracia.”

Regeneração Internacional foi fundada em 2014 e anunciada em uma coletiva de imprensa durante uma grande marcha climática na cidade de Nova York. O objetivo da organização é mudar de forma fundamental a conversa sobre a crise climática e incorporar alimentos regenerativos e orgânicos, agricultura e uso da terra no diálogo.

Em última análise, a agricultura regenerativa vê a gestão da terra como uma rede que deve nutrir as pessoas e o meio ambiente. As práticas podem diferir de região para região, mas os princípios fundamentais são construídos em um sistema dinâmico que visa restaurar a terra, abordar a desigualdade e deixar a água, a terra e o clima em melhores condições para as próximas gerações.

As práticas agrícolas regenerativas concentram-se em melhorar a saúde do solo, sequestrando carbono utilizando práticas de plantio mínimo ou plantio direto e plantio de culturas de cobertura. Cada uma dessas estratégias ajuda a melhorar o rendimento da terra e a nutrição das culturas cultivadas. As culturas de cobertura são plantadas para ajudar a proteger o solo da erosão e inibir o crescimento de ervas daninhas. Isso também reduz a necessidade de herbicidas.

As culturas de cobertura são plantadas de forma principal em campos que, de outra forma, não teriam uma cultura comercial plantada. Eles aumentam a biodiversidade e podem atuar como uma cobertura viva para reduzir o crescimento de ervas daninhas. Outras práticas incluem rotação de culturas e diversidade, que está muito longe da prática de plantio de monoculturas por agricultores convencionais.

A rotação de culturas ajuda a repor os nutrientes removidos do solo quando você replanta a mesma cultura. Fazendas regenerativas também podem incorporar gado, permitindo que eles pastam em terras agrícolas quando as culturas de cobertura estão crescendo. Isso varia a dieta do animal, aumenta a ingestão de nutrientes e é bom para o solo.

Principais razões para apoiar práticas agrícolas regenerativas

Como Beelman e seus colegas mostraram, a saúde do solo em que seu alimento é cultivado está relacionada de forma direta à sua saúde. Isso levanta a questão de como o crescente mercado de agricultura em armazém poderia atender às suas necessidades nutricionais. Alguns fabricantes estão produzindo prédios pré-fabricados, luzes de LED específicas para plantas e torres de 20 pés para cultivar frutas e vegetais.

A produção utiliza sensores para otimizar água, luz e temperatura, e os produtores alegam que não utilizam nem precisam de fertilizantes sintéticos, herbicidas, pesticidas ou sementes transgênicas. Alguns afirmam que os rendimentos são muito maiores do que nas fazendas tradicionais. E enquanto a Successful Farming acredita que o único componente ineficiente é o uso de eletricidade como Beelman demonstrou, o cultivo de plantações não é apenas sobre o tamanho da planta que aparece acima do solo.

Em 2014, Maria-Helena Semedo, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, alertou que, com a taxa atual de degradação do solo superficial, todo o solo superficial do mundo desaparecerá em menos de 60 anos. Nesse ponto, o cultivo de alimentos se tornará quase impossível.

A boa notícia é que existem muitas razões para optar por apoiar os agricultores regenerativos e as culturas que eles produzem, ou optar por práticas regenerativas em sua própria horta em casa. A prática ajuda a reconstruir o solo superficial, essencial para o cultivo.

As práticas agrícolas regenerativas também ajudam a proteger as fontes de água e a reduzir a demanda de água agrícola. As práticas agrícolas convencionais promovem o desperdício de água por meio da irrigação por inundação e a destruição da qualidade do solo. Como resultado, 1/3 dos maiores aquíferos subterrâneos já estão quase esgotados, pois estamos extraindo água em um ritmo muito mais rápido do que os aquíferos podem reabastecer.

Montgomery e Biklé mostraram em seu pequeno estudo de amostra que os animais que pastavam em fazendas regenerativas produziam carne com menor proporção de ômega-6 para ômega 3. Outro benefício é o menor risco de doenças transmitidas por alimentos e doenças resistentes a medicamentos em gado de fazenda regenerativo. Na realidade, todos os alimentos associados ao maior número de doenças transmitidas por alimentos são criados em fábricas, sendo o primeiro deles o frango CAFO.

Entre 2009 e 2015, foram registrados 5.760 surtos transmitidos por alimentos nos EUA, resultando em 100.939 doenças, 5.699 hospitalizações e 145 mortes. Desses, o frango foi responsável por 12% de todas as doenças,

A razão pela qual a contaminação com micróbios resistentes a medicamentos é comum em CAFOs é a dependência e o uso excessivo de antibióticos no gado. Os padrões orgânicos alimentados com capim, por outro lado, não permitem o uso de antibióticos, razão pela qual a carne bovina alimentada com capim tem menos probabilidade de ser contaminada com bactérias resistentes a medicamentos.

Tire um tempo para ir além do 'muito pouco, muito tarde'

A agricultura regenerativa previne a poluição ambiental e restaura os ecossistemas danificados, além de beneficiar o agricultor e ajudar a construir economias locais sustentáveis. Solo saudável, plantas saudáveis, animais, pessoas, sociedade e clime saudável, nossa saúde física e econômica, nossa própria sobrevivência como espécie, está ligada de forma direta ao solo, à biodiversidade e à saúde e fertilidade de nossos sistemas alimentares e agrícolas.

A agricultura orgânica regenerativa e o uso da terra podem nos levar de volta ao equilíbrio, de volta a um clima estável e a um ambiente de suporte à vida.

É hora de ir além das práticas agrícolas degeneradas, uso da terra, políticas de energia, política e economia. É hora de ir além das estratégias de mitigação e sustentabilidade "muito pouco, muito tarde" alimentadas por "oportunidades verdes" para cultivar plantas sem luz solar e produzir carne sem animais. É hora de inspirar e mobilizar um exército global de agricultores regenerativos antes que seja tarde demais.